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sábado 23 novembro 2024
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Triunfo da cruz: a vitória do cristianismo

Como uma minúscula seita tornou-se a religião mais influente do mundo
Seus primeiros líderes foram perseguidos e executados como representantes de uma seita pagã. Quatrocentos anos depois, essa “seita” se transformou na religião oficial do Império Romano. Mais 200 anos, e o Cristianismo converteu os “bárbaros” do continente Europeu e se tornou a mais poderosa empresa sobre a terra, justificando genocídios e inspirando heróis da justiça e da paz. Qual é o segredo dessa religião que tanto se espalha sobre a terra?

Ressurreição
Jesus nasceu em Nazaré, mas o cristianismo nasceu mesmo em Jerusalém — cidade com cerca de 100 mil habitantes, na periferia do vasto Império Romano. A vida na região se resumia a plantar, pastorear e pagar impostos ao templo de Jerusalém, em torno do qual se organizava a vida dos judeus: ali se fazia comércio, encontrava-se amigos, fazia-se política e, é claro, conspirava-se contra Roma.

Foi nesse cenário que um grupo formado por pescadores, trabalhadores braçais e pequenos comerciantes apareceu falando de um homem que morrera crucificado e que, por incrível que pudesse parecer, ressuscitara. A notícia de que o messias estivera por ali já circulava entre o povo da cidade. Alguns haviam ouvido falar de Jesus, que fazia curas e andava pelo deserto.

“O mito do Cristo que morre e ressuscita exerceu um fascínio incomum entre as pessoas e acabou desencadeando um vertiginoso crescimento da seita cristã”, afirma Paulo Nogueira, professor de ciências da religião da Universidade Metodista de São Paulo. “Na época, havia um grande sincretismo religioso no Império Romano e, ao contrário do que se acredita, um intercâmbio do judaísmo com diferentes religiões mediterrâneas. Isso abriu espaço para doutrinas divergentes da tradição judaica, fato que preparou o caminho para a disseminação do cristianismo.
Paulo de Tarso e Constantino: propagadores da religião

Por volta do ano 40, o grupo já pregava nas sinagogas e dizia ser Jesus o Cristo que todo mundo esperava. A mensagem sobrevivera em Jerusalém e se propagara por toda a Europa. Nesse processo, um homem teve especial importância: nascido em Tarso, na Ásia Menor (atual Turquia) e cidadão romano, Saulo era judeu e aos 15 anos mudou-se para Jerusalém para estudar numa conceituada escola da cidade. Saulo, que passaria para a história como Paulo, não chegou a conhecer Jesus, mas foi o principal propagador da nova fé.
Entre 46 e 60, viajou por todo o mundo mediterrâneo falando sobre o Messias. “A influência de Paulo é indiscutível”, diz o historiador André Chevitarese, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Se não fosse ele, o cristianismo provavelmente não teria passado de mais uma seita judaica.” As viagens de Paulo e sua mensagem, expressa em cartas enviadas às comunidades que fundou, foram essenciais para a doutrina cristã adquirir o caráter universal que tem hoje.

Em 313, o novo governante do Império Romano, Constantino I, percebeu que, ao invés de combater a cristandade que se espalhava, poderia trazê-la para seu lado e usá-la como base de sustentação de seu império. “Constantino foi um visionário. Fez a opção política pelo cristianismo, numa época em que apenas 10% da população que governava pertencia a essa fé”, diz Martin Dreher. Com o seu gesto, o imperador pôs fim às perseguições contra cristãos e preparou o caminho para que essa fé se tornasse a religião oficial do Império e chegasse aos seus limites, como as ilhas britânicas e o Egito, por exemplo.

Cristianismo entre os Bárbaros
A queda de Roma desencadeou lutas ferozes entre os vários povos pelo domínio do espólio imperial: visigodos, vândalos, francos, hérulos, anglos e saxões, entre outros, queriam sua parte e a única instituição unificada e com algum nível de organização era a Igreja cristã. E os reis bárbaros perceberam isso.
O contrato entre os reis bárbaros e a Igreja duraria por séculos e estaria na raiz da legitimação divina do poder monárquico. O cristianismo estaria comprometido, a partir de então, com a formação dos países e dos sentimentos nacionais na Europa. Ora, quem são os franceses senão os bárbaros francos que se tornaram cristãos?

Cristo vive
No início do século 19, os seguidores do cristianismo somavam 230 milhões. Hoje são mais de 2 bilhões. Uma das experiências mais marcantes para esse crescimento foi o surgimento da Igreja Pentecostal, nascida de um ramo protestante nos Estados Unidos. Hoje ela tem o segundo maior rebanho cristão do planeta, com 500 milhões de fiéis.
Mas entre os grandes ramos do cristianismo tradicional, como o catolicismo, a coisa também não ficou parada. A realização do Concílio Vaticano II, no início dos anos 1960, promoveu a modernização da religião e enfatizou o movimento ecumênico. Foi a partir desse encontro que as missas deixaram de ser celebradas exclusivamente em latim e passaram a ser rezadas na língua local.
Entretanto, o Cristianismo ingressou fragilizado no século 21. Crenças doutrinárias relacionadas a temas sexuais – como aborto e homossexualidade – e uma estrutura hierárquica fortemente masculina mostram-se pouco atraentes na sociedade ocidental. Com isso, é cada vez menor o número de jovens que se dedicam ao sacerdócio e a Igreja Católica tem dificuldade em conquistar novas ovelhas. Apesar disso, é inegável que essa ainda continua sendo uma das mais fortes instituições do planeta.