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quarta-feira 27 novembro 2024
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Todo mundo manda, e ninguém obedece

O tradicional bloco carnavalesco “Vai Quem Quer”, com apoio popular, com certeza já se auto intitula patrimônio histórico cultural de Taubaté. Com muito merecimento, já que leva a sua irreverência aos quatro cantos do mundo. Seus componentes, sob o comando de Daniel Sbruzzi, carregam a bandeira do bloco, e onde quer que estejam lá está ela, a faixa estampando o “slogan”, com os seguintes dizeres: “Brasil, São Paulo, Taubaté”.
O bloco “Vai Quem Quer” pode ser considerado o embaixador de nossa cidade, por levar alegria aos povos dos cinco continentes.
Não pensem que seus eventos são organizados, e tudo acontece de forma inusitada. Tempos atrás, por exemplo, encontrei o amigo Gilmar (cabo Garcia),
Dentre as muitas histórias do “Vai Quem Quer”, Gilmar relembrou uma das viagens que o bloco fez para o Rio de Janeiro, onde é de praxe a participação no desfile da Banda de Ipanema.
A diretoria do bloco, querendo botar ordem na casa, onde todo mundo manda e ninguém obedece (frase já pronunciada pelo jornalista Levy), nomeou o delegado aposentado, Waldir Teixeira Pinto, tipo linha dura, para chefiar a delegação do ônibus, que levava os foliões para a capital carioca.
Na primeira viagem, organizou de tal maneira que às 9 horas em ponto a condução partiu para o seu destino. O nosso amigo Paulo Rovida (Bico Farso), chegou atrasado ao local de partida, exatamente às 9h05, mas o ônibus já havia partido.
Muito aborrecido, decidiu voltar para casa, com a bagagem de mão. Mas, no caminho encontrou Gilmar, que lhe ofereceu uma carona de moto. Não deu outra, Bico aceitou a ajuda do amigo e, imediatamente, colocou o capacete e partiram em direção à via Dutra, a caça do ônibus.
Pelos cálculos de Gilmar, eles alcançariam a condução em Pindamonhangaba ou Aparecida. Mas, quando perceberam já estavam na divisa de São Paulo-Rio, pois a velocidade da moto ultrapassa 120 km por hora , e nada de localizar o “busão”.
Como havia apenas uma alternativa, Bico teve a ideia de pedir ao Gilmar que o levasse até o Posto de Resende , pois com certeza iria encontrar a turma. Lá é parada obrigatória do bloco. Mas, não foi isso o que ocorreu, pois o ônibus não estava no estacionamento. Então, Bico agradeceu ao amigo pelo apoio e esperou mais ou menos uma meia hora até a chegada do ônibus Sampaio, que seguia viagem destino à cidade maravilhosa.
No retorno para Taubaté, Gilmar estava com muita pressa, pois estava atrasado para o trabalho. Passando por Aparecida teve uma surpresa: na pista contrária vinha a condução do bloco “Vai Quer Quer”, que fez outro percurso para sair de Taubaté.
Finalmente, Bico Farso chegou à Rodoviária do Rio e pediu orientação para uma velhinha que lhe deu o número do circular que passava em Copacabana. De fato, o bondão que o Bico tomou chegou ao hotel, mas antes seguiu seu itinerário, passando pela Barra da Tijuca, Rocinha e uns dez bairros, atrasando a sua chegada umas duas horas.
Chegando ao hotel, Bico Farso foi surpreendido com a chegada dos amigos do ‘Vai Quem Quer’. Como para o grupo tudo acaba em festa, tomar um chope foi uma ótima pedida.
Mas, há de se fazer algumas considerações: em outras viagens que se sucederam, o chefe da delegação continuou rígido quanto aos horários. Sou testemunha de que nem o delegado conseguiu colocar a moçada na linha, pois havia aqueles que ainda perdiam a condução na ida, e aqueles que não chegavam no horário da saída e, ficavam fantasiado no Rio de Janeiro.

A PROCURA DE UM CHEFE

Outro lance pitoresco ocorreu em outra viagem a capital carioca. A delegação, além de tomar todas antes da viagem, ainda levou uma caixa de isopor cheia de cerveja. Um dos integrantes da trupe era o Beto da Ford, do posto de gasolina, que elaborou um jargão de Anselmo: “Vamos beber putada!”. O pessoal acostumou em ouvir essa frase, pois tudo não passava de uma brincadeira, era sempre pronunciada na maior simplicidade. Ele, Betão, sempre repetia essa frase em qualquer lugar que estivesse, fosse em clube ou em festas.
Em muitos eventos festivos, que antecedem o carnaval, o presidente de honra do bloco, João Guarú, recebia os foliões em sua casa. Mesmo adoentado, sua esposa, Dona Maria, fazia questão de receber a todos. Num desses dias, Betão estava lá e nem perdoou a presença do representante do prefeito, e lascou sua célebre frase. “Vamos beber putada!”
Ainda registrando as façanhas de Beto, nessa viagem em que o grupo levou a caixa de cerveja no busão rumo ao Rio de Janeiro, um episódio tornou-se marcante. O ônibus se aproximava do pedágio de Moreira César, quando o Waldir delegado pediu a todos que fizessem silêncio, e somente depois que passassem pela Basílica de Nossa Senhora de Aparecida , poderiam voltar a beber. Nesse dia, os foliões, sem exceção, obedeceram a ordem do chefe. Mas, assim que o ônibus chegou ao topo da serra, se avistou a Basílica. Betão foi até à frente, perto do motorista, e disse alto e em bom tom:
___Vamos rezar putada !.
Depois dessa, o chefe da delegação pediu demissão e foi substituído por Benê, que também não aguentou por muito tempo . O Celso Castilho, que era o presidente naquela época, depois de procurar outro chefão, disse na reunião : Esse é o cargo mais difícil de encontrar !
Pensamento tibetano (Século VIII)
“Tudo aquilo que algum filho da puta diz que é “Urgente”, sempre é algo que algum imbecil deixou de fazer em tempo hábil, e quer que você se foda para fazer em tempo recorde”. Monge (Thamo Dsa Kusheyo)