É nos dito e repetido que o tempo bem aproveitado é um contínuo ininterrupto, que devemos estender e levar até o limite.
Maior parte de nós vive nesta fronteira, a um ritmo obstinado e insatisfeito, no fundo desejando que a vida seja aquilo que não é: que as horas sejam mais e mais longos, que a noite nunca durma, que nos fins de semana seja possível recuperar tudo aquilo que nos é adiado.
Quantos vezes nos surpreendemos a subscrever automaticamente o lugar comum “gostava de um dia de quarenta e oito horas”, ou “gostava de um mês de quarenta dia”.
Duvido que seja disto que precisamos. Bastaria atentar nos efeitos colateriais das nossas vidas sobrecarregados, naquilo que deixamos para trás, naquilo que omitimos de dizer ou de seguir.
Sem nos darmos conta, na medida em que a nossa atividade atinge picos elevadíssimos, as nossas casas parecem-se cada vez mais com habitações vazias, despojadas de uma presença autêntica; a língua que falamos torna-nos incompreensível, uma língua que no mundo à nossa volta ninguém sabe falar; e, apesar de habitarmos a mesma geografia de sempre, é como se inesperadamente ela deixasse de ser a nossa pátria, e se transformasse numa espécie de terra de ninguém.
A sabedoria está em aceitar que, na realidade, o tempo é breve, e por isso temos de o viver de maneira o mais equilibrado possível.
O tempo é breve: reconciliar-se com tempo
jun 08, 2019Bruno FonsecaFé e RazãoComentários desativados em O tempo é breve: reconciliar-se com tempoLike
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