Abordar o tema carnaval é sempre um prazer, principalmente, ter a oportunidade de contar sobre aqueles que fazem parte da história. O Jornal Matéria Prima publicou na edição de 7 de novembro de 1998 ( já fez 20 anos) o encontro de taubateanos com Dona Zica, que residia ao lado da quadra da Escola de Samba Verde Rosa. Ela nos recebeu carinhosamente, como sempre.
Tempos em que a gente subia o morro do Buraco Quente com maior tranquilidade, pois nós tínhamos o aval de Dona Zica e, principalmente, de Dona Neuma, a primeira dama de Mangueira que era respeitada pela comunidade, o que não acontece nos dias de hoje, onde já não há um respeito entre o samba e o morro.
Estou escrevendo um livro “Pelos Caminhos do Samba” e não posso deixar de citar a Primeira Estação de Mangueira, onde aprendi os primeiros passos do verdadeiro samba.
A Mangueira ficou muita íntima de Taubaté, quando lançou o enredo “O Mundo Encantado de Monteiro Lobato”, em 1967, que foi vencedor, e esse samba antológico é cantado até os dias de hoje na quadra da Escola. Os compositores: Darcy e Jurandir, que receberam o tema enredo e com ajuda do escritor Oswaldo Barbosa Guisard, que levou de bandeja, foram consagrados e a diretoria resolveu vir a Taubaté para agradecer pela vitória desfilando pelas ruas de nossa cidade em agradecimento, onde nasceu muitos torcedores dessa Escola de Samba maravilhosa, que passou a frequentar a Verde Rosa, e um dos primeiros daquela época foi o alfaiate Viola, que em seguida nos apresentou. Iniciei no Samba nessa Escola em 1971, onde levei muitos amigos sambistas de Taubaté, e um dos meus primeiros parceiros foi Orlandinho Prado.
Em 1973, conheci a Escola dos Acadêmicos do Salgueiro, onde fiz grandes amizades, e em seguida várias Escolas tradicionais, onde convivi por muitos anos e participando dos concursos de sambas de enredos.
A Mangueira ainda não era coberta, depois de alguns anos modernizou e foi feita uma cobertura, No entanto, a primeira reclamação dos compositores era quando havia uma noite linda e estrelada, eles não podiam apreciar a noite , e a diretoria acabou fazendo um forro automático, que através de um controle remoto, abria-se o forro e os poetas podiam ter inspiração ao ver um céu todo iluminado.
Lembro-me de um dos primeiros sambas de quadra, estava com Orlandinho, e nesse concurso tinha um compositor com o apelido de Estudante, o qual foi o vencedor, um homem bem simples, mas poeta de primeira classe. O tema tinha que falar da comunidade, dos moradores, dos barracos e das cores da Mangueira.
E ele cantou versejando o samba de quadra que segue:
AI, AI, AI MEU DEUS
EU NÃO POSSO MAIS VIVER ASSIM
EU MORO NUM BARRACO ESBURACADO
QUE NEM DE VERDE ROSA ELE PINTADO
QUANDO CHOVE TEM GOTEIRA
O MEU BARRACO É O MAIS POBRE DE MANGUEIRA ….
Mostrou ele, que da pobreza se faz a beleza; e a música faz a alegria de um povo sofrido.
A partir desse samba de quadra tornei-me compositor, fazendo sambas em Taubaté,na região, em São Paulo ( Gaviões da Fiel e Rosas de Ouro) e no Rio de Janeiro nas Escolas de Samba Mangueira, Salgueiro, Vila Isabel e convive com muitos sambistas desde compositores , cantores, diretores e presidentes de Escolas de Samba. E, histórias é que não faltam para contar aos amigos.