Contos de fadas vêm sendo contados desde tempos bastante remotos. Compartilhados em diferentes culturas, consistem em pequenas narrativas, onde o relato se dá a partir de uma heroína ou herói que, após superar os obstáculos impostos a si, se saem vencedores no final. Antigamente, era através deles que os povos transmitiam valores e conhecimentos, passados de uma geração mais velha para os mais novos não somente na esperança de que estes se propagassem, mas também procurando ensiná-los sobre as grandes questões da existência humana, tais quais as etapas da vida e os sentimentos. Embora frutos da imaginação, traziam consigo um fundo de verdade, cujo se evidenciava devido às notórias alusões à realidade.
Utilizando-se de componentes cotidianos, como a juventude, o amor, a amizade, o medo, entre outros, os contos de fadas procuravam preparar as crianças para o futuro, quando elas se deparariam com sonhos, temores e conflitos, então tendo que solucioná-los. Contam, assim, com um núcleo principalmente existencial, pois neles a heroína ou o herói estão frequentemente em busca da realização pessoal. O nome é proveniente de fada, entidade fantástica dotada de poderes comum ao folclore europeu – o que explica a constante presença de elementos mágicos, sobrenaturais ou encantados nessas histórias.
A verdadeira origem dos contos de fadas, entretanto, é desconhecida, visto que sua transmissão se dava oralmente; esta tradição passou a ter registros materiais apenas no século VII, com o emprego da escrita. No Brasil, eles surgiram no final do século XIX sob a denominação contos da carochinha, que posteriormente, no século XX, foi oficialmente substituída por “contos de fadas”.
Foi com o lançamento de “Contos de Mamãe Gansa” (Contes de ma mère l’Oye, no original em francês), de Charles Perrault, em meados de 1690, que ocorreu a transformação dos contos de fadas em literatura infantil. Perrault é o responsável por reunir em uma única coletânea fábulas folclóricas típicas da literatura francesa, o que o consolidaria eternamente como o iniciador deste gênero. Dessa maneira, as histórias ganharam popularidade e permaneceram em alta até após a Revolução Francesa, período em que sofreram com um grande desinteresse do público adulto. É neste ponto que, mais de 100 anos depois da publicação da coletânea de Perrault, dois folcloristas, Jacob e Wilhelm Grimm, entram em cena.
Os irmãos Grimm, Jacob e Wilhelm, foram os escritores, acadêmicos, poetas e linguistas alemães que, no século XIX, se dedicaram à coleta e ao registro dessas tradicionais narrativas na expectativa de retratar as características do povo alemão (apesar de se assemelharem às de Perrault, indicando a possibilidade de os Grimm terem simplesmente adaptado-as da literatura francesa). Eles publicaram, entre 1812 e 1822, uma coletânea de 100 contos intitulada “Contos de fadas para crianças e adultos” (Kinder und Hausmaerchen, no original em alemão), comumente abreviada para “Os Contos de Grimm”.
Você provavelmente já deve ter ouvido falar deles. Os irmãos Grimm ganharam imenso reconhecimento por sua obra, tamanho que acabou se estendendo por séculos e persiste ainda hoje. O tom sombrio e lúgubre adicionado às histórias, contrário à suavidade presente em “Contos de Mamãe Gansa” ou mesmo àquela retratada, mais à frente, por Hans Christian Andersen, talvez seja sua característica mais marcante, impactando o leitor que, em desacordo com o esperado, se depara com versões distintas e sangrentas de fábulas clássicas, tais quais: Cinderela, Branca de Neve e os Sete Anões, Rapunzel, A Bela Adormecida, A Princesa e o Sapo, etc.
Meu contato com contos de fadas sempre foi constante, além de gigantesco. Me lembro de incontáveis momentos da minha infância nos quais me afundava em livros de diferentes autores sobre a Chapeuzinho Vermelho, João e Maria e O Pequeno Polegar. Também me lembro que nenhum deles me fascinou tanto quanto a primeira vez em que peguei um livro dos Contos de Grimm nas mãos. As histórias que todos nós conhecemos e ouvimos quando crianças, contadas por nossos pais e avós, perduram em nossas mentes pelas supostas “lições” que contêm, as quais serviriam para nos alertar a respeito da futuridade. Estas, porém, seguem por um rumo diferente às retratadas pelos irmãos Grimm, que não economizam na crueza dos detalhes para explanar, metaforicamente, a respeito da natureza humana.
Em reverso ao contos de fadas destinados às crianças, com um teor inocente e, acima de tudo, inofensivo, os Grimm optam por nos alertar não quanto às dificuldades que enfrentaremos em um momento que está por vir ou a lidar com os sentimentos, mas quanto à confiança e ambição, exemplificando que há uma linha tênue entre a cobiça, a crueldade e a violência. Não é de espantar a legião de fãs de ambos que existe mundo afora, afinal, a curiosidade concernindo essas narrativas tomou proporções de maneira a invadir inclusive a cultura pop. Os contos de Grimm, por sua vez, exigem total absorção e concentração de quem os lê, posto que, a despeito da clareza da mensagem que a narrativa carrega, em certas ocasiões, alguns detalhes são perdidos.
Os irmãos Grimm e sua importância no mundo dos contos de fadas
jan 30, 2020RedaçãoCuriosidades DTComentários desativados em Os irmãos Grimm e sua importância no mundo dos contos de fadasLike
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