A poetisa e escritora potiguar, Aldenita de Sá Leitão, homenageia a abertura da Primavera, às 17 horas, dia 22 de setembro, com a ode – As Xananas – palavra que se escreve com “ch” ou “x”, em licença poética de expressão.
O poema de Aldenita foi, também, publicado no Jornal de Natal, em 18 de junho de 2001, página 21, na coluna Mulher; bem como, lido num evento literário público, no verão de 2006, em uma praça de Sintra, Portugal.
As Xananas
Ah, eu não sabia que se chamavam “Xananas” as florzinhas singelas e despretensiosas que, espontânea e generosamente, brotam em pequenos acumulados de areia ou em canteiros previamente preparados, como vemos em algumas ruas de nossa cidade, tornando, assim, bucólica nossa paisagem urbana.
Acho que são florzinhas nascidas do tempo, do sol, ao acaso, já tantas vezes agredidas pelas mãos do homem, ou melhor, pelos pés do homem e máquinas por ele comandadas, sem sensibilidade, sem respeito à fragilidade da “alma vegetal”.
Após a leitura gostosa de uma crônica poética do escritor Diógenes da Cunha Lima, “Flor de Natal”, in: “Natal – Biografia de uma Cidade”, comecei a descobrir que a referida florzinha já é minha conhecida, mas não sabia que se chamava Xanana.
Simplesmente, a incluí no grupo de florzinha silvestre e assim a chamava.
São Xananas as mesmas florzinhas da minha infância: cinco pétalas peroladas, que se abrem para os nossos olhos e que, mesmo sem um perfume que as caracterize, têm o cheirinho “de mato” nosso, nordestino, por que não brasileiro? São as mesmas florzinhas que, quando menina, colhia da natureza, enfeitava os cabelos e, durante o mês de maio, colocava algumas, em vaso, no altarzinho de Nossa Senhora, em casa, para rezarmos o terço durante aquele mês.
Xanana é um nome brincalhão, alegre, carinhoso que aconchega nas suas letras o gesto de colhê-la.
Certo dia, minha mãe me trouxe (conhecedora do meu desejo) uns pezinhos de Xanana para encher um canteiro do meu pequeno jardim. E não é que as florzinhas já estão se abrindo, alegres, recebendo abraços do sol, carícias do vento? Surpreendi, por algumas vezes, pássaros românticos beijando as florzinhas que enchem meu canteiro de cores, meus olhos de alegria. Flor-de Natal, flor-do-dia, flor-do-sol, flor-símbolo-de-Natal, por que não flor-dos poetas?
Logo cedo, depois do sol raiar, encontrei o que buscava: As Xananas ainda, orvalhadas, à espera da fotografia de homenagem à Estação das Flores.
Por Tibério de Sá Leitão