Quando ouço alguém que está dentro de um elevador de algum condomínio residencial dizer gentilmente para quem está do lado de fora: “Pode entrar, sem frescuras, eu não tenho COVID”. Apesar da gentileza, a pessoa não está considerando que o risco existe para os dois lados. Sim, mas e se eu que estou entrando no elevador estiver doente? E seu eu estiver indo justamente ao hospital me internar ou fazer o exame naquele momento? Posso entrar mesmo assim? E se nós somos assintomáticos? Então tudo bem? Vale a pena correr este risco com os números crescentes que acompanhamos diariamente? Claro que não! Mas seguramente ouviremos a partir de agora: “Estou vacinado, posso “aglomerar” não preciso mais de distanciamento, nem usar máscaras e nem higienizar as mãos ou usar álcool 70”. Um pensamento perigoso e equivocado. Queremos a busca de uma resposta simplista para um problema complexo. Quero a mudança, mas não quero ser mudado.
Sabemos ainda muito pouco sobre a doença, suas variantes, sobre a imunização daqueles que já tiveram COVID, seus efeitos a longo prazo e até mesmo sobre os resultados da vacina até a data em que realmente se alcance o tal do efeito “rebanho”. Trabalho para hospitais há mais de 20 anos apoiando equipes operacionais. E sempre que temos um paciente em “precaução de contato” ou mesmo muito debilitado, toda equipe que tem contato com ele, utiliza máscaras e toda precaução conforme o tipo de isolamento ou aquilo que chamamos de IRAS – infecções relacionadas à assistência à saúde. É um protocolo importante para preservar a equipe e ao paciente e os seus familiares. Em muitos casos não utilizamos somente para “nos proteger do paciente”, mas para proteger um paciente com uma saúde frágil, da nossa presença no mesmo ambiente. Seja para a realização de algum procedimento técnico, mas mesmo para limpar o quarto, levar a bandeja de alimentos ou realizar uma manutenção no quarto. E esse mesmo pensamento do convívio e da coexistência atual – regras de etiqueta sanitária dentro e fora do hospital: todos protegendo todos.
No mundo de hoje, temos que assumir que todos são potenciais transmissores da COVID-19. E, desta forma, devemos utilizar a máscara, para nós e pelos outros. No caso da COVID, como a transmissão pode ser feita por meio de fluidos, gotículas e contato com superfícies contaminadas, as pessoas precisam se conscientizar que o EPI é uma importante forma de reduzir os riscos para si para também para sua própria família e para as pessoas a sua volta.
Chegou a hora de uma importante mudança de modelo mental sobre segurança e saúde: Gerar segurança para outros é uma consequência de estar seguro. Temos que perceber que quando não me protejo não estou apenas me expondo, mas expondo a todos que me cercam.Infelizmente a ideia no senso comum que ainda prevalece é a de que o uso destes EPIs existe somente para proteger ao próprio usuário. Não podemos esquecer que nossos hábitos afetam também a todos os outros a nossa volta. Você iria pular de um avião sem um paraquedas? Para realmente retomar as atividades de trabalho e lazer de forma segura, o modelo mental deve privilegiar também o cuidado com os “outros”– e isso vale para a para a máscara, para a lavagem das mãos, o uso do álcool gel incluindo até mesmo os “já vacinados” até voltarmos ao status de um ambiente seguro.
*Adm. Marcelo Boeger: Vice-Presidente da AMTSBE (Associação Mundial de Turismo de Saúde e Bem-Estar). Atua como sócio consultor da Hospitallidade Consultoria. Autor de diversos livros, entre eles, coautor da obra recém lançada “Towards a Better World – Tourism, Pandemics, Climate Emergency and Human Rights” Globedit, 2021.