• Rogério Miguez
De A a Z ou seja de “Abaddon” da mitologia cristã a “Zulu Bangu” da mitologia africana há mais de 200 codinomes para designar os “demônios”. Entretanto, sabemos que os “demônios”, como são caracterizados pela teologia decrépita, não são criaturas reais. Conforme o senso comum, a expressão “demônios” significa seres essencialmente perversos e seriam, como todas as coisas, criação de Deus. Ora, Deus que é soberanamente justo e bom não poderia ter criado Espíritos predispostos ao mal para toda a eternidade.
O Espiritismo nos faz distinguir a natureza e a origem desses “demônios”, a partir do princípio de que todos os seres humanos foram criados simples e ignorantes, portanto, imperfeitos, sem conhecimentos e sem consciência do bem e do mal. Pela Lei de evolução todos nós, sem qualquer exceção, conseguiremos alcançar a relativa perfeição e gradualmente desenvolveremos virtudes, a fim de avançarmos na hierarquia espiritual até alcançarmos a plena felicidade na “angelitude”.
Além disso, sobre os famigerados “coisas-ruins”, o Codificador do Espiritismo nos ensina que eles [os “demônios”] são nossos irmãos, porém são Espíritos que ainda se encontram moralmente nas classes inferiores, todavia, chegará um dia em que se cansarão dos sofrimentos e compreenderão a necessidade de bancarem o bem.
Os “demônios” devem, portanto, ser entendidos como referentes aos Espíritos impuros, que frequentemente não são melhores que os designados por esse nome, mas com a diferença de serem os seus estados tão-somente transitórios. Na verdade eles são os Espíritos imperfeitos que resmungam contra as suas provações e por isso as sofrem por mais tempo, entretanto chegarão livremente à perfeição, quando se dispuserem a isso.
Se existissem “demônios”, eles seriam criação de Deus, ora, o Senhor da vida seria justo e bom se tivesse criado seres devotados eternamente ao mal e infelizes? Se há “demônios”, descreveram os Benfeitores do além a Allan Kardec, “eles habitam em teu mundo inferior e em outros semelhantes. São esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo, um Deus mau e vingativo e creem lhe serem agradáveis pelas abominações que cometem em seu nome”.[1]
O vocábulo demônio não implica na ideia de Espírito mau senão na sua acepção contemporânea, porque a terminologia grega Daimon, da qual se origina, significa, “Deus”, “poder divino”, “gênio”, “inteligência”, e se utiliza para indicar os seres incorpóreos, bons ou maus, sem distinção. Porém, há pessoas que acreditam no poder maléfico do “Príncipe das Trevas” e até o enaltecem em suas igrejas. Não me surpreenderia se fossem fechadas muitas igrejas se os seus dirigentes deixassem de acreditar em Satanás. (Pasme!)
Os antigos e modernos sacerdotes fizeram e fazem com os “demônios” o mesmo que com os “anjos”. Do mesmo modo que arquitetaram a imagem de seres perfeitos desde toda a eternidade, construíram igualmente os Espíritos inferiores por seres perpetuamente maus. Os partidários da “doutrina dos demônios” se apoiam nas cridas repreensões do Cristo. Chegou-se ao absurdo de criar o instituto do exorcismo para afugentamento de tais entidades.
Amparados no alarido beneditino “vade retro Satã! ”, os exorcistas exortam os espíritos demoníacos a saírem do corpo dos possessos, valendo-se igualmente da invocação do nome de Deus, de Cristo e todos os anjos. E ao final dos extenuantes berreiros e invocações, sempre sob o arrimo da “reza brava” e “água benta”, o resultado aparentemente surge de forma rápida, mas sem sustento duradouro.
Inexplicavelmente há instituições “espíritas” que promovem sessões de “desobsessão” (ou seria exorcismos?), que consideram mais “fortes” e com efeitos “imediatos”, conforme garantem seus realizadores, contudo lamentavelmente nesses estranhos “tratamentos espirituais” (ou descarrego?) são normatizados exclusivamente um procedimento coercivo, o “banimento” instantâneo e transitório do obsessor. Mas será que esse rápido afastamento espiritual é possível? Ora, é obvio que não, pois é impossível “rebentar, de um instante para outro, algemas [mentais] seculares forjadas nos compromissos recíprocos da vida em comum?”[3] Impossível, mesmo!
Os espíritas compreendem que os cognominados, “capetas”, “coisa-ruim”, “lúcifer”, “diabo”, “satanás”, “satã”, “cão”, “demo”, “besta” e outros “demônios” que reverberam na mente do povo, não são seres votados por Deus à prática do mal, e sim seres humanos desencarnados que se desequilibraram em atitudes infelizes perante a vida. “Na raiz do problema encontramos a necessidade de considerar os chamados “espíritos das trevas” [demônios] por irmãos verdadeiros, requisitando compreensão e auxílio, a fim de se remanejarem do desajuste para o reequilíbrio neles mesmos.” [2]
Referência bibliográfica:
[1] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 131, RJ: Ed. FEB, 2001
[2] XAVIER Francisco Cândido. Caminhos de Volta, ditado por espíritos diversos, SP: edição GEEM, 1980
[3] XAVIER, F. C. Missionários da Luz, pelo Espírito André Luiz. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1970.
Vade retro obsessor ou baldios “descarregos”?
out 16, 2018Bruno FonsecaColuna Espírita (Agê)Comentários desativados em Vade retro obsessor ou baldios “descarregos”?Like
Previous PostEscola da Beleza oferece 20 vagas para curso de maquiagem social e artística
Next PostUm mito que vale a pena conhecer