Nos próximos dois anos, apenas 19% dos brasileiros pretendem ter filhos, 17% por gravidez e 2% por adoção. É o que mostra uma pesquisa sobre natalidade, divulgada pelo Ibope. Do total de entrevistados, 79% não pretendem ter filhos até 2020, e 2% não sabem.
A pesquisa do Ibope foi realizada entre os dias 15 e 18 de março com 1.491 pessoas com mais de 16 anos, em 143 municípios de todas as regiões do país.
Para a demógrafa e diretora da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Paula de Miranda Ribeiro, as pessoas adiam os planos de ter filhos por razões diversas, como a maior participação da mulher no mercado de trabalho e maior escolaridade. “Existe o efeito tempo e quanto. Se eu tenho um filho mais jovem, tenho tempo para ter mais filhos. Mas se eu tenho esse desejo e investi na carreira até os 40 [anos], eu posso não conseguir”, disse, explicando que o Estado não favorece as boas condições para a mulher conciliar a maternidade com a vida profissional.
Segundo ela, sustentar materialmente um filho é uma coisa que custa muito caro no Brasil.
“Em países onde a saúde e a educação pública são de qualidade, por exemplo, esse custo é menor para as famílias”, disse, explicando que mesmo as pessoas com nível socioeconômico mais baixo tendem a ter menos filhos para garantir condições melhores de vida.
O Nordeste é a região onde as pessoas estão mais abertas à maternidade/paternidade, 19% pretendem ter filhos biológicos e 3% querem adotar uma criança. Lá, 76% não pretendem ter filhos. Na Região Sul, apenas 11% pretendem ter filhos biológicos, e 87% não pretendem nos próximos dois anos.
No Sudeste, 18% querem filhos biológicos e 2% querem adotar; 77% não pretendem ter filhos. No período de dois anos, nas regiões Norte e Centro-Oeste, 16% dos entrevistados pretendem ter filhos, por meio de uma gravidez e 1% por adoção; 82% não querem filhos.
Parto natural ou cesária
Entre os que pretendem ter filhos, 76% querem o parto normal em uma maternidade ou hospital, e 3% querem o parto em casa. Mesmo no caso de uma gravidez sem complicações, ou seja, quando não há risco nem para a mãe e nem para o bebê, 20% pretendem fazer uma cesariana.
Para a demógrafa da UFMG, isso tem implicações na saúde pública. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a taxa ideal de cesáreas deve ficar entre 10% e 15% de todos os partos realizados.
“Quando olhamos os critérios socioeconômicos, são as pessoas de renda familiar mais alta que querem cesárea, pois acaba sendo um conforto fazer o parto com o médico da sua escolha”, disse Paula. “Em outros países não é assim, essa preferência pelo parto cesáreo acontece só aqui e são uma escolha. Nos Estados Unidos, por exemplo, isso jamais seria uma pergunta”, explicou.