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quinta-feira 28 novembro 2024
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Um “médium curador” [não espírita] e o rebuliço na mídia global

• Jorge Hessen
A TV Globo entrevistou mulheres que acusaram o “médium” [não espírita] João de Deus sobre as violações sexuais que teriam sofrido quando buscaram tratamento espiritual na “Casa Dom Inácio de Loyola”, localizada em Abadiânia/Goiás. São três brasileiras que pediram anonimato e da coreógrafa holandesa Zahira Lieneke Mous, esta aceitou mostrar o rosto na televisão.
Em nota à TV Globo a assessoria de imprensa do “médium” [não espírita] afirmou que as acusações são “falsas e fantasiosas” e questiona o motivo pelo qual as vítimas não procuraram as autoridades. Ainda afirma que a situação é lamentável, uma vez que o Médium [não espírita] João é uma pessoa de “índole ilibada” (sic).
Após repercussão nacional da notícia, a Federação Espírita Brasileira emitiu uma pequena nota sobre atuação de médiuns curadores, declarando que o Espiritismo orienta que o serviço espiritual não deve ocorrer isoladamente, em face disso, não recomenda a atividade de médiuns que atuem em trabalho individual, por conta própria. Esclarece ainda que tais médiuns “curadores” [dentre eles o (não espírita) “João de Deus”] não estão vinculados ao Movimento Espírita, nem seguindo sua recomendação.1 “Oh, meno male!”
Há 5 anos, a Revista VEJA publicou matéria sob o título: “A face humana do mais endeusado médium brasileiro”2, o periódico destacou a capacidade do médium [não espírita] João de Deus de atrair gente do mundo inteiro. Afirma a reportagem que o “santificado médium” vive o cotidiano sob o manto da contradição entre o “espírito e a carne”, a “cura e a doença”, o “desprendimento e a vaidade”, os gestos de “generosidade, os arroubos de cólera” e os negócios terrenos3 [é milionário], os amores [tem onze filhos com dez mulheres diferentes]. (grifei) A cada dois anos o “curandeiro-endeusado do cerrado” troca a frota de carros da família. O dele era um Mohave Kia, avaliado em 2013 em 170.000 reais”.4
A mediunidade não guarda relação com a retidão moral do médium; funciona independentemente da qualidade de honradez. Contudo, os médiuns de tais “cirurgiões do além” sempre seduzem grande número de fregueses, estabelecendo, não raro, com a mediunidade, uma polpuda fonte de captação de dólares e reais.
Em 2013 a instituição dirigida por tal “deus da mediunidade de cura” “teve um faturamento de aproximadamente 7,2 milhões de reais, levando-se em conta somente a venda de passiflora, preparado à base de maracujá, produzido ali mesmo, comercializado à época a bagatela de 50 reais o frasco e receitado a uma média de 3.000 visitantes semanais.”.5
É lamentável que os médiuns invoquem “Espíritos” para que lhes sirvam como “cirurgiões do além” retalhando e perfurando corpos físicos em nome de “operações espirituais”, prescrevendo placebos.
Constrangedora tendência a de subestimar a contribuição da medicina humana, buscando Espíritos “curandeiros do além” (preferencialmente com nome de santos, ou com sotaque germânico ou hindu) para que “curem” doenças. Lembremos que precisamos “aproveitar a moléstia como período de lições, sobretudo como tempo de aplicação de valores alusivos à convicção religiosa. A enfermidade pode ser considerada por termômetro da fé”.6
É possível a intervenção dos desencarnados nos processos terapêuticos na Terra, mas não se pode dar prioridade a esse tipo de trabalho, na suposição de curas ou na falsa ideia de fortalecimento do Espiritismo por esses meios. Lembramos que o Espírito do “Dr. Fritz” quis operar Chico Xavier, em 1965, através do médium [não espírita] Zé Arigó: – “Eu te ponho bom desse olho. Faço-te a cirurgia agora! Pronunciou Arigó, e Chico Xavier respondeu-lhe: – “Não, isso é um reflexo do passado. Eu sei que o senhor pode consertar o meu olho. Mas como o compromisso do passado continuará, vai aparecer-me outra doença. Como eu já estou acostumado com essa, eu a prefiro. Por que eu iria querer uma doença nova?
Os Espíritos não estão à disposição para promover curas de doenças. É urgente não abrirmos mão da precaução! Ainda mesmo que o excesso em tudo seja ruinoso. Kardec endossa nossa atitude dizendo que “vale mais pecar por excesso de prudência do que por excesso de confiança”.7
1 http://www.febnet.org.br/blog/geral/noticias/feb-esclarece-sobre-at… acesso 08/12/2018
2 http://vejabrasil.abril.com.br/brasilia/materia/joao-do-ceu-e-da-te… acesso em 14/09/2013
3 Suas economias vêm do garimpo. Ele é dono de fazendas na região, é proprietário de apartamentos em Brasília, Goiânia, Anápolis e Abadiânia, segundo a Revista Veja
4,5 http://vejabrasil.abril.com.br/brasilia/materia/joao-do-ceu-e-da-te… acesso em 14/09/2013
6 VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita, Ditado pelo Espírito André Luiz, Cap.35
7 KARDEC, Allan. Viagem Espírita-1862, Brasília, Ed. Edicel, 2002, pág. 33