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quarta-feira 27 novembro 2024
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O papel das afro-descendentes

Numa sociedade que excluía as negras, por serem mulheres e negras, essas afro-descendentes encontraram nos terreiros o lugar de afirmação de sua identidade como mulher e como ser político. Há, fora do ambiente restrito do sagrado, outros exemplos de pioneirismo dessas mulheres. Como Aqualtune, avó de Zumbi, princesa do Combo que fugiu com um grupo de escravos para o Quilombo de Palmares e, lá, assumiu o governo de uma das aldeias. Ou Tia Ana, escrava do Ceará que, indignada com os maus-tratos aplicados a uma velha escrava, sublevou os escravos, invadiu a casa-grande e ateou fogo a ela.
E, num registro mais leve, ainda que igualmente subvertedor, Paula Baiana, a primeira fuzileira naval honorária do Brasil. Vendedora de guloseimas, conquistou os fuzileiros e ganhou o direito de explorar uma cantina na Ilha das Cobras, onde, vestindo o dólmã vermelha de botões dourados da corporação e sua saia branca toda engomada tinha a honra de passar a tropa em revista, ainda que com o cesto na cabeça.
As negras fizeram nascer boa parte dos brasileiros, pois até o início do século XX era comum que ex-escravas atuassem como prateiras. Isso não impediu que as crianças, já crescidas, lessem, no Tico-tico, as desventuras de Lamparina.
Foi preciso muito tempo para a mudar algo dessa situação lamentável, quando as mulheres negras conquistaram o direito de estudar e, junto com as outras mulheres, o direito de votar, concedido apenas na era varguista.
A luta rendeu bons frutos: de Maria Lenk, a primeira mulher brasileira negra numa Olimpíada, em 1932, hoje, o Brasil se orgulha de suas muitas atletas negras, bem como de suas juízas ( a primeira , Maria Rita de Andrade, sergipana, foi nomeada apenas em 1963) e de suas artistas, políticas e militantes do movimento negro.