Jornalista do primeiro escalão da Rede Globo, o repórter Francisco José conta os bastidores das histórias, micos e grandes reportagens em 40 anos de carreira, numa obra de 246 páginas. A apresentação do livro é do repórter do Globo Rural, José Hamilton Ribeiro, que descreve o, prodígio Chico José, repórter nordestino, no âmbito da TV.
O livro é prefaciado pela jornalista da TV Globo, Sônia Bridi, e a orelha do livro é pelo repórter especial, Marcelo Canellas, da mesma emissora.
Em abril, vai ao ar, mais um programa que soma os 98 Globo Repórteres apresentados por Francisco José, na perspectiva de este ano completar o Globo Repórter de número 100, a maior reportagem da televisão brasileira. Ele que, por último, esteve gravando durante um mês na Micronésia, Oceania.
Nos meados da década de 80, eu, potiguar, nascido em Natal (RN), conheci, oportunamente, o repórter da Rede Globo, Francisco José, de quem escutei palavras de preservação à ética jornalística. Período em que trabalhei na recepção do hotel Vila do Mar, via costeira, na Cidade do Sol. À época, além das factuais, o repórter fez as primeiras coberturas das riquezas minerais, e das reservas de belezas nativas – turísticas – do Rio Grande do Norte.
Meu avô, Aldemar de Sá Leitão, comunicador social, pioneiro da radiodifusão na cidade de Assu (RN), além de outras benfeitorias. Ele citava o clichê nordestino: “cabra bom não bebe água, bebe chumbo derretido”. Em tom jocoso, mas com sentido de firmeza, por aquilo que um Homem de bom senso, edifica, em vida.
Ad perpetuam rei memoriam – para lembrança perpétua das coisas – de boas intenções.
Todo o dinheiro obtido com a vendagem da obra é destinado à Fundação Terra, criada pelo padre Airton Freire, que realiza trabalho assistencialista e de saúde, na zona semiárida do Agreste do Estado de Pernambuco.
O livro é dedicado aos repórteres cinematográficos, responsáveis pelas imagens, razão da televisão existir. Disse o autor em suas entrevistas.
Transcrição de um trecho da obra
“VOCÊ DEVE TER ESTRANHADO as citações de muitos nomes que não são conhecidos nem identificam personalidades famosas. Delé, Doido, cg, Rafa, Luiza, Almeida, San, Edison, Augusto, Quirino e tantos outros. Mas o objetivo de 40 anos no ar é esse mesmo, homenagear personagens que são da maior importância na execução das reportagens mas permanecem anônimos, pois essa é uma profissão que depende da atuação de todos. É como uma equipe de futebol bem entrosada em busca de grandes vitórias.
Sem imagens, pouco valem as palavras. Sem o áudio, não vamos ouvir a narração da partida nem a comemoração da plateia. Sem iluminação, o espetáculo é cancelado. Se as peças do equipamento falham, precisam de um técnico para consertar. A tática do jogo vem da reunião de pauta. Se estamos falando do passado, temos que recorrer ao arquivo. Se planejamos o futuro, a produção entra em ação. Para mostrar um futebol bem entrosado, de toques de bola, bem objetivo, dependemos de um bom treinador, de uma boa finalização, de um conjunto perfeito.
A televisão é um exemplo de trabalho coletivo, como a atuação de um jogador, que depende da participação dos outros atletas. Se a bola não chegar ao artilheiro, não há como comemorar o gol. É um time em que todos podem ser goleadores. Em um minuto ao vivo, no ar, o repórter tem o domínio do jogo, mas uma equipe inteira é mobilizada para aquele momento, cada vez mais importante nas grandes coberturas e tão fundamental quanto a cobrança de um pênalti. Posicionar-se diante da câmera para transmitir a notícia é como entrar em campo para atuar com segurança e ganhar de goleada. E, cada, gol, a comemoração deve ser com a participação daqueles que contribuíram para a vitória, com um abraço, um aceno, um sinal positivo de apoio e reconhecimento, mesmo que o restante do elenco esteja fora do campo, atuando nos bastidores.
Para alcançar o sucesso é prioritário vestir a camisa do time e partir para o abraço, batendo com a mão direita no peito, extravasando o sentimento do coração. Nunca fui um atleta de subir ao pódio para receber medalhas. Sempre fui um peladeiro briguento, matuto do sertão, que lutou para vencer.
Se estou há quarenta anos no ar, fiz por merecer. Já atuei em várias posições, como um autêntico coringa, numa constelação de estrelas globais. Para mim é natural falar sobre futebol, estar no fundo mar, no alto das montanhas, no interior da floresta ou na bancada de um debate político. Se pudesse optar, estaria sempre em contato com a natureza, voltando no final de cada missão ao aconchego da minha iluminada família, como quem marca um gol de placa, uma explosão de amor na minha vida.”
Por Tibério de Sá Leitão – Diário de Taubaté