“Ou a História é História e conta o que houve, ou ajeita os fatos conforme convém aos interesses dum grupo e passa a ser propaganda.”
Monteiro Lobato
Em 1532, chegou ao Brasil a expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa que, aportando no litoral do atual Estado de São Paulo, fundou a primeira vila do país, batizando-a de São Vicente. Como ficou registrado por Pedro Taques, trazia consigo quatrocentas pessoas para dar início à colonização no Brasil. Além da muita nobreza, alguns fidalgos da casa real, como foram: João do Prado – natural de Olivença. Pessoa de muito valor e prestígio na Capitania ocupou todos os cargos da governança da terra; chefe da entrada, em 1596, onde o cabo foi João Pereira de Sousa Botafogo; Luís de Góis com seus irmãos Pedro de Góis e Gabriel de Góis; Pedro Dias; Salvador Pires; Jorge Pires cavaleiro fidalgo; Domingos Leitão; Rui Pinto, cavaleiro fidalgo; Francisco Pinto, cavaleiro fidalgo, filhos de Francisco Pinto, cavaleiro fidalgo1
Luís, Washington. Na Capitania de São Vicente
Outros muitos homens desta qualidade com o mesmo foro e também com o foro de moços da Câmara, vieram com Martim Afonso de Sousa e todos ficaram povoando a vila de S. Vicente, como se vê melhor no mesmo livro 1º do registro das sesmarias.2
Com muito trabalho, fibra e persistência teve início a colonização brasileira na região do litoral vicentino. Limitados entre o mar e as montanhas, colonos e jesuítas, movidos por objetivos diferentes, começaram a subir a Serra do Mar, seguindo as trilhas indígenas, o chamado “Caminho do Mar”, até alcançar o Planalto de Piratininga. Vencida a barreira representada pela serra do Mar, os colonizadores avançaram pelo planalto paulista.
2 – TAQUES, Pedro. História da Capitania de São Vicente. Brasília: Edições do Senado Federal, 2004. Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/sf000043.pdf
Aziz Nacib Ab’Sáber, famoso geógrafo, nascido em São Luís do Paraitinga, assim definiu o Planalto de Piratininga: “Para aqueles que vinham do litoral, através das densas matas da Serra do Mar e dos morros do reverso da serra, os primeiros descampados naturais estavam nas largas planícies do rio Tamanduateí: daí o nome Santo André da Borda do Campo.” Entretanto, no planalto de Piratininga já existia um aldeamento fundado por João Ramalho, náufrago português que se uniu à índia Bartira, filha do cacique Tibiriçá, da tribo dos Guaianases. Esse aldeamento passou a ser conhecido como Santo André da Borda do Campo. Foi a primeira povoação europeia distante do litoral, situada em local indeterminado entre os campos do planalto de Piratininga e a mata da serra de Paranapiacaba.
Começou haver uma dicotomia de procedimentos entre os colonos e os padres jesuítas. Enquanto os primeiros saiam em busca dos indígenas para transformá-los em escravos para trabalharem em suas lavouras, os jesuítas saiam em busca dos indígenas para catequizá-los. Essa grande diferença de ações começou a criar sérios problemas entre os dois grupos.
Interessado em estabelecer um local onde pudesse catequizar os indígenas longe da influência dos homens brancos, o padre Manuel da Nóbrega, superior da Companhia de Jesus no Brasil, observou que uma região próxima, localizada sobre um planalto, seria o ponto ideal, então chamado de Piratininga3 Embora a busca da catequese sem a influência do homem branco fosse um objetivo, o que precipitou a mudança para o planalto foi a necessidade de resolver o problema de alimentação dos indígenas que estavam sendo doutrinados, como afirma o padre Anchieta:
Para sustento destes meninos, a farinha de pau era trazida do interior, da distância de 30 milhas. Como era muito trabalhoso e difícil por causa da aspereza do caminho, ao nosso Padre (padre Manuel da Nóbrega) pareceu melhor no Senhor mudarmo-nos para esta povoação de índios, que se chama Piratininga.4
Em janeiro de 1554, um grupo de jesuítas comandados pelo padre Manuel da Nóbrega e auxiliado pelo igualmente jesuíta José de Anchieta, chega ao planalto, auxiliado por João Ramalho. Com o objetivo de catequizar os índios que viviam na região, os jesuítas erguem um barracão de taipa de pilão, em uma colina alta e plana, localizada entre os 3 – VASCONCELOS, Simão de, padre. Crônica da Companhia de Jesus. Citado em Teodoro Sampaio.
4 – ANCHIETA, Padre José de (1534-1597) (2004). Carta do quadrimestre de maio a setembro de 1554, dirigida por Anchieta ao Santo Ignácio de Loyola, Roma.
rios Tietê, Anhangabaú e Tamanduateí, com a anuência dos chefes indígenas locais, como o cacique Tibiriçá. Em 25 de janeiro daquele ano, dia em que se comemora a conversão do apóstolo Paulo, o padre Manuel de Paiva celebra a primeira missa na colina. A celebração marcou o início da instalação dos jesuítas no local, e entrou para a história como o nascimento da cidade de São Paulo. Dois anos depois, os padres erguem uma igreja – a primeira edificação duradoura do povoado. Em seguida, ergueram o colégio e o pavilhão com os aposentos.
Ao redor do colégio, formou-se uma pequena povoação de índios convertidos, jesuítas e colonizadores portugueses. Em 1560, a população do povoado seria expressivamente ampliada, quando, por ordem de Mem de Sá, governador-geral da colônia, os habitantes da vila de Santo André da Borda do Campo são transferidos para os arredores do colégio. A vila de Santo André é extinta, e o povoado é elevado a esta categoria, com o nome de “Vila de São Paulo de Piratininga”. Por ato régio, é criada, no mesmo, ano, sua Câmara Municipal, então chamada “Casa do Conselho”. Em 1558, João Ramalho passou a governar a vila como alcaide-mor
A dominação do colono, em detrimento das nações brasílicas, não foi nada fácil. Pela necessidade imediata e premente de mão de obra foram organizadas as bandeiras escravistas que, embrenhando-se nas selvas foram em busca dos indígenas para escraviza-los. Estes por sua vez, revidavam com contínuos e ferozes ataques. Em 1562, incomodados com a aliança entre tupiniquins e portugueses, os índios tupinambás, unidos na Confederação dos Tamoios, lançaram uma série de ataques contra a vila no episódio conhecido como Cerco de Piratininga. A defesa organizada por Tibiriçá e João Ramalho impede que os tupinambás entrem em São Paulo, e os obriga a recuar.
Ainda em 1590, com a iminência de um novo ataque a cidade novamente se prepara com obras de defesa, e é claro que nesse ambiente cheio de incertezas a prosperidade se torna impossível.5 Os frequentes surtos de pestes: bexiga (varíola), sarampo, febre amarela, disenterias (febres ou enfermidade dos catarros); os sucessivos conflitos entre os colonos e os jesuítas; a má distribuição e o mau uso das terras provocando, principalmente, o flagelo da fome, impulsionaram inúmeras levas de emigrações para regiões relativamente adjacentes à vila de São Paulo.
As terras compreendidas pela região valeparaibana faziam parte da Capitania de Itanhém e eram propriedades da Condessa de Vimieiro.
E assim, levas colonizadoras começam adentrar e transitar pela região do Vale do Paraíba. O murmúrio de que essa região seria o caminho para as terras auríferas começam a ser propaladas com muita intensidade.
Em 1596, o governador geral do Brasil, D. Francisco de Sousa, incumbiu Martim Correia de Sá da chefia de uma bandeira, que, saindo do Rio de Janeiro, aportou em Parati, subiu a serra do Mar e, por uma trilha indígena, alcançou a região valeparaibana.
Desse ponto uniram-se a outra leva de bandeirantes que, vindos da vila de São Paulo, chefiados por João do Prado tendo como Cabo, João Pereira de Sousa Botafogo. Essa leva de homens bravios e destemidos atravessou a garganta do Piracuama e prosseguiu em direção à lendária Sabaraboçu. De uma trilha indígena esse caminho transformou-se
5 – https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_de_S%C3%A3o_Paulo_(cidade)
em uma antiga estrada que, quando se achou ouro nas Gerais, foi usada como escoadouro do metal precioso, ensejando a criação da Casa de Fundição em Taubaté.
Dois anos após o descobrimento do ouro esse caminho foi proibido pelas autoridades metropolitanas tornando-se cada vez menos frequentado. Após o término do período aurífero voltou a ser muito percorrido pelas tropas que faziam o tráfego e comércio entre a cidade do Rio de Janeiro e as vilas de Parati, Taubaté.
Esse caminho, anterior ao Caminho Velho, é conhecido pelos historiadores como o antiquíssimo caminho do Rio de Janeiro. Atualmente, é o único trecho da Estrada do Ouro em território paulista – a estrada que ligava a vila de Parati à vila de Taubaté. Estudado e mapeado; existe até hoje, com sua via carroçável por onde podem transitar carros e veículos afins.6
Portanto, desde o século XVI, a região valeparaibana vinha sendo esquadrinhada na tentativa de se descobrir uma passagem para a região aurífera.
Iniciando o século XVII, começo de 1601, a região foi percorrida por André de Leão e sua bandeira, em busca, mais uma vez, da serra de Sabaraboçu.
Com a debandada das levas de pessoas em direção ao Vale do Paraíba, sua proprietária “ordenou o povoamento oficial das terras e sertões do Paraíba com distribuição, registro e posse de sesmarias7.Essas terras foram desbravadas e povoadas por inúmeras famílias vindas da Vila de São Paulo capitaneadas pelo bandeirante Jaques Félix. As primeiras sesmarias doadas em nome de Jaques Félix e seus filhos Domingos Dias Félix e Belchior Félix, data de 1628. Posteriormente, pela provisão de “1636, foi autorizada a penetração do sertão de Taubaté a fim de descobrir minas, pacificar índios e demarcar as terras da Condessa de Vimieiro, Da. Mariana de Sousa Guerra, cujos limites até então eram desconhecidos”8 Por nova provisão, datada de 1639, ficava estabelecido a doação de terras de sesmarias a todas famílias que mostrassem interesse em vir povoar a região.
6 Mariotto, Lia Carolina Prado Alves Em busca de um roteiro esquecido: o caminho entre as vilas de Parati e Taubaté. Filologia e Linguística Portuguesa 10/11. Universidade de São Paulo – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, São Paulo, 2008/2009 – p 317
7 Abreu, Maria Morgado de Taubaté – De Núcleo Irradiador de Bandeirismo a Centro Industrial e Universitário do Vale do Paraíba Editora Santuário, 1985, p 17
8 Idem p 18, apud Guisard Filho, 1938: 18/19
Assim, paulatinamente, ao longo desses anos formou-se um povoado que em 05 de Dezembro de 1645, por uma Provisão assinada por Antônio Barbosa de Aguiar, Capitão Mor Governador, Ouvidor e Alcaide Mor da Capitania de Itanhaém, foi elevado a condição de Vila. Surgiu então a primeira Vila da região valeparaibana:a VILA DE SÃO FRANCISCO DAS CHAGAS DE TAUBATÉ.
Como se vê para o domínio mais abrangente da gênese da História de Taubaté se faz necessário recuar para os primórdios da História da cidade de São Paulo.
Taubaté é uma cidade que deve se orgulhar de sua História, pois coube a inúmeros taubateanos a honra de serem os protagonistas de fatos históricos, que fazem parte da História do Brasil nos seus três períodos políticos: Colonial, Imperial e Republicano. Em todos encontramos a participação atuante de taubateanos natos ou por adoção.
No Arquivo Histórico Felix Guisard Filho, de Taubaté, encontram-se inventários e testamentos dos descendentes daqueles primeiros povoadores do Brasil. Lá estão sobrenomes como: Prado, Gil, Dias, Grou, Pires, Leme, Bueno, etc…os primeiros povoadores de Taubaté.
Entre esses primeiros povoadores encontram-se uma plêiade de bandeirantes tais como:
– Antônio Delgado de Escobar – paulista, filho de João Delgado de Escobar e de sua mulher Beatriz Ribeiro, foi sertanista dos primeiros descobridores de ouro nas Minas Gerais. Faleceu nessa lida e foi inventariado em Taubaté, em 1708, estando casado com Inês Gil;
– Antônio Delgado de Escobar (filho) – filho de Antônio Delgado de Escobar e de sua mulher Inês Gil, foi com seus pais, antes de 1698, para as Minas Gerais, largando as terras que tinha junto ao rio Una, na ambição de minerar ouro. Foi casado com Antônia Furtado e faleceu em Taubaté, em 1715;
– Antônio de Faria Albernaz – capitão paulista que tomou parte na bandeira de 1636, chefiada por Antônio Raposo Tavares e que talou a região do Tape, no Rio Grade do Sul. Foi casado e faleceu em Taubaté, em 1663;
– Bartolomeu da Cunha Gago – tomou parte b expedição de Fernão Dias Pais, ao encalço da Sabaraboçu, saída de São Paulo em 1674, e segundo alguns escritores foi o primeiro que nessa diligência cuidou de procurar ouro, tendo encontrado algum porção em 1680. Foi casado com Maria Portes de El-Rey, filha de João Portes de El-Rey e faleceu em Taubaté, em 1685, deixando geração;
– Carlos Pedroso da Silveira – famosíssimo personagem da História do Brasil Colonial, foi Provedor da Casa de Fundição de Taubaté. Faleceu assassinado numa emboscada, na vila de Taubaté
– Domingos Rodrigues do Prado – certamente uma das mais características figuras do paulista antigo, altivo, insubmisso e desassombrado. Nasceu em Taubaté, filho do homônimo Domingos Rodrigues do Prado, o Longo e de Violante Cordeiro de Siqueira. Figura ente os primeiros descobridores de Minas Gerais. Faleceu em 1738, a caminho de São Paulo. (As biografias foram extraídas da fonte abaixo relacionada9).
Esse rol poderia ser listado de A/Z mas, no momento não caberia um inventário completo.
A Vila de Taubaté tornou-se a base de penetração para as regiões além Mantiqueira, conhecida como os sertões dos Cataguás, de onde chegavam notícias da presença de metais preciosos. Reportando-se à coleção de notícias dos primeiros descobrimentos das minas na América, contidas no Códice Costa Matoso10, sabe-se que no ano de 1693, Antônio Rodrigues de Arzão descobriu o tão procurado metal precioso. A partir dessa data Taubaté tornou-se o centro irradiador de povoamento dos sertões mineiros.
Antônio Rodrigues Arzão, Carlos Pedroso da Silveira, Manoel Borba Gato, Manoel Mendes do Prado, Bartolomeu da Cunha Gago, Manuel Garcia Velho, Tomé Portes Del Rei, Antônio Garcia da Cunha, Bartolomeu Bueno da Silveira, João de Siqueira Afonso, Miguel Garcia velho e tantos outros, foram taubateanos ou moradores da Vila de Taubaté que semearam cidades nas Minas Gerais.
Seguiu-se, então, a fundação, por taubateanos ou moradores da Vila de São Francisco das Chagas – das seguintes cidades mineiras:
SABARÁ 11
Fundador:- Manuel Borba Gato
9 Carvalho Franco, Francisco de Assis – Dicionário de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil.
10 Coleção Mineira Livro Códice Costa Matoso – Fundação João Pinheiro (FJP)
11 Fontes: Leite, Mario Paulistas e Mineiros plantadores de Cidades 1961
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros – IBGE 1958
Ortiz, José Bernardo São Francisco das Chagas de Taubaté – livro 2º- Taubaté Colonial – 1988
Antonil, André João – Cultura e Opulência do Brasil
Almeida Barbosa, Waldemar de Dicionário Histórico Geográfico de Minas Gerais – 1995
Alvará de Sesmaria a Serafim Correia, dada por D. Álvaro da Silveira de Albuquerque – 15/09/1703. (Da coleção “Governadores do Rio de Janeiro”, Livro XIV, fls. 175) – in Publicação Oficial de Documentos Interessantes para a História e costume de São Paulo, vol. LI. Arquivo do Estado de São Paulo – 1930)
10
Ano da Fundação – entre 1674/1678
MARIANA – Cidade Irmã de Taubaté
Fundador:- Salvador Fernandes Furtado de Mendonça
Ano da Fundação – 16/07/1690
POUSO ALTO
Fundadores:- Antônio Delgado da Veiga
João da Veiga
Manuel Garcia Velho
Ano da Fundação – 1692
BAEPENDI
Fundadores:- Antônio Delgado da Veiga
João da Veiga
Manuel Garcia Velho
Ano da Fundação – 1693
CAMPANHA
Fundador:- Padre João de Faria Fialho
Ano da Fundação – 1693
PITANGUI
Fundador:- Bartolomeu Bueno de Siqueira
Ano da Fundação – 1694
ITABERAVA
Fundador:- Bartolomeu Bueno de Siqueira
Ano da Fundação – 1694
11
OURO PRETO
Fundadores:- Antônio Dias de Oliveira
P.e. João de Faria Fialho
Antônio Rodrigues Arzão
Ano da Fundação – 1698
ANTONIO DIAS
Fundador:- Antônio Dias de Oliveira
Ano da Fundação – entre 1701/1706
SÃO JOÃO DEL REI
Fundador:- Tomé Portes Del Rei
Ano da Fundação – 1701
TIRADENTES
Fundador:- João de Siqueira Afonso
Ano da Fundação – 1702
CARRANCAS
Fundador:- Serafim Correia
Ano da Fundação – 1703
PIRANGA
Fundador:- João de Siqueira Afonso
Ano da Fundação – 1704
12
AIURUOCA
Fundador:- João de Siqueira Afonso
Ano da Fundação – 1705/1706
CAXAMBU
Fundador:- Carlos Pedroso da Silveira
Ano da Fundação – 1706
ITABIRA
Fundadores:- Salvador Faria de Albernaz
Francisco Faria de Albernaz
Ano da Fundação – 1720
DELFIM MOREIRA
Fundadores:- Miguel Garcia Velho
Ano da Fundação – 1740
ITUTINGA
Fundadores:- Sertanistas taubateanos
Ano da Fundação – 1794
Em 1789, irrompe na Capitania de Minas Gerais, um movimento de natureza separatista propondo a instalação de uma república no Brasil. Esse movimento ficou conhecido como a Inconfidência Mineira.
Um dos mentores intelectuais desse movimento foi o Padre Carlos Correia de Toledo e Melo, vigário colado da freguesia de Santo Antônio da vila de São José. Era taubateano, filho do Timóteo Correa de Toledo, o fundador da Capela do Pilar. Teve seus irmãos o Sargento Mor Luiz Vaz de Toledo Piza e Bento Cortez de Toledo como companheiros nessa rebelião.
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Padre Carlos foi degredado para Portugal, Luiz Vaz para a África (Cambebe) e Bento Cortez refugiou-se para o sul do país. Anos depois, faleceu em Taubaté como Vigário Colado da vila.
Em fins do século XVIII, Taubaté “(…)Como São Paulo, sofreu de sangria demográfica, consequência do próprio bandeirismo que lhe dera projeção. Apesar disso, com vida econômica mais próspera, com posição já esboçada de capital da região”(…)12
Em 1808, a família real portuguesa transferiu-se para o Brasil; e em 1815, o Brasil foi elevado a Reino Unido a Portugal e Algarves.
Terminava aí o Período Colonial do Brasil e iniciava-se um novo período: Período Imperial.
Viajantes estrangeiros como Spix e Martius (1818), Saint-Hilaire (1822), Debret (1827) deixaram registros sobre Taubaté, como sendo uma das mais importantes vilas de toda a província de São Paulo, onde os habitantes mostravam maior riqueza e abundância, assim como civilidade e cortesia.
Em 1822, o Príncipe Regente D. Pedro iniciou sua famosa caminhada até a cidade de Santos, passando pelo Vale do Paraíba:
“Jovens de Taubaté, pertencentes às suas mais prestigiosas famílias, incorporaram-se também à Guarda de Honra do Príncipe D. Pedro, a fim de lhe emprestar apoio político, e proteção militar durante o decorrer de sua importante viagem à Província de São Paulo. Taubateanos de nascimento, ou de adição, que estiveram presentes no momento da proclamação da Independência: Bento Vieira de Moura, Fenando gomes Nogueira, Flavio Antônio de Andrade (natural de Paraibuna), Francisco Xavier de Almeida, João José Lopes (português de nascimento), Manoel Marcondes do Amaral, Rodrigo Gomes Vieira, Vicente da Costa Braga.”13
Antecedendo a chegada do Príncipe Regente a Taubaté, em 21/08/1822, houve uma troca de correspondências entre os religiosos franciscanos, a Câmara de Taubaté e o clero
12 Müller, Nice Lecocq Taubaté – Estudos de Geografia Urbana. Separata da “Revista Brasileia de Geografia” N.º 1 – Ano XXVII – Janeiro/Março de 1965. Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Conselho Nacional de Geografia, 1965, p82
13 Abreu, Maria Morgado de – Taubaté e o 07 de Setembro – Jornal “Tribuna” – 07/08/1980 – Taubaté/SP
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secular expressando o apreço e admiração da gente taubateana à pessoa de D.Pedro. O portador da mensagem do clero secular foi o padre Antônio Moreira da Costa, que posteriormente tornou-se Vigário Capelão da Guarda de Honra e Comendador da Ordem de Cristo.
Para a chegada de Sua Alteza o Príncipe Regente D. Pedro grandes festas foram programadas em sua honra. Além da hospedagem, seguida de recepção na residência do Cônego Antônio Moreira da Costa, S.A.R. recebeu efusiva manifestação do povo. A noite, no cerimonial do beija-mão, desfilou na presença real representantes da melhor sociedade local.
A rua até então denominada Rua do Gado, em sua homenagem passou a se chamar Rua do Príncipe, hoje Rua XV de Novembro. À sua Guarda de Honra, formada em Pindamonhangaba, foram incorporados mais oito elementos de escol da sociedade taubateana. Para atender o acolhimento de D. Pedro foram autorizados vários melhoramentos pela Câmara.
Em novembro de 1864, eclodiu a Guerra do Paraguai, que durou até 1870.
Brasil, Argentina e Uruguai formaram a Tríplice Aliança para combater o Paraguai, cujo ditador, Francisco Solano Lopes, almejando uma saída do seu país para Oceano Atlântico, pretendeu anexar terras dos países vizinhos. A causa para a entrada no Brasil no conflito foi o aprisionamento de um navio brasileiro no rio Paraguai e a invasão do Mato Grosso.
Em janeiro de 1865, o povo taubateano inicia sua demonstração de amor à pátria colocando à disposição seus serviços: cada um, da melhor maneira que podia.
Foi criado, no Rio de Janeiro, o Asilo dos Inválidos da Pátria, onde seriam recolhidos os servidores do país por sua velhice ou mutilação na guerra; foi solicitado à Câmara de Taubaté um subsídio recolhido entre os munícipes. O então Presidente da Câmara, Sr. José Francisco Monteiro, propôs que se convidassem os fazendeiros do munícipios para que 15 auxiliassem nesse sentido. Ficou também, sob a responsabilidade da Câmara providenciar números suficientes de voluntários da pátria.
Além da participação das várias classes sociais, os jornais da cidade também deixaram suas informações em artigos estimulando o patriotismo ao povo taubateano: “O Taubaté”, “Commercial”, “O Paulista”, “Imprensa Liberal”. Sendo uma imprensa livre, responsável e transparente também denunciou os abusos havidos no momento do recrutamento dos voluntários da pátria. Em retribuição aos serviços prestados pelos grandes produtores de café, de Taubaté, “D. Pedro II, Imperador do Brasil, como Grão Mestre das Ordens Honoríficas do Império, outorgou títulos nobiliárquicos, àqueles que a tais honrarias fizeram jus(…)”14
Criou-se então, em Taubaté, os Titulares do Império:
Barão e Visconde de Tremembé – José Francisco Monteiro;
Barão e Visconde de Mossoró – José Felix Monteiro:
Barão Pereira de Barros – Cel Jordão Pereira de Barros;
Barão de Taubaté – Antônio Vieira de Oliveira Neves;
Barão de Pouso Frio – Mariano José de Oliveira Costa;
Barão da Pedra Negra – Manoel Gomes Vieira;
Barão de Jambeiro – Comendador David Lopes de Souza Ramos;
Conde de Santo Agostinho – D. José Pereira da Silva Barros.
Entre tantos vultos ilustres de Taubaté sobressai aquele que ultrapassou os limites do município e do país: José Bento Monteiro Lobato, nascido em 1882: “Poucos escritores brasileiros participaram tão intensamente dos acontecimentos de suas época quanto Monteiro Lobato que foi advogado, fazendeiro, editor, empresário, escritor e jornalista dos
14 Abreu, Maria Morgado de Taubaté – De Núcleo Irradiador de Bandeirismo a Centro Industrial e Universitário do Vale do Paraíba Editora Santuário, 1985, p 57
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mais atuantes na vida brasileira Ao seu espírito aberto e perquiridor tudo interessava, desde os problemas da Literatura às questões de Sociologia, Finanças, aço e petróleo.”15
Lobato era um adolescente de 15 anos quando aconteceu outro importante fato na História do Brasil que também repercutiu em Taubaté: a Guerra ou Campanha de Canudos, detonada em 1897.
O Exército brasileiro enfrentou um movimento popular de fundo sócio religioso cujo líder foi Antônio Conselheiro.
Foi uma luta inglória para o Exército brasileiro.
Muitas outras informações sobre Canudos circularam pelos jornais de Taubaté, mas não cabe aqui esgotá-las.
. Iniciou-se o século XX e Taubaté abriu-se para um robusto impulso industrial que, diga-se de passagem, teve início no crepúsculo do século XIX: Companhia de Gás e Óleos Minerais de Taubaté (1883) e a Companhia Taubaté Industrial – CTI (1891), Indústrias Reunidas Vera Cruz (1923), Companhia Fabril de Juta (1929), Companhia Predial de Taubaté (1932), Fábrica Doces Embaré, Corozita (botões), Refinarias de açúcar, Sociedade Extrativa Dolomia, Fábrica de Doces Francano, Fábrica de Louças, Usinas de Laticínios ao longo das décadas seguintes.
De 1939 a 1945, eclodiu a Segunda Grande Guerra Mundial e em 02 de julho de 1944, o Brasil iniciou sua participação no conflito com o envio do 1º escalão da Força Expedicionária Brasileira (FEB), sob o comando do General João Batista Mascarenhas de Morais.
Os jornais taubateanos, mais uma vez, começaram suas publicações sobre o acontecido.
No prédio onde funcionou o Externato São José, na Rua Visconde do Rio Branco, foi instalado a Legião Brasileira de Assistência – Centro Municipal de Taubaté – incumbido de
15 – Abreu, Maria Morgado de Abreu. Taubaté – De Núcleo Irradiador de Bandeirismo a Centro Industrial e Universitário do Vale do Paraíba. Editora Santuário, 1985, p 74
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prestar assistência às famílias dos convocados, que nessa época compreendiam 165 famílias fichadas, 80 das quais recebiam semanalmente suprimentos necessários à sua alimentação, além de assistência médica, remédios, peças de vestuário, etc., cuja necessidade seria comprovada pelas visitadoras em serviço.
Pela Imprensa escrita, durante um ano e seis meses, a sociedade taubateana acompanhou os feitos heroicos de seus Expedicionários em campo de batalha. Isto gerou um acervo substancioso de informações impossível de ser esgotado nesta síntese da História de Taubaté.
Muito mais caberia ser explanado neste “Subsídio para o reconhecimento da importância da História de Taubaté”, pois é uma história que engloba muito mais fatos e acontecimentos aqui narrados e que deverão ser comemorados com muita satisfação.
No próximo dia 05 de Dezembro, desde presente ano de 2022, Taubaté completará 377 anos. Três séculos e 77 anos de uma existência de glória e heroísmo, orgulhosamente cantada e contada pelo seu povo.
Como sempre sói acontecer, deverá ser um dia de efusivas comemorações e júbilos, pois muito há a ser comemorado.
Pode-se afirmar, com certeza absoluta, não haver no Brasil cidade interiorana possuidora de maior profundidade histórica que Taubaté. E essa herança não se muda, não se subestima em troca de estatísticas financeiras ou prováveis “perdas” econômicas.
A maior perda ou prejuízo que possa haver é a não valorização de três séculos de uma História que não se compra, não se vende, não se leiloa, pois não existe dinheiro algum suficiente para se adquirir um grama, se possível fosse.
Que não prevaleça o capitalismo canibal que vem tentando destruir os valores humanos e mudando a percepção daquilo que tem valor histórico e cultural para um povo agraciado graciosamente com uma História tão rica que forjou a sua própria identidade.