IBGE aponta que menos da metade da população em idade para trabalhar tinha emprego em maio. Isolamento social ou férias coletivas afastaram 17,2% do total de empregados do país
A pandemia do coronavírus trouxe fortes reflexos para o mercado de trabalho brasileiro no mês de maio. Cerca de 17,7 milhões de pessoas não procuraram emprego na última semana do mês passado por receio de contrair a covid-19 ou por falta de vagas, o que também pode estar ligado à crise sanitária, que já deixou mais de 45.000 mortos no país. Outras 10,9 milhões estavam desempregadas e, mesmo procurando, não conseguiram uma ocupação. Com isso, o país alcançou a marca de 28,6 milhões de pessoas que queriam um emprego, mas enfrentaram dificuldades para conseguir uma colocação no mercado.
Os dados são os primeiros resultados da PNAD Covid-19 divulgada nesta terça-feira, 16, pelo IBGE. O levantamento é uma versão da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) realizada com apoio do Ministério da Saúde, para identificar os impactos da pandemia no mercado de trabalho e quantificar as pessoas com sintomas associados à síndrome gripal.
A pesquisa estima que, em maio, 84,4 milhões de pessoas estavam ocupadas no país, embora 169,9 milhões estivessem em idade para trabalhar, o que significa que menos da metade (49,5%) da população economicamente ativa tinha uma ocupação no mês passado.
Embora a publicação desta terça-feira não possa ser comparada com outras metodologias, a Pnad Contínua, publicada em maio, já tinha revelado uma queda recorde de 5,2% no trimestre encerrado em abril da população ocupada, que encolheu de 94,1 milhões de pessoas para um total de 89,2 milhões de empregados em 3 meses.
O levantamento da Pnad Covid-19 mostrou ainda que 17,2% do total de empregados no país estavam afastados na última semana de maio devido ao isolamento social ou férias coletivas. Este percentual representa um contingente de 14,6 milhões de pessoas.
No início do mês passado, esse número era ainda maior. Na primeira semana de maio, eram 16,6 milhões nesta condição, o que representava 19,8% do total de pessoas ocupadas no país. Ao longo do mês, o número de afastamentos reduziu cerca de 2 milhões —um sinal provável da abertura comercial em várias cidades do país.
Maria Lúcia Vieira, gerente da pesquisa, afirmou que este afastamento não se refere a licença médica por conta do coronavírus: são trabalhadores que deixaram de trabalhar, seja porque tiveram o contrato suspenso ou porque o estabelecimento onde trabalha ficou fechado.
Dentre os ocupados no país, o contingente de informais caiu ao longo do mês, de 35,7% na primeira semana para 34,5% na última, com redução de 870.000 postos informais.
“A informalidade funciona como um colchão amortecedor para as pessoas que vão para a desocupação ou para a subutilização. O trabalho informal seria uma forma de resgate do emprego, portanto não podemos dizer que essa queda é positiva”, afirma o diretor adjunto de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo, complementando que é necessário aguardar os próximos resultados para avaliar com mais precisão o impacto da pandemia nesse grupo.
O levantamento mostrou ainda que o número de pessoas trabalhando remotamente aumentou. A pesquisa estimou que 13,4% da população ocupada (ou 8,8 milhões) fizeram o chamado home office na última semana, ante 13,2% (ou 8,6 milhões) na primeira semana.
O levantamento mostrou ainda que o número de pessoas trabalhando remotamente aumentou. A pesquisa estimou que 13,4% da população ocupada (ou 8,8 milhões) fizeram o chamado home office na última semana, ante 13,2% (ou 8,6 milhões) na primeira semana.
3,6 milhões de pessoas com sintomas da covid-19 procuraram rede de saúde
A Pnad Covid-19 revelou também que cerca de 10,5% da população brasileira, um contingente de 22,1 milhões de pessoas, apresentaram pelo menos um de 12 sintomas associados ao coronavírus na semana de 24 a 30 de maio. Desse grupo, 3,6 milhões de pessoas procuraram um estabelecimento de saúde. A maioria dos atendimentos, mais de 80%, foram na rede pública de saúde.
A coleta da Pnad Covid-19 mobiliza cerca de 2.000 agentes do IBGE, que levantam informações, por telefone, de 193,6 mil domicílios distribuídos em 3.364 municípios de todos os Estados brasileiros. A divulgação desta terça-feira inclui os dados das primeiras quatro semanas de coleta, que se estendeu de 10 de maio a 6 de junho, tendo como referência o mês de maio. A partir do próximo dia 26, as divulgações passarão a ser semanais, começando pela semana referente a 31 de maio a 6 de junho.