• Waldenir Cuin – Votuporanga/SP
“Do que plantares, colherás” (Paulo Gálatas, 6:7)
A sessão mediúnica foi aberta. A primeira comunicação trouxe um Espírito altamente revoltado, agressivo, demonstrando imenso descontentamento com o grupo que o recebia.
– Eu odeio vocês. Estão atrapalhando a execução dos meus planos. Tracei uma meta de vingança e agora que me aproximei daqueles que me vitimaram, as ações desse grupo estão impedindo que concretize meus objetivos. Não consigo entender, quando organizaram aquela tragédia ninguém me ajudou, agora saem em socorro deles. Onde está a justiça? Quero vingança, vingança…
– Calma meu irmão, interveio o orientador do grupo mediúnico, antes de tudo vamos confiar em Deus…
– Confiar em Deus? Onde estava Deus quando me agrediram?
– Meu irmão Deus está sempre presente e conosco, mas nem sempre estamos com Ele. Asserene o seu coração, vamos conversar. Para tudo tem uma explicação. A justiça Divina é perfeita. Queremos ajuda-lo, não cercear seu livre arbítrio.
– Ajudar? Impedindo a realização dos meus planos? Há cinquenta anos, eu era um homem maduro, possuidor de muitos bens materiais e de um bom seguro de vida. Conheci uma jovem e me encantei com ela, acabei apaixonado e sentia que ela também correspondia aos meus encantos. Eu a amei intensamente ao ponto de me casar com ela de conformidade com os dispositivos legais. Não quis uma união clandestina, pois identificava os meus sentimentos e acreditava nos sentimentos dela.
Vivemos um bom tempo com grande alegria e contentamento, mas numa tarde fatídica ao retornar para casa fui assaltado e nesse episódio perdi a minha vida física. Retornei ao mundo espiritual em total desespero, caminhei por vielas sombrias dentro do inconformismo e revolta. Tempos depois passei a procurar pela causa de tal acontecimento e eis que, estarrecido, descobri que minha própria esposa, em conluio com o chefe de polícia local tramou a minha morte.
Juntaram-se para usurpar os meus bens, pois para um chefe de polícia não seria difícil ocultar os autores desse bárbaro crime. Olha como eu estou, um verdadeiro farrapo humano, destroçado, desfigurado, enquanto ela segue esbelta, bonita como sempre. Não tenho razão no meu desejo de vingança?
– Nos comove muito ouvir o seu triste relato, meu irmão, mas ela não está como você a vê. Você guardou, na mente, a imagem de cinquenta anos atrás. Na verdade, para ela também passou o mesmo tempo. Observa agora o quadro que o nosso benfeitor lhe apresenta. Essa que vê agora é aquela criatura a que você se refere, ao lado do homem que se uniu a ela para a trama que relatou. Verifique em que situação eles estão. Eles sim são verdadeiros farrapos humanos, colhendo hoje os reflexos das ações daquele dia. Doentes, abandonados à mercê da caridade alheia. É a lei da ação e reação meu irmão…
O Espírito ao identificar aquelas criaturas na penúria em que se encontravam, abrandou um pouco sua disposição de vingança. Bastou isso para que sua mãe que estava presente na sessão mediúnica se fizesse visível e, abraçando-o, ambos em lágrimas, foi possível socorre-lo. A partir daquele instante aquela mãezinha feliz acolheu no colo o filho amado que começava sua jornada de redenção.
“Do que plantares, colherás” (Paulo Gálatas, 6:7). Muitos processos obsessivos nascem dos desequilíbrios morais que cultivamos. Dentro da lei de causa e efeito, sempre estaremos defrontando com os reflexos do que fazemos. Assim sendo, vigiemos nossas atitudes e sempre façamos o bem.
“Busque agir para o bem, enquanto você dispõe de tempo. É perigoso guardar uma cabeça cheia de sonhos, com as mãos desocupadas”.
(André Luiz/Chico Xavier, no livro “Ideias e Ilustrações”).
“Nas provações e conflitos do lar terrestre, quase sempre, estamos pagando pelo sistema de prestações, certas dívidas contraídas por atacado”.
(André Luiz/Chico Xavier, no Livro “Sinal Verde”).