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domingo 22 setembro 2024
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Pneumologista aponta epidemia de doenças pulmonares causadas por cigarros eletrônicos

Pneumologista aponta epidemia de doenças pulmonares causadas por cigarros eletrônicos

Evali, termo em inglês criado para definir nova doença pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônico, já é vista como uma epidemia de curto prazo como efeitos ainda desconhecidos. Esta é a avaliação do médico e pesquisador do Hospital Oswaldo Cruz, Elie Fiss, especialista no estudo e tratamento de doenças respiratórias.

De acordo com o pesquisador, a dimensão do problema fica evidente pelos dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos que, desde o final de agosto deste ano, já registrou 1.604 casos de doenças e 34 mortes causadas pelo uso de cigarros eletrônicos. Um relatório da agência americana aponta ainda que diversos adultos (entre 18 e 35 anos) apresentaram falta de ar, náuseas, vômitos, dor abdominal e febre após usar óleo de maconha ou outros compostos concentrados em cigarros eletrônicos. “A situação é tão grave que a comunidade médica já definiu um novo termo para se referir às lesões. O combate é urgente”, afirma Fiss.

O médico afirma que a causa exata dessas doenças, inclusive uma denominada pneumonia lipoide, ainda não é clara. Uma das hipóteses é que a mistura líquida usada no cigarro eletrônico provocaria depósito de gordura nos alvéolos dos pulmões, o que impediria a respiração normal. O especialista diz que “por não haver combustão do tabaco, e consequentemente, a produção de centenas de substâncias cancerígenas, criou-se a ilusão de que seu uso seria menos prejudicial aos pulmões e ao organismo como um todo”. Essa ilusão é justificada pelo amplo consenso que se tem hoje sobre os malefícios do cigarro.

Tudo começou na década de 50, quando surgiram as primeiras pesquisas associando o tabaco ao câncer de pulmão. A partir de 1990, com a implementação de rígidas leis de controle de tabaco em todo mundo, observou-se queda no número de cigarros consumidos em diversos países, entre eles o Brasil.

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) divulgados em fevereiro deste ano, o consumo de cigarros per capita no Brasil reduziu-se em 65% entre 1980 e 2010. Algumas das políticas públicas antifumo mais eficazes foram a obrigatoriedade de imagens de advertência em maços de cigarro, que entrou em vigor em todo o país em 1º de fevereiro de 2002, e a Lei Antifumo, que entrou em vigor em 2009 — a princípio válida apenas no Estado de São Paulo e dentro de ambientes fechados de uso coletivo, como bares, restaurantes e corredores.

Posteriormente, a lei ganhou força nacional e começou a valer também em locais parcialmente fechados. O cigarro eletrônico, por sua vez, foi proibido no país 2009, mas pouco se sabe sobre o dispositivo e seus malefícios.
Mas, afinal, quais são as diferenças entre o cigarro comum e o cigarro eletrônico? A principal delas está no modo de funcionamento. Enquanto o cigarro comum funciona por combustão, o cigarro eletrônico funciona por vaporização. O cigarro comum, que contém milhares de substâncias tóxicas, é queimado por meio de um processo físico. Essas substâncias são então inaladas na fumaça e absorvidas pelo organismo do fumante. As três mais famosas são nicotina, alcatrão e monóxido de carbono. A nicotina, substância responsável pela sensação de
prazer e saciedade proporcionada pelo cigarro, causa dependência química. Quando os níveis da substância no corpo do fumante começam a baixar, ele sente ansiedade e pode chegar a ter crises de abstinência. O alcatrão consiste na mistura de, pelo menos, 4 mil compostos químicos, muitos deles cancerígenos. O monóxido de carbono, por sua vez, diminui a capacidade das células vermelhas do sangue de transportar oxigênio.

Já o cigarro eletrônico, como dito anteriormente, funciona por vaporização. Uma mistura líquida, geralmente feita, sobretudo, com álcool, água, glicerina, além de tetrahidrocanabinol (THC) – psicoativo das plantas do gênero Cannabis, muitas vezes adicionado ao cartucho de nicotina – é aquecida por uma bateria no reservatório do
cigarro, formando vapor. A fumaça é inalada pelo fumante e as substâncias caem na corrente sanguínea.
No entanto, o fumante continua consumindo nicotina, que, além de causar dependência, pode acarretar problemas cardiovasculares como infarto e outras doenças coronárias. Isso ocorre porque a nicotina provoca o aumento da pressão arterial, dos batimentos cardíacos, além de constrição dos vasos.