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sexta-feira 15 novembro 2024
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Tropas e Tropeiros em Taubaté

Segundo ELLIS JÚNIOR, “o muar platino já era uma fonte de renda segura para os núcleos coloniais do Baixo Paraná, pois a mineração andina da prata exigia transportes, principalmente para o abastecimento das dezenas de núcleos coloniais hispano-americanos que viviam da extração da prata.”

O muar, portanto, provinha da Capitania do Rio Grande do Sul e imediações, onde as planícies revestidas de vegetações herbáceas possibilitavam a sua criação.

Para CARLOS BORGES SHMIDT o muar chegou à região de São Paulo pela estrada Rio Grande/São Paulo. Desde o descobrimento das minas auríferas, no final do século XVII, até o início da era ferroviária, em 1867, o tropeirismo teve marcante presença na economia nacional.

No Brasil, por quase dois séculos abasteceu os vários pontos do país, iniciando com a mineração, quando os mineiros passaram a consumir carnes de porco defumadas ou salgadas, cereais de vários tipos, caixetas de marmelada e açúcar, produtos esses transportados para as Gerais por tropas de muares.

Com o surgimento do ciclo do açúcar o transporte da produção açucareira, tanto para ser exportada como para abastecer os sertões brasileiros, também era feito pelos tropeiros e suas tropas.
No ciclo do café foram os tropeiros que fizeram o transporte desse produto, onde quer que fossem plantados, para o porto de Santos, de onde eram exportados.

Quando completou a ligação férrea entre São Paulo/Rio de Janeiro, em 1877, o tropeirismo começou a morrer.
Em fins do século XVII iniciou-se o ciclo do ouro com os primeiros descobrimentos na região das Minas Gerais e, com a atividade da mineração, teve início o desenvolvimento do tráfego de tropas para o transporte de mercadorias e gêneros de consumo.

Segundo MYRIAM ELLIS AUSTREGÉSILO, a intensidade desse abastecimento e desse comércio de diversas regiões brasileiras com as Gerais exigiu a intensidade de transportes de cargas e passageiros. O único e possível meio de transporte empregado em regiões de péssimos caminhos e de relevo acidentado foi o muar.

Na região do Vale do Paraíba uma das estradas mais antigas e usadas pelos tropeiros foi a rota que, da vila de Parati, subia a Serra do Mar e direcionava-se para a região onde em 1638/1639 seria fundada a vila de Taubaté.
Esse caminho, que no seu princípio era uma trilha indígena, foi usada em 1596, por Martim Correia de Sá quando, chefiando uma bandeira, saiu do Rio de Janeiro, aportou em Parati e, galgando a serra do Mar, passou pela região do rio Una, hoje Município de Taubaté. Seu objetivo era atingir a lendária região de Sabaraboçu, nas Minas Gerais.
Com a descoberta do ouro essa estrada serviu de escoadouro do metal precioso das Minas para o porto do Rio de Janeiro de onde era exportado para Portugal. Ao mesmo tempo era por ela que se fazia todo o tráfego de mercadorias e transportes humanos da região litorânea para a região valeparaibana.

A estrada Paratí-Taubaté foi amplamente trafegada por tropas. Por ela passavam os mercadores que, do Rio de Janeiro, seguiam para as Minas levando mantimentos e vestuário. No porto de Parati costumavam aportarem algumas embarcações da Bahia com negros e fazendas que, subindo a Serra do Mar iam fazer negócios às vilas de cima. Tropas de escravos, muares, cavalos e cargas eram organizadas para seguirem serra cima. Não esquecer que o Correio da época, era feito por meio das tropas. Esse tráfego era intenso e fortemente controlado pelas autoridades governamentais.

Taubaté, tropas e tropeiros
Geralmente uma tropa era formada de 40 a 80 animais, sob a responsabilidade de um tropeiro, que contava com a ajuda de um camarada para cada lote de 8 animais. As tropas viajavam, principalmente pela manhã. Por volta do meio dia alcançavam o lugar de pouso, onde passavam o restante da tarde, em descanso. Era o momento em que os animais eram alimentados com rações de milho e a seguir eram soltos nos pastos ou nos arredores.
Segundo PROF PAULO CAMILHER FLORENÇANO, “Taubaté até a década de trinta (1930) foi centro de convergência de numerosas tropas de muares, conduzidas por gabeis e diligentes tropeiros – homens fortes, afeitos a duras jornadas, donos de particular código de honra e ação. As tropas afluíam muito assiduamente à cidade e, geralmente, as quintas e sextas-feiras, quando à sua passagem, as ruas saíam da quietude comum e ficavam envolvidas e animadas pelos sons alegres e bem cadenciados dos cincerros e guizos bimbalhando presos aos peitorais das mulas ‘madrinheiras’.”

Proprietários taubateanos de tropas
– Manoel Vaz da Silva – proprietário de conceituada casa de fazendas, roupas feitas e armarinhos;
– Benedito Moreira de Andrade – o mais poderoso deles, com seu grande armazém localizado à Rua do Patrício, atual Silva Barros;
– Philadelpho dos Santos – dono do popular estabelecimento situado no Largo de Sant’Ana;
– José Abirached e Abdo Rechdan – estabelecidos na antiga Rua do Patrício.
Os pousos, em Taubaté
O principal deles era o da Madama – situado na Rua São José, já fazendo parte do todo que se chamava Alto de São João. Era o ponto de encontro dos tropeiros vindos de São Luiz do Paraitinga, Lagoinha e Natividade. Traziam café, milho, feijão, batata e arroz e, esses produtos eram adquiridos pelos comerciantes de Taubaté.
No bairro do Belém havia o pouso de Januário Pinto – ali, os carreteiros em quase sua totalidade eram de Redenção da Serra; um ou outro de Natividade da Serra e raramente alguns de Paraibuna. Levavam de Taubaté: querosene, sal,açúcar mascavo,fazendas, armarinhos e ferragens.
Pouso do Anjinho – situado à Rua Humaitá. Ficava no interior do armazém que fazia frente para a rua. Compunha-se de vários ‘quartinhos’ e o seu pátio central apresentava algumas dezenas de palanques para prender os animais de tropa
Pouso do Constantino Frugoli – situado no bairro do Belém.
Pouso dos Paranhos – situado à antiga ‘Ruinha’, como era conhecida a atual Rua Mariano Moreira. Devido seus bons pastos, um manancial de água pura e a proximidade do Mercado era um pouso preferido dos tropeiros.