A tecnologia é fator que sempre teve grande influência no mundo cinematográfico. Ela é responsável por tornar realidade os sonhos e ideias dos cineastas que, por muitas vezes, são visionários e precisam de recursos que ainda nem existem. Bom exemplo para isso é o diretor James Cameron, que esperou todo o tempo necessário para dar continuidade ao seu Exterminador do Futuro nas décadas de 80 e 90, bem como faz o mesmo, até hoje, para a sequência de Avatar. Em outros casos o caminho parece inverso. Filmes parecem ser realizados como uma forma de teste para as inovações tecnológicas. Nesse campo entra Projeto Gemini.
O chamariz principal da vez é um recurso nem tão novo assim. A ideia de rejuvenescer o elenco vem sendo usada cada vez mais nos últimos anos, mas aqui a sacada foi trazer Will Smith, queridinho do público, em dose dupla. É inegável o carinho que muita gente tem pelo ator por tê-lo visto em Um Maluco no Pedaço, época em que ficou famoso. Trazendo de volta aquele Will para contracenar com o atual Will é, por si só, um apelo emocional interessante que chama a atenção. O efeito, que já pode ser considerado dominado pela indústria, é muito bem feito e crível na maior parte das cenas, trazendo nostalgia e um certo estranhamento natural com a situação. A grande inovação, porém, é por conta de outro fator nem tão conhecido assim.
Antes de mais nada, vale a explicação. Um vídeo ou um filme nada mais é que a exibição de várias “fotos” do momento da gravação em rápida sequência. No cinema, o modelo clássico é dado pelo padrão de 24 dessas “fotos” na tela a cada segundo, o que é chamado de quadros por segundo. Projeto Gemini vai muito além do padrão estabelecido e roda o filme, nas salas mais modernas, com a taxa de 60 quadros por segundo, tendo sido gravado a 120 quadros. Esse aumento de taxa torna toda a movimentação na tela muito mais fluída e nítida, ajudada pela tecnologia 4k, na qual a produção também pôde contar. Com isso, a fluidez da imagem se aproxima muito mais da realidade por ser, aproximadamente, a taxa que o olho humano enxerga e, aliada ao 3D, dá ao público uma sensação maior de estar presente na cena. Se isso tudo é bom ou ruim, vai da experiência pessoal de cada espectador. A taxa padrão de 24 quadros por segundo sempre foi estabelecida justamente por distanciar as películas da realidade, causando um efeito de lentidão para simular a arte de como seria assistir a um sonho. Com a alta taxa de 60 quadros, apesar de ganhar em nitidez e sensação de realismo, a projeção parece com as imagens que vemos na TV de casa e, assim, perdem um pouco da magia do cinema.
Embora pareça muito destaque dado ao modo de gravação e reprodução, podemos dizer que, infelizmente, essa é mesmo a maior notoriedade de Projeto Gemini. A direção de Ang Lee, conhecido por outros projetos envolvendo tecnologias de ponta como O Tigre e o Dragão (2000), Hulk (2003) e As Aventuras de Pi (2012), é eficiente e evidencia todo um trabalho em prol do que tem em mãos. O diretor demonstra domínio em adaptar a forma de filmar e enquadrar a ação para a melhor utilização do 3D+, nomenclatura utilizada comercialmente. Mas apesar de todo o esmero visual de toda a produção, fica claro que o longa nasceu para mostrar ao mundo do que o cinema desse século é capaz e, com isso, esquecendo-se de outro fator tão importante quanto a maneira de filmar: o roteiro, ou seja, a história contada através de tanta novidade.
Ainda que conte com um Will Smith dedicado ao projeto, atuando bem em ambas as idades em que aparece no filme, em grande comunhão com o elenco de apoio formado pelo sempre bom Clive Owen e a excelente Mary Elizabeth Winstead, o roteiro não dá espaço para desenvolvimento dos personagens, deixando todos eles nadando em águas bem rasas enquanto são motivados por uma trama simples, típica do gênero de ação. As já mais elaboradas cenas de perseguição entregam um bom entretenimento, uma filmagem limpa que não atrapalha a ação e sequências mais longas, favorecidas pela tal fluidez dos 60 quadros por segundo. Há também alguns planos pensados para o 3D, que apontam objetos contra a câmera e soam tão datados quanto bregas.
Em tempos em que Missão: Impossível se torna melhor a cada sequência e John Wick revoluciona o gênero, Projeto Gemini é, para os entusiastas, muito mais uma experiência sensorial em que testamos nossos sentidos, a visão em especial, para aquela que seja, talvez, a próxima geração da sétima arte.