Eita gente apressada, pra lá e pra cá, nas ruas da vida buscando as promoções. Segue a mãe e a criança, também palpita a avó, enquanto o pai preocupado com o indulto de Natal, desconfia até da sombra. Estoura o cartão, avança no limite do cheque especial, abusa do crediário, mas o importante é aproveitar o desconto – que vai desaparecer quando os juros forem percebidos após a ressaca do Ano Novo.
E lá está o Papai Noel com a barba colada, a barriga de espuma, bocejando um palavrão com o com o calor da roupa. “É agora ou nunca!”, grita a Mamãe Noel na porta do grande magazine. Sorri o sorveteiro enquanto as crianças correm atrás dos pombinhos da praça.
Ali, diante da porta fechada da igreja, um morador de rua, sem grandes pertences além da roupa do corpo, olha para o sol que já vai alto no céu e simplesmente canta os versos do Padre Jonas Abib:
“Senhor, quem entrará no santuário pra te louvar?
Senhor, quem entrará no santuário pra te louvar?
Quem tem as mãos limpas e o coração puro
Quem não é vaidoso e sabe amar
Quem tem as mãos limpas e o coração puro
Quem não é vaidoso e sabe amar
Senhor, eu quero entrar no santuário pra te louvar
Senhor, eu quero entrar no santuário pra te louvar
Ó, dá-me mãos limpas e um coração puro
Arranca a vaidade, ensina-me a amar
Ó, dá-me mãos limpas e um coração puro
Arranca a vaidade, ensina-me a amar
Senhor, já posso entrar no santuário pra te louvar
Senhor, já posso entrar no santuário pra te louvar
Teu sangue me lava, teu fogo me queima
O Espírito Santo inunda meu ser
Teu sangue me lava, teu fogo me queima
O Espírito Santo inunda meu ser”
Ao terminar a música, ele envia um beijo para o céu, sorri com os poucos dentes que lhe restam e desaparece na multidão. Com ele levou também a prioridade do mercado, as angústias em se acumular dívidas, a necessidade de comprar o que não precisa, pois a única coisa que eu gostaria de ter ali naquele momento, era a chave da porta fechada para aquele homem poder entrar.
Por Cláudio Mariotto – Terapeuta
23/12/2017