Aqueles que tiveram o privilégio de viver o início dos anos 90 certamente lembram de Querida, Encolhi as Crianças, lançado em 1989. A comparação com Pequena Grande Vida é inevitável do ponto de vista da ideia inicial dos longas: encolher seres humanos. As semelhanças, porém, ficam por aí e as premissas se mostram completamente diferentes e atuais no mais recente.
Dirigido por Alexander Payne, que conquistou seu lugar abaixo dos holofotes por Nebraska (2013), o filme chega às telas com certa expectativa gerada não só pelos nomes envolvidos no projeto, mas também pelo trailer que oferece uma experiência, no mínimo, interessante. A ideia é simples e criativa: diminuir os seres humanos para cerca de 12 centímetros de altura e, dessa forma, reduzir todo o custo de vida na Terra, economizando recursos naturais e, consequentemente, salvando o planeta. O conceito criado a partir disso mostra-se muito promissor, gerando todo um novo universo reduzido com novas possibilidades, uma nova sociedade e, como era de se esperar, novos problemas e questões sobre a relação dos adeptos a redução com o resto dos humanos “normais”. Destaque para a cena detalhada do processo de miniaturização do protagonista Paul Safranek (Matt Damon), orquestrada de forma inteligente pelo diretor, aprofundada por uma trilha clássica e elegante. Infelizmente, toda essa parcela inovadora é deixada de lado antes da metade de longa.
A impressão que fica é de que o filme mostrado nos trailers se encerra com aproximadamente 40 minutos e, depois de exaurir as boas ideias, passa a se tratar de outras temáticas onde a vertente (que deveria ser) principal acaba irrelevante. O roteiro pouco inspirado esquece dos plot inicial sobre a redução de tamanho e se perde junto ao personagem principal que, sem rumo na vida, parece à deriva. Até mesmo o carismático Matt Damon, capaz de carregar filmes nas costas como evidenciado em Perdido em Marte (2015), não consegue conquistar a empatia do público, deixando ainda mais clara a fraqueza do roteiro. Outros problemas como estrutura narrativa ruim e montagem desajustada reforçam a sensação de desconexão entre os arcos dramáticos presentes no longa.
A tentativa dos roteiristas em levar a discussão para um questionamento ecológico e responsável é até válida, mas os argumentos são péssimos e não levam a lugar nenhum, forçando o público a se perguntar várias vezes qual seria o verdadeiro tema central do filme. Passando por drama pessoal, profissional, desilusões amorosas, novas amizades e novos propósitos para a vida (algumas vezes), a história se mostra pretensiosa demais e pouco polida, mal desenvolvida. Salvam-se, além dos conceitos interessantes, os personagens que servem bem a trama como alívios cômicos, caso de Dusan, vivido por Christoph Waltz, e Ngoc Lan Tran, de Hong Chau, que conseguem risos tímidos, porém sinceros.
Dando exemplo de que nem toda boa ideia transforma-se em um bom filme, Pequena Grande Vida (Downsizing, no original) consegue prender a atenção dos espectadores por criar conceitos interessantes, mas acaba desperdiçando a chance de contar uma boa história a partir deles.
Pequena Grande Vida
fev 23, 2018Bruno FonsecaColuna de CinemaComentários desativados em Pequena Grande VidaLike
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