Em maior ou menor escala, encontramos a repercussão do Brasil e sua cultura em vários países africanos de língua portuguesa. Entrevistas dos participantes da Geração dos Novos Intelectuais de Angola, responsáveis pela modernidade literária em Angola, confirmam a relevância do legado brasileiro.
E se vamos diretamente aos textos, observamos, por exemplo, a eleição de Pasárgada, a imagem celebrada no famoso poema de Manuel Bandeira, à categoria de ícone na poesia cabo-verdiana. Oswaldo Alcântara, Jorge Barbosa, Onésimo Silveira e Ovídio Martins, na diversidade de suas propostas poéticas, tiveram com o poeta brasileiro uma significativa interlocução. Poemas como “Itinerário de Pasárgada” e “Anti-evasão” atestam a dimensão da cultura brasileira na trajetória da poesia no arquipélago.
É fato que a coincidência da língua favorecia, mas a experiência colonial brasileira e as tentativas de superação dessa condição pela nossa literatura interessavam aos africanos preocupados com o projeto de nação em espaços marcados pela pluralidade étnica e lingüística. A dimensão política do processo precisava, necessariamente, articular-se à dinâmica cultural, e é nítido o esforço pelo resgate de matrizes nos projetos de identidade afinados com a noção de independência que ganhava força.
Nesse aspecto, era imprescindível considerar o problema das culturas tradicionais e a relação que a literatura estabeleceria com um patrimônio essencial no cotidiano da população desses territórios. Não nos podemos esquecer que a língua portuguesa, sendo aquela identificada com a civilização e a modernidade, não estava verdadeiramente disseminada pelas colônias. E que a escrita era um autêntico privilégio de uma para reduzidíssima da população.
Em Angola e Moçambique, por exemplo, à altura da independência, a taxa de alfabetização não chegava a 10%.