Num momento político que tanto se fala de combater a corrupção, o filme iraniano ‘Um homem íntegro’ é indispensável. Dirigido por Mohammad Rasoulof, recebeu o prêmio “Um certo olhar” em Cannes ao mostrar, com surpreendente crueza, as dificuldades de combater injustiças numa sociedade em que maços de dinheiro vão de um lado para outro decidindo destinos.
Os protagonistas são um homem que vive da criação de peixes e sua esposa, diretora de escola. Ambos têm temperamento forte e lutam pelos seus ideais existenciais e políticos, mas enfrentam uma sociedade em que fazer o correto ou dizer o que se pensa não traz bons resultados.
A cena emblemática nesse sentido é a visão dos peixes mortos quando a água em que ele mantém a sua criação é propositalmente contaminada por um rival. Aves aparecem para se alimentar e o casal as afasta aos gritos e com o balançar dos braços e panos. Drama puro, severo e pleno de intensidade. Perante autoridades corruptas que fazem e aceitam laudos falsificados, parece não haver saída.
Com os aiatolás no poder e um sistema em que as cartas são marcadas, vendidas e compradas, a alternativa é entrar no jogo. E, quando o protagonista se toma essa decisão, para ganhar, é necessário ir ao extremo. Começa assim uma jornada sem volta, em que o poder começa a mudar de mãos numa prática violenta e bem arquitetada, com consequências éticas, morais e psicológicas inicialmente inimagináveis.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.