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domingo 17 novembro 2024
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O que é o passe espírita?

• Adilson Mota
O termo passe espírita é bem conhecido e bastante utilizado para designar a forma como o passe deve ser aplicado nos Centros Espíritas. Porém, ao afirmarmos que existe o passe espírita estamos ao mesmo tempo dizendo que há o passe não-espírita. Isto levanta determinadas questões: que critérios devem ser seguidos para estabelecer o passe espírita? Quem pode determiná-lo?
Partindo do princípio de que a Doutrina Espírita está embasada nos estudos e experiências de Allan Kardec, é importante sabermos o que o codificador escreveu sobre o assunto, qual a sua opinião sobre isso. Kardec praticamente nada escreveu sobre passes, mas se reportou inúmeras vezes ao Magnetismo, ciência de onde os mesmos se originam e que ele estudou e praticou por mais de 35 anos1. Se nós temos os passes sendo aplicados hoje nas Instituições Espíritas, devemos a esses estudos do mestre de Lion, anteriores ao surgimento do Espiritismo. Ficou tão patente a semelhança e proximidade entre as duas ciências que elas foram batizadas de ciências gêmeas2, “duas partes de um mesmo todo3, além de se afirmar que “a bem dizer, formam uma única”4.
Se as obras principais do Espiritismo nada dizem sobre passes e se, por outro lado, o Magnetismo foi tão valorizado, creio que neste último é que devemos buscar a resposta à pergunta inicial. O codificador nada escreveu sobre técnicas de passe, preferindo deixar essa tarefa para os órgãos existentes na época voltados especificamente para esse objetivo. Eram as sociedades, hospitais, clínicas, revistas e jornais criados pelos magnetizadores para o ensino, a prática e a divulgação do Magnetismo. Eram, aqueles, os detentores do saber técnico e prático do magnetismo para a cura das doenças. Portanto, ninguém melhor para nos orientar a respeito da técnica do passe, apesar do desenvolvimento que o Espiritismo trouxe no conhecimento dos fluidos.
Ocorreu numa reunião promovida por determinado órgão federativo espírita uma discussão com o objetivo de decidir sobre o que divulgar como sendo o passe a ser aplicado nas Casas Espíritas. Em que se basearam os pressupostos? Apenas na opinião dos presentes os quais acreditavam nada precisar ser feito a não ser a imposição de mãos. Tinham eles conhecimento sobre Magnetismo? Nenhum. Com que autoridade, então, eles estavam decidindo tão delicado tema? Se não desenvolveram os próprios conhecimentos práticos, e nem Kardec opinou sobre o assunto de maneira direta, quais os alicerces para a definição? Será que a escolha foi feita por aquilo que se mostra mais fácil? Há perguntas que ficam sem resposta por mais que tentemos delinear uma explicação.
Em toda essa história, o ponto que considero principal ficou esquecido: o doente. Vejamos como soa estranho e até descaridoso, observando a distância o que pode acontecer partindo da óptica daquele grupo que deu a si mesmo o posto de decisão sobre toda uma coletividade. Lembra até os concílios realizados pelas autoridades católicas para resolverem sobre as verdades que deveriam estar contidas nos Evangelhos. Pois bem: o doente chega ao Centro Espírita com determinada queixa e solicitando ajuda para a superação do seu problema. Ele é direcionado para o tratamento através de passes que poderiam alcançar um melhor resultado, mas não vão, pois para isso determinada técnica teria que ser executada, porém não é permitida.
Imaginemos o mesmo acontecendo dentro de um consultório médico. Determinado medicamento resolveria a dor do paciente, é permitido por lei, não tem contraindicações, sua eficácia já foi testada, mas alguém disse que não é para prescrever tal remédio.
Onde a caridade e o bom senso?
Se existe o passe espírita, penso que deveria ser o que maior alívio proporciona a quem precisa. Nada justifica utilizar um tipo de passe que menos benefícios traz para o assistido. Da mesma forma, o passe não espírita. Assim sendo, não existiria nem um, nem outro. Existiria apenas o passe, aquele que alcança o melhor resultado. Como determinar isso? Temos que lançar mão da ciência espírita que pesquisa, experimenta, testa, verifica, acompanha e desenvolve a cada dia melhores meios de se chegar ao fim almejado. Dá trabalho, mas afinal de contas todo progresso surge do esforço. Se queremos verdadeiramente ajudar, qual o empecilho?
Será que com tanto bom senso que Allan Kardec demonstrou na sua vida e na concepção da Doutrina Espírita ainda falta-nos bom senso?