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sexta-feira 22 novembro 2024
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Vida espiritual e compromisso terreno

A vida espiritual possui uma dimensão de transcendência e imanência. Toda pessoa que almeja trilhar um caminho espiritual deve sempre levar em conta estas duas importantes vertentes. A oração (vida espiritual) abre a pessoa para o céu sem fechá-la para a terra. Abertura para o céu, ou melhor, para a transcendência, não quer dizer fechamento para tudo o que é terreno.
A mística Santa Teresa de Ávila para falar do equilíbrio entre o céu e a terra, entre transcendência e imanência recorre a uma imagem assim descrita: “Os pés na terra e a cabeça no céu”. O homem e a mulher espiritual vivem com os pés no chão e a cabeça voltada para Deus. Sabem conjugar perfeitamente a fé (céu) e a vida (terra).
A vida espiritual é não fechamento, intransigência, menos ainda autismo. É, bem ao contrário, fluidez, doação e abertura.
Hoje, há uma busca quase que desenfreada por uma vida uma vida espiritual ou por um caminho de santidade, porém é uma busca que acaba muitas vezes fechando, ou seja, alienando a pessoa de sua relação de terrenidade. Então temos pessoas alienadas que tudo cheira a espiritual. Falam em demasia do pecado e da culpa, mas esquecem que “ onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Rm 5,20). No cristianismo graça é muito maior e muito mais importante que o pecado.
Uma espiritualidade sem Espírito e sem vida, uma espiritualidade virtual, conceitual, jamais iluminou, esclareceu, despertou, fez viver alguém.
Olhando para os mestres espirituais de todos os tempos não encontramos um sequer que esqueceu a dimensão de ser no mundo. Eles não fugiram com medo do mundo. Foram pessoas que souberam viver uma profunda relação de alteridade, isto é, de inter-relação com as pessoas e o mundo. Aprenderam a se amar para amar os outros. Possuíam um senso de abertura tanto para a transcendência quanto para a imanência.
A vida espiritual é abertura para Deus, mas sobretudo abertura para o ser humano, especialmente aquele que vive em situações de degradação no submundo da exclusão social.
Não existe vida espiritual verdadeira quando negligenciamos nossa condição de seres humanos enraizados na terra.