O último quarto de todo ano é sempre recheado de filmes que aspiram conquistar um lugar na memória dos membros da Academia do Oscar. Assim, o diretor Damien Chazelle já vem conquistando atenção em suas premiadas obras anteriores, Whiplash e La La Land. Descolando-se do cenário musical, Chazelle dá um passo importante para sua carreira entregando algo totalmente diferente, explorando outras técnicas e mesclando gêneros como a biografia quase documental, embora dramática e sentimental de Neil Armstrong.
Optando por começar a partir de 8 anos antes da missão Apollo 11, o filme segue uma visão intimista e singular de seu protagonista. Ryan Gosling está em mais um de seus papéis em que interpreta alguém sisudo, de pouca expressão e poucas palavras, saindo-se bem nessa posição já de conforto. Interpretando sua esposa, a atriz Claire Foy é um show à parte, carregada de sofrimento e responsabilidade por manter a família mesmo nas longas ausências, físicas e psicológicas, do marido. Essa vertente que se aproxima da estrutura de um documentário traz uma proximidade do público com a história contada que, diferentemente das costumeiras em que ir à Lua é o centro, aqui temos a figura humana de Armstrong conduzindo os caminhos da trama.
Apresentando recursos técnicos impecáveis, marca registrada de Chazelle, a produção conta, porém, com uma fotografia um tanto controversa. O diretor opta por usar planos fechados na maior parte do longa, enquadrando nada mais que o rosto de Gosling por vários momentos. Além disso, a câmera na mão é constante e não se deixa passar como detalhe desimportante. A fotografia chama tanto a atenção que assume protagonismo junto a Armstrong. Claramente Chazelle optou por essa forma de filmagem para aproximar o público de seu personagem, nos inserir na trama, dar intimidade e causar a sensação de participarmos ativamente da história, diferente de quando se usa câmeras mais contemplativas e planos mais abertos. Essa experiência, entretanto, simula tanto a pressão e claustrofobia do astronauta que causa um real desconforto conforme o filme avança. Os poucos momentos de estabilidade na filmagem são como respiros para os espectadores que, sem demora, são submetidos novamente a turbulência. Ainda que funcione dentro do pretendido pela direção e sempre apresente iluminação estonteante, o abuso da técnica chega a causar tontura e canseira visual. Para compensar, a trilha sonora é sempre contundente em extrair o que há de melhor em tela até mesmo quando se ausenta por motivos da não propagação de som no vácuo, deixando tudo mais impactante e verossímil.
Contemplado com um ótimo roteiro, O Primeiro Homem tem rico conteúdo histórico e seleciona bem os marcos que expõe. Apesar de ser longo, utiliza-se disto para aproximar o público da jornada vivida pelos personagens, dos conflitos e das dificuldades, muito mais que científicas, que os Estados Unidos enfrentaram para chegar, ao longo de uma década, até nosso satélite natural, além de uma excelente experiência sensorial com nível de Chazelle, que deve figurar no Oscar com algumas indicações.
O Primeiro Homem
out 19, 2018Bruno FonsecaColuna de CinemaComentários desativados em O Primeiro HomemLike