Quando, em casa, deixamos de molhar nossas plantas é quase certo que elas acabem morrendo. Mas como será que plantas maiores, como arbustos e árvores, se comportam com a falta d’água, seja por conta da mudança no regime de chuvas seja pelo uso do lençol freático pelo homem?
É o que a pesquisa da doutoranda Cristina Maria Nunes Antunes (do programa de Ecologia do IB/Unicamp) está tentando responder. “Minha pesquisa é para entender como a vegetação de floresta costeira responde à variação de água subterrânea em diferentes climas”, conta. Para alcançar os resultados, as áreas estudadas estão em Portugal, na Espanha e no Brasil. O projeto envolve financiamento da FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia) de Portugal, da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), da Fundação Nacional Portuguesa, da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) – através do Programa BIOTA, e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) – através do Programa de pesquisas de Longa Duração/PELD. A pesquisadora faz parte também da equipe do Projeto ECOFOR, financiado pela FAPESP, através do Programa BIOTA, e do Conselho Nacional de Pesquisas Ambientais da Grã-Bretanha (NERC da sigla em inglês).
Na Europa, onde foi feita a primeira parte do trabalho em florestas costeiras assentes em solos arenosos, os resultados apontam que condições mais secas fazem com que arbustos higrófitos e árvores coníferas desloquem a profundidade de absorção de água para camadas mais profundas do solo.
Apesar desses ajustes de absorção de água, as plantas da Espanha não foram capazes de compensar totalmente o stress causado pelas condições do verão e pela elevada profundidade do lençol freático.
Já no Brasil, as plantas de restinga da Mata Atlântica (áreas junto ao mar que ficam temporariamente alagadas), sob um regime de chuvas maior e lençol freático mais superficial que as europeias, utilizam água mais profunda (50 cm) quando chove menos. Embora os estudos não estejam concluídos, os resultados das fontes de água usadas pelas plantas parecem caminhar na mesma direção. O próximo passo será entender como o estado fisiológico das plantas muda com a redução de água. “Foram estudados diferentes grupos funcionais de plantas que reagiram da mesma forma ao regime de chuva sazonal, ajustando a sua absorção de água. Mas esse ajuste pode não significar o aumento de desempenho global desses tipos funcionais em condições de baixa disponibilidade de água no solo”, salientou
Para saber de onde está retirando água, se da chuva, do solo ou do lençol freático, são feitas análises de isótopos estáveis de oxigênio nas plantas. “As diferentes fontes de água têm marcas próprias, distintas umas das outras. Uma delas é a razão isotópica dos isótopos estáveis de oxigênio. Analisando essa assinatura e comparando com a encontrada na água dentro da planta, podemos identificar qual recurso hídrico está sendo usado”, explicou.
Mais atenção
Esta investigação sugere que o aumento da exploração de águas subterrâneas, combinado com condições climáticas mais secas, irá modificar a utilização de recursos hídricos e o estado fisiológico de certas espécies de plantas no futuro. Com a pesquisa concluída, será possível identificar possíveis “zonas de alerta” de acordo com o comportamento das plantas, evitando assim seu desaparecimento. “No caso dos estudos feitos no Mediterrâneo, caso percebamos que certas plantas estão em stress pela limitação de água subterrânea, podemos emitir alertas de que a retirada de água desses lençóis deve ser reduzida, com o risco de certas espécies desaparecerem. Se encontrarmos um indicador global de stress provocado pela variação do freático para florestas costeiras, podemos contribuir para o diagnóstico prévio de situações de degradação dessas comunidades e melhorar o manejo e conservação de plantas vulneráveis a variações do freático”, conclui.
Finalizando, Antunes lembrou que a vegetação consegue se adaptar às mudanças quando elas ocorrem de maneira mais lenta. Mas a intervenção do homem acaba acelerando os processos, muitas vezes vencendo a capacidade de adaptação desses seres, podendo levar à transformação de habitats ou à extinção de espécies.