Antes de responder a esta pergunta, é preciso lembrar que, nos primeiros séculos do Cristianismo, houve a contribuição significativa de grandes escritores, muitos deles também bispos e santos, chamados de “Padres da Igreja”, os quais colocaram as bases da doutrina cristã para as novas culturas, especialmente a grega e a latina. O mais importante dos “Padres” da língua latina foi Santo Agostinho, que viveu entre 354 e 430.
Homem de paixão e de fé, de grande inteligência e incansável solicitude pastoral, este santo e doutor da Igreja é muito conhecido, pelo menos de fama, inclusive por quem ignora o cristianismo ou não tem familiaridade com ele, porque deixou uma marca muito profunda na vida cultural do Ocidente e de todo o mundo. Pode-se dizer que todo o pensamento da antiguidade conflui na sua obra e dela derivam correntes de pensamento que permeiam toda a tradição doutrinal dos séculos sucessivos.
O pai de Agostinho, de nome Patrício, não era cristão e permanecera pagão até a véspera de sua morte. Já a mãe, Mônica, era uma cristã fervorosa. O jovem Agostinho tinha um espírito vivo, natureza emotiva, de uma sensibilidade excessiva, aluno indisciplinado, demasiado seguro de suas qualidades. Ele vai juntar-se a jovens desordeiros, quando estuda em Cartago, como ele mesmo atesta no livro das “Confissões” (III,1). Conviveu, depois, até sua conversão, com uma moça, que lhe deu um filho, de nome Adeodato, nascido em 372.
Em 374, começou a seguir a seita dos Maniqueus, cuja moral não era muito exigente. Mas sua procura pela verdade deixa-o, aos poucos, insatisfeito com as teorias dos Maniqueus.
Transferiu-se, em seguida, para Roma, e depois para Milão, para dar aula de retórica. Em Milão, Agostinho adquiriu o costume de ouvir, inicialmente para enriquecer a sua capacidade de orador, as lindíssimas pregações do Bispo Ambrósio. Aos poucos, a mensagem deste santo bispo atingiu cada vez mais o seu coração. Começou a apreciar a Bíblia e a entender que todo o Antigo Testamento é um caminho rumo a Jesus Cristo. Iniciou, então, a leitura da Bíblia, sobretudo das Cartas de São Paulo.
Seu olhar caiu na passagem da epístola aos Romanos (13,13-14), onde o Apóstolo exorta a abandonar as obras da carne e a revestir-se de Cristo. Tinha compreendido que aquela palavra, naquele momento, se dirigia pessoalmente a ele, vinha de Deus através do Apóstolo e indicava-lhe o que fazer naquele momento. Sentiu assim dissipar-se as trevas da dúvida e encontrou-se enfim livre de se doar totalmente a Cristo: “Tinhas convertido a ti o meu ser”, comenta ele (Confissões, VIII, 12). Foi esta a primeira e decisiva conversão.
Assim, aos trinta e dois anos, Agostinho foi batizado por Ambrósio. Juntamente com ele, foi batizado o filho Adeodato, que morreria poucos anos depois.
Sua mãe, Mônica, tinha acompanhado o filho até Milão. Ela rezou muito para que o filho se convertesse. Podemos, então, dizer que a conversão de Agostinho foi obra da Graça de Deus, que atendeu às orações da sua mãe e, através da pregação de Ambrósio, iluminou sua mente.
Depois do batismo, Agostinho decidiu regressar à África com alguns amigos, com a ideia de praticar uma vida comum, de tipo monástico, a serviço de Deus, na cidade de Hipona. Nesta cidade da beira-mar africana, apesar das suas resistências, foi ordenado presbítero em 391; e, quatro anos mais tarde, em 395, foi sagrado Bispo. Entre suas atividades de pastor, destacou-se como escritor.
Agostinho é o Padre da Igreja que deixou o maior número de obras e, através dessas, ele continua sendo nosso “mestre”. Por isso, a Igreja o considera “doutor”. O seu biógrafo Possídio afirmou parecer impossível que um homem pudesse escrever tantas coisas durante a vida.
Em poucas palavras não dá para apresentar a grandeza deste santo. Limito-me a concluir com uma frase dele que lemos nas Confissões: “Fizeste-nos para Ti, ó Senhor, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti.” (Confissões 1,1).
* Lino Rampazzo é Doutor em Teologia e coordenador do Curso de Teologia da Faculdade Canção Nova (Cachoeira Paulista)