Evali, termo em inglês criado para definir nova doença pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônico, já é vista como uma epidemia de curto prazo como efeitos ainda desconhecidos. Esta é a avaliação do médico e pesquisador do Hospital Oswaldo Cruz, Elie Fiss, especialista no estudo e tratamento de doenças respiratórias.
De acordo com o pesquisador, a dimensão do problema fica evidente pelos dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos que, desde o final de agosto deste ano, já registrou 1.604 casos de doenças e 34 mortes causadas pelo uso de cigarros eletrônicos. Um relatório da agência americana aponta ainda que diversos adultos (entre 18 e 35 anos) apresentaram falta de ar, náuseas, vômitos, dor abdominal e febre após usar óleo de maconha ou outros compostos concentrados em cigarros eletrônicos. “A situação é tão grave que a comunidade médica já definiu um novo termo para se referir às lesões. O combate é urgente”, afirma Fiss.
O médico afirma que a causa exata dessas doenças, inclusive uma denominada pneumonia lipoide, ainda não é clara. Uma das hipóteses é que a mistura líquida usada no cigarro eletrônico provocaria depósito de gordura nos alvéolos dos pulmões, o que impediria a respiração normal. O especialista diz que “por não haver combustão do tabaco, e consequentemente, a produção de centenas de substâncias cancerígenas, criou-se a ilusão de que seu uso seria menos prejudicial aos pulmões e ao organismo como um todo”. Essa ilusão é justificada pelo amplo consenso que se tem hoje sobre os malefícios do cigarro.
Tudo começou na década de 50, quando surgiram as primeiras pesquisas associando o tabaco ao câncer de pulmão. A partir de 1990, com a implementação de rígidas leis de controle de tabaco em todo mundo, observou-se queda no número de cigarros consumidos em diversos países, entre eles o Brasil.
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) divulgados em fevereiro deste ano, o consumo de cigarros per capita no Brasil reduziu-se em 65% entre 1980 e 2010. Algumas das políticas públicas antifumo mais eficazes foram a obrigatoriedade de imagens de advertência em maços de cigarro, que entrou em vigor em todo o país em 1º de fevereiro de 2002, e a Lei Antifumo, que entrou em vigor em 2009 — a princípio válida apenas no Estado de São Paulo e dentro de ambientes fechados de uso coletivo, como bares, restaurantes e corredores.
Posteriormente, a lei ganhou força nacional e começou a valer também em locais parcialmente fechados. O cigarro eletrônico, por sua vez, foi proibido no país 2009, mas pouco se sabe sobre o dispositivo e seus malefícios.
Mas, afinal, quais são as diferenças entre o cigarro comum e o cigarro eletrônico? A principal delas está no modo de funcionamento. Enquanto o cigarro comum funciona por combustão, o cigarro eletrônico funciona por vaporização. O cigarro comum, que contém milhares de substâncias tóxicas, é queimado por meio de um processo físico. Essas substâncias são então inaladas na fumaça e absorvidas pelo organismo do fumante. As três mais famosas são nicotina, alcatrão e monóxido de carbono. A nicotina, substância responsável pela sensação de
prazer e saciedade proporcionada pelo cigarro, causa dependência química. Quando os níveis da substância no corpo do fumante começam a baixar, ele sente ansiedade e pode chegar a ter crises de abstinência. O alcatrão consiste na mistura de, pelo menos, 4 mil compostos químicos, muitos deles cancerígenos. O monóxido de carbono, por sua vez, diminui a capacidade das células vermelhas do sangue de transportar oxigênio.
Já o cigarro eletrônico, como dito anteriormente, funciona por vaporização. Uma mistura líquida, geralmente feita, sobretudo, com álcool, água, glicerina, além de tetrahidrocanabinol (THC) – psicoativo das plantas do gênero Cannabis, muitas vezes adicionado ao cartucho de nicotina – é aquecida por uma bateria no reservatório do
cigarro, formando vapor. A fumaça é inalada pelo fumante e as substâncias caem na corrente sanguínea.
No entanto, o fumante continua consumindo nicotina, que, além de causar dependência, pode acarretar problemas cardiovasculares como infarto e outras doenças coronárias. Isso ocorre porque a nicotina provoca o aumento da pressão arterial, dos batimentos cardíacos, além de constrição dos vasos.