Aprendemos com “A Ilíada” que a Grécia, considerada o berço da Democracia Ocidental, abrigava uma constelação de Cidades-Estado, governadas quase sempre por monarcas. Chegou a possuir quatrocentas Cidades-Estado, todas com características próprias, mas ao mesmo tempo muito semelhantes entre si, com dialetos compreensíveis, crenças semelhantes direcionadas ao Olimpo, além de uma paixão pelo debate e pela oratória. Não havia um sentimento de unidade nacional entre os antigos gregos, mas possuíam uma identidade em comum. A democracia teve início em Atenas, século VI a.C.
Independente, quase todas as cidades gregas possuíam textos legais constitutivos. Constituição, isso mesmo. A de Atenas, elaborada por Aristóteles e seus discípulos. Os textos alimentavam uma espécie de coalizão entre os habitantes.
Solidariedade e instinto de defesa, fizeram de Atenas e sua esquadra naval uma unidade política sem precedentes, durante a Antiguidade.
Atenas foi a mais populosa das cidades gregas e emergiu hegemônica após as Batalhas de Salamina e Plateia, quando conseguiu expulsar os persas de seu território.
Platão fundou a Academia em Atenas, ano de 387 a.C e considerava que a política abrigava inúmeros cidadãos inábeis, desconsiderando a nascente democracia como eficaz. De fato, até então, a democracia era uma oligarquia relativamente bem estruturada. Em seu texto “Político”, Platão preferia que homens sábios e capazes liderassem a política.
Platão permanece como um paradigma no horizonte dos debates sobre política.
Quase 2.000 anos mais tarde, em Florença, Nicolau Maquiavel, em plena Renascença, elabora as primeiras linhas dos estudos políticos modernos. Seria “Il Principe” um manual ao contrário de governo? Atualmente, só pode ser lido no anverso, ainda que seja um Manifesto ao Absolutismo.
Embora Maquiavel seja reconhecido como um autor do nascente Absolutismo, acompanhou a iniciativa de Savonarola e apoiou a implementação do regime republicano no Ducado Toscano. Quase lhe custou a vida. Foi perdoado pela família Medici e continuou a elaborar o alicerce do pensamento político.
O que fez com que a família Medici perdoasse Maquiavel? Não conseguimos analisar exatamente a situação, sob pena de estarmos julgando fora de contexto, anacronicamente.
Fica a impressão que Maquiavel laborava por uma política dinâmica, além de ter uma cultura filosófica nas quais, seu apoio ao regime republicano em Florença seria apenas um exercício de sua capacidade.
Florença conseguiu passar por uma experiência republicana 300 anos antes de Paris. A França também teve retorno da monarquia após a Revolução Francesa, assim como Florença.
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José Alencar Galvão de França
A coluna SPQR (SENATUS POPULUSQUAE ROMANUS) aborda questões que têm origem na Antiguidade Clássica, a partir de Atenas e de Roma.