O ano era o de 1150. O país, palco dos acontecimentos ocorridos neste ano, formado por mais de mil pedaços desunidos, chamava-se Itália. Não havia Estado, não havia nação; havia inúmeras cidades, vilas e povoados.
Da mesma forma que uma galinha namora um galo, apaixona-se por este mesmo galo; entrega-se nos varões do poleiro; bota ovo; choca a hipótese da vida, gera pintinhos, assim nasceu a primeira universidade do mundo, em Bolonha.
As chamadas aulas aconteciam em salões dos velhos conventos que, ao peso de muito dinheiro e insistência, a Igreja bondosamente os emprestava. Os alunos vinham de todos os lugares do mundo conhecido. Todos cabeludos, barbudos, contando, no mínimo, com meio século de vida. Aventureiros de longas estradas, proprietários de centros comerciais; senhores de terra; a maioria queria possuir conhecimento das chamadas essências universais.
As aulas e os conteúdos centravam-se em gramática, lógica e retórica. O sonho dos alunos era conhecer, o mínimo que fosse, para arrumar, na Igreja, a maior empregadora daqueles sombrios períodos; tempos de medo, opressão, fanatismo, delírio e loucura, um emprego qualquer.
Na montagem do currículo, a universidade precisou contratar professores que, isolados ou financiados, retornaram ao mundo dos gregos, buscando tal de essência do saber. Marcaram encontro com Platão, Aristóteles, Pitágoras, Sócrates, Arquimedes, e desse encontro, começaram a elaborar métodos pedagógicos, ordenar as ideias, pensamentos e a melhor forma de transmiti-los.
Não é demais lembrar do perfil do querido Ocidente, na época da geração da primeira universidade. A Europa dormia em inúmeras camas, bebia lendas milenares, andava em ruas planejadas pela constante movimentação de carroças e carros de boi. Não conhecia o zero, fazia contas nos dedos ou em arames atravessados por bolas. A numeração montada e organizada por letras, nascida na barrigada dos romanos, travavam a força da matemática.
Na cidade de Pisa, num dia caloroso de 1170, na casa dos Fibonacci, nasceu um menino batizado com o nome de Leonardo. Ele mamou, gatinhou, andou, correu pelos campos, estudou com mestres atenciosos e de bom senso e, ao entardecer do sol, virou homem.
Em sua cabeça, morava uma ideia perturbadora, sintoma que repetia dia e noite em seus pensamentos, era a famosa vontade de tirar os pés do pequeno espaço que ampara a vida, e cair no mundo. Para ele, o conhecimento habitava além dos mares, em terras conhecidas ou desconhecidas, em pequenas aldeias, em minúsculos povoados.
Em suas andanças, conheceu um descendente de Ismael, filho de Tamar, abandonado pelo pai, um tal de Abraão, vivendo num local que hoje é a Argélia. Esse descendente de Ismael era um árabe, conhecedor de álgebra. Leonardo abriu a boca, arregalou os olhos, babou em suas roupas. Através desse homem árabe, entrou em contato com nove signos numéricos, muito interessantes, criados pelos hindus.
Havia uma bolinha com uma perninha, duas bolinhas siamesas, dois risquinhos desajeitados, um meio tombado, outro na horizontal, uma bolinha com a perninha para cima, uma bolinha aberta com uma cabecinha, um triângulo grudado numa reta em pé, duas bolinhas abertas, uma curva apoiada numa linha, uma linha em pé, beiçuda, e uma bolinha fechadinha. No desenho gráfico, esses signos eram representados artisticamente (9,8,7,6,5,4,3,2,1 – 0 ) Leonardo Fibonucci levou esses sinais para a Europa. Além desses símbolos, levou o sinal de menos, de mais, igual, e muitos outros.
A universidade recém criada virou noite e dia estudando o novíssimo conhecimento. Os operadores do ábaco fizeram greve geral, procurando manter seus empregos. As prostitutas dominaram a nova técnica e recalcularam o valor dos encontros. Os negociantes, os cambistas, os agiotas, os cobradores de dízimos fizeram greve geral. A descoberta dos numeros arábicos levou o mundo à loucura . Houve até suicidio.
Leonardo Fibonacci jantou, deitou, dormiu, sonhando que estava numerando anjos, almas iluminadas, santos, e, de madrugada, morreu, sem saber que reformara a história do mundo e da universidade, um filhote desse período.
O parto da universidade
fev 23, 2018Bruno FonsecaLeitura de TaubatéComentários desativados em O parto da universidadeLike