A cada dois minutos, cinco mulheres são espancadas no Brasil. Em 80% dos casos, o responsável pela agressão é o próprio parceiro (marido, namorado ou ex) com quem convive diariamente, segundo a pesquisa Mulheres Brasileiras nos Espaços Público e Privado (FPA/Sesc, 2010). Estes dados alarmantes podem aumentar e devem causar mais preocupação durante o período que estamos vivenciado, de quarentena, recomendado para conter a pandemia do novo coronavírus.
Segundo a neuropsicóloga Roselene Espírito Santo Wagner, os dados apontam para o aumento de casos de Violência Doméstica, neste momento. Somente no Rio de Janeiro houve um aumento de 50% de casos de violência doméstica durante este período de confinamento, que ainda está no início.
A especialista explicou que, diante desse momento ímpar na história recente, nem mesmo aqueles que trabalham com prevenção de violência de gênero estavam preparados para interromper o ritmo normal do nosso cotidiano para combater um inimigo microscópico, a Covid-19, que fez boa parte da população ficar em casa para conter o aumento da curva de contágio e proteger principalmente os idosos e outras pessoas do grupo de risco da doença.
“Se por um lado nos afastamos voluntariamente do convívio social, por outro nos expomos a um excesso de convívio familiar. Que em alguns, despertou o sentimento de confinamento, de exclusão, exacerbando a agressividade, que antes era liberada, de forma criativa nas relações e programas sociais”, explicou.
Ainda segundo Roselene, são vários os estudos que associam o isolamento social a perturbações internalizadas como ansiedade, fobias, hipocondria, TOC, depressão, ideação suicida e agressividade.
“É de suma importância as interações sociais para o desenvolvimento dos laços afetivos, do prazer da companhia, do desenvolvimento cognitivo, para a introjeção das normas e leis sociais. No excesso de convívio familiar, na grande maioria em apartamentos, maridos e esposas, estão dividindo além do espaço físico, a dinâmica da casa com os filhos, no mesmo cenário. Isso potencializa os conflitos e confrontos que estavam latentes, tornando-os agora manifestos”, disse.
A neuropsicóloga aponta que é momento de manter a sanidade mental, através do equilíbrio emocional e, se for necessário, buscar ajuda, lembrando que as delegacias e o serviço de polícia não foram adiados, sendo considerados essenciais, assim como supermercados e hospitais.
Em briga de marido e mulher se mete sim a colher! Se você notar algum comportamento agressivo de seus vizinhos, ligue para 180 e faça a denúncia.
Heloíse Fruchi, instrutora do projeto Icamiaba – Autodefesa e Arquitetura Corporal para Mulheres e LGBTQIs e mestre em Antropologia e Gênero pela USP, orienta pessoas agredidas em situação de violência doméstica.