Honrando cultura e tradição da cidade, herdeiros do “Zé Capão” executam pintura e homenageiam a comunidade
Quem chega a Ubatuba e percorre a rodovia Oswaldo Cruz sentido centro, logo se depara com o trevo que dá acesso às regiões norte, sul e central do município. Nele, é impossível não notar a grande estátua de um caiçara e seu remo dando às boas-vindas à Capital do Surfe.
Conhecido como Zé Capão, o monumento é uma homenagem à comunidade caiçara, representada por um dos seus: José Vieira Mendes, a quem foi dado tal apelido. Além de pescador, ele foi funcionário público do município dentre outras tantas histórias contadas por antigos amigos e conhecidos.
Intervenção
Após passar por uma higienização, a estátua ganha um toque especial: o remo que ele mantém nas mãos está recebendo uma pintura, que também é representação do artesanato tradicional na cidade.
O responsável pela arte é o neto do homenageado: o skatista e artista plástico, Cristiano Vieira Mendes –o “Tiano”, em conjunto com seu pai, Waldir Vieira Mendes – conhecido como D’Águas. A ação está acontecendo com o apoio da Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba – Fundart e de um empresário local de uma loja de tintas.
“Em uma conversa com o presidente da Fundart, Gady Gonzalez, surgiu a ideia de iniciar a fazer a pintura do remo do pescador. Como a história do remo tem a ver com meu pai e a memória dos meus avós, sugeri a chamá-lo para pintar junto e é o que estamos fazendo”, compartilhou.
Tiano ainda disse que a execução da pintura levou cerca de uma semana. A arte do remo foi finalizada nesta quarta-feira, 06, e, agora aguarda apenas a aplicação de resina para conservação. É necessário esperar a tinta secar e, também, contar com a ajuda meteorológica. A entrega oficial acontecerá no dia do aniversário da cidade, celebrado em 28 de outubro.
“A ideia é oferecer a intervenção no remo como um presente para Ubatuba. Essa é a proposta”, destacou o artista.
Significado
Tiano compartilhou um pouco do sentimento e do significado da ação.
“Essa estátua foi feita para todos os caiçaras. Não se restringe somente a minha família. Meu pai sempre fala que meu avô foi um pescador lendário da Boca da Barra. Era contador de histórias, coveiro e padeiro – uma peça emblemática da cultura caiçara. Ficamos honrados com o convite para a intervenção ter sido feito para nós, que somos da família dele. É bom destacar que a escultura foi feita por um outro artista. A gente fica feliz em saber que isso fortalece mais a cultura caiçara da nossa cidade, bem na entrada (de Ubatuba). É mostrar como a nossa cultura sobrevive”.
Mais sobre Tiano
O artista é bem conhecido na cidade: além de possuir um ateliê, pois é professor de artes formado pela Escola Panamericana de Arte e Design de São Paulo, é referência de irreverência no modo de pintar – que já lhe rendeu várias premiações nos Salões Ubatuba de Belas Artes; sua trajetória ainda é marcada pelas intervenções artísticas espalhadas pela cidade, como pontos de ônibus (alguns pintados também em parceria com outros artista e o coletivo Néctar Caiçara) e o totem/letreiro de Ubatuba que fica no Píer Comodoro Magalhães – do qual também participou da pintura.
Suas “obras” mais recentes foram a personalização de um carro de uma loja de tintas e, destacando os monumentos da cidade, a revitalização da estátua de São Pedro localizada no mirante da região central.
Zé Capão
José Vieira Mendes, mais conhecido pelo apelido de Zé Capão, nasceu em Ubatuba, em 19 de março de 1912, e faleceu em 04 de março de 1974. Foi funcionário público municipal, pescador e carnavalesco.
“Não tive a felicidade de conhecer meu avô, que faleceu dois anos antes de eu nascer. Mas conheci minha avó, que me contava muitas histórias. Ele vivia da pesca, vendendo o peixe dele com um carrinho de mão de madeira. Eles moravam no centro da cidade, então, tem muita história boa. É isso mesmo que falam dele”, finalizou Tiano.