Principal medida de prevenção ao novo coronavírus, o distanciamento social tem imposto um desafio duplo à educação de crianças e adolescentes: dar eficácia às aulas remotas e organizar a retomada da rotina letiva. Atenta a esse cenário, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) mobilizou seus departamentos científicos para orientar pediatras, pais, educadores e escolas públicas e privadas sobre como cumprir a rotina educacional com segurança.
No momento em que o futuro retorno às aulas presenciais entra em foco, a entidade antecipa recomendações para garantir segurança ao ambiente escolar: retomada gradual do calendário escolar e a divisão das turmas em grupos menores para evitar aglomerações.
“Estamos olhando a questão educacional de forma abrangente, considerando o impacto da pandemia sobre o processo de aprendizagem e os caminhos para a retomada, que deverá acontecer em algum momento”, afirma a dra. Luciana Rodrigues Silva, presidente da SBP. “Nossa tarefa é orientar os pediatras, levando informação qualificada, para que possam apoiar os pais e seus pacientes nesse desafio. As escolas precisam preparar o retorno com antecedência, observando questões técnicas muito importantes”.
Nesta semana, a SBP divulgou dois documentos orientativos, nos quais estabelece um roteiro qualificado e aponta soluções ao desafio de manter a atividade escolar em meio à pandemia. Além de reforçar as melhores práticas enquanto as crianças cumprem a jornada escolar à distância, a entidade oferece ferramental para que as escolas possam planejar e organizar com antecedência a volta às escolas.
Preparada pelos Departamentos Científicos de Imunizações e Infectologia, a nota de alerta “COVID-19 e a volta às aulas” destaca um conjunto de premissas a serem observadas. Entre elas, a SBP destaca a importância de pais e professores buscarem informação qualificada sobre a COVID-19 e recomenda que crianças e profissionais da educação, se doentes, não frequentem a escola.
A entidade também sugere que a escola amplie a oferta de locais para a lavagem das mãos, assim como o provimento de água, sabão e álcool em gel; que aumente a frequência da higienização de espaços e superfícies. A SBP aponta que deve ser dada preferência às atividades ao ar livre e que as escolas devem propiciar ambientes arejados, mantendo as janelas abertas.
GRUPOS MENORES
Entendendo que a prevenção não deve ser flexibilizada mesmo com o possível achatamento da curva de contágio do novo coronavírus, a entidade recomenda também a manutenção das medidas de distanciamento social na escola, pela redução do número de pessoas no mesmo espaço e ao mesmo tempo. Para isso, em um primeiro momento, o número de alunos por sala deve ser reduzido: os alunos podem ser divididos em grupos que se alternem entre a atividade presencial e à distância, de acordo com as disciplinas curriculares.
A nota técnica também sugere que seja estabelecido maior espaçamento entre os alunos dentro da sala de aula, de acordo com a realidade de cada escola, idealmente com espaço mínimo de um metro entre as mesas. O documento aborda, ainda, medidas para uma limpeza e desinfeção eficazes da escola: a recomendação é que os ambientes sejam limpos pelo menos uma vez ao dia e que as áreas de maior circulação de pessoas, assim como dos objetos mais tocados (maçanetas, interruptores, teclados, etc.), sejam desinfetados com mais frequência ao longo de cada período.
Para tanto, a SBP sugere o uso de solução de hipoclorito de sódio a 0,5% para limpar superfícies e de álcool a 70% para pequenos objetos. Também orienta a coleta frequente de lixo e outros resíduos e, ainda, a limpeza frequente dos bebedouros.
APRENDIZAGEM NA QUARENTENA
A SBP também preparou documento técnico avaliando os impactos e possíveis consequências da pandemia sobre o processo de aprendizagem de crianças e adolescentes, com uma reflexão sobre os desafios e demandas colocados para pediatras, pais e educadores nesse período em que os alunos cumprem a jornada escolar em casa.
Preparada pelo Departamento Científico de Saúde Escolar da SBP, a nota de alerta “O ano letivo de 2020 e a COVID-19” aborda o novo cenário criado pela crise sanitária e oferece informações valiosas para que os médicos possam apoiar e orientar crianças, adolescentes e seus familiares.
No documento, a entidade avalia que as escolas passaram a atuar usando modelos e técnicas diferentes dos habituais e já consagrados, com consequências ainda desconhecidas sobre a aprendizagem. “Cabe ao pediatra orientar para a manutenção de um ambiente equilibrado e favorável para a continuidade das aprendizagens escolares, atentando para as necessárias adaptações da rotina familiar. Nesse momento, o trabalho dos professores e o esforço das escolas não devem ser criticados negativamente”, destacam os especialistas.
Ainda de acordo com o DC de Saúde Escolar, as atividades não presenciais, impostas pela quarentena, o isolamento e o distanciamento social são apenas uma parte, muito importante, do problema global. A exigência legal de cumprir um mínimo de dias letivos provocou alterações drásticas no calendário escolar, com antecipação de férias e oferta de atividades remotas.
No entanto, a indefinição de quando as aulas presenciais irão retornar fazem supor que tais medidas serão insuficientes para garantir um ano letivo com qualidade. O contato remoto tem o potencial de mudar a relação entre as escolas e as famílias, com repercussões variadas (eventualmente, algumas podem até ser positivas, mas, a maioria, negativas ou incertas), criando mudanças nas rotinas das crianças e adolescentes.
“Tais mudanças terão impacto no rendimento escolar no curto e médio prazo e poderão afetar a saúde física e mental dos estudantes”, salienta trecho do documento da SBP.