• Marcus De Mario – Instituto Brasileiro de Educação Moral-IBEM/RJ
O movimento espírita tem assistido nos últimos tempos um grande fluxo de palestras, livros e vídeos trazendo valiosas quanto oportunas informações sobre o Evangelho, seja do ponto de vista histórico, interpretativo ou doutrinário, e não poderíamos deixar de reconhecer a validade desses estudos, pois o enriquecimento cultural é sempre importante. Diante desse manancial intelectual, permitimo-nos indagar sobre a vivência das lições evangélicas, ou seja, estamos colocando em prática as sublimes lições de Jesus, ou estamos nos deixando levar pelo acúmulo de conhecimentos, sem, de fato, vivenciar com o nosso próximo e com a coletividade o amor, a caridade, a solidariedade?
Para melhor compreensão do tema e sua importância, recordamos episódio ocorrido em reunião do grupo de estudo do Espiritismo do qual fazemos parte, quando uma senhora assídua aos estudos, cooperadora das atividades, relatou problema que estava tendo com um dos seus vizinhos. Nesse relato, afirmou que se encontrasse com ele na rua, iria tirar satisfações, podendo até dar-lhe uma surra, e que para resolver o problema abriria um processo na justiça. Ponderamos da necessidade do diálogo e da vivência das lições que estudávamos, pois que adianta saber a teoria se na prática não a utilizamos? O fato serviu para um debate geral que, cremos, foi muito útil.
Como vemos, muitas vezes as lições que estudamos e que, em princípio, concordamos e aceitamos, não nos afetam como deveriam, não nos transformam, não fazem com que mudemos nossos hábitos, nossa maneira de ser, apesar de nos maravilharmos com o Evangelho à luz da imortalidade da alma. Isso acontece porque mantemos essas lições no nível de teoria, de conhecimento, então nem o Evangelho, nem o Espiritismo, fazem diferença.
Recordamos outro episódio, quando no grupo espírita estudávamos determinado assunto, e um dos participantes disse enfático: “Eu concordo com o Espiritismo, mas na minha opinião …”. Como podemos perceber, há uma grande contradição nessa frase. Se concordamnos com o entendimento espírita, como podemos manter um entendimento pessoal contrário? É a mesma questão, quando, apesar das leituras, estudos e atividades na instituição espírita, mantemos nossa zona de conforto, ou seja, nossos hábitos, nossos vícios, nossos pensamentos, pouca coisa mudando no nosso comportamento, nas nossas opiniões. Como muito bem classifica Allan Kardec, temos aí o espírita não verdadeiro.
O conhecimento é importante, já o intelectualismo pode ser prejudicial quando não equilibrado com o sentimento, quando não é acompanhado pela vivência daquilo que se conhece. Podemos saber muito sobre o Evangelho, mas isso não garante nossa transformação moral, não é sinônimo de espiritualização, nem mesmo significa que não manteremos opiniões pessoais que se distanciam dos princípios espíritas.
Diz-nos Allan Kardec que reconhece-se o verdadeiro espírita pelos esforços que faz para transformar suas más tendências, e isso não se faz apenas com acúmulo de conhecimentos, e sim com o esforço diário, constante, de amar o próximo, de fazer a caridade, de controlar os próprios impulsos, ou seja, com o esforço de colocar em prática as lições de Jesus, o Mestre dos mestres, o espírito mais perfeito que Deus concedeu ao homem conhecer.
A humanidade passa por momento delicado, em que o materialismo e o sensualismo se levantam em defesa de suas posições, mas é chegada a hora dos bons deixarem a timidez de lado e enfrentarem com coragem a necessidade de espiritualização da sociedade humana, que só pode acontecer com a espiritualização dos indivíduos, o que o Evangelho veio propor com o amai-vos uns aos outros e com o fazer ao próximo somente o que queremos que o próximo nos faça. E o Espiritismo, trazendo a imortalidade da alma e a reencarnação, veio facilitar esse trabalho, para que o amor não seja letra morta, mas sim espírito que vivifica.
Se o estudo é importante, se o conhecimento é necessário, a vivência do que se estuda e conhece é ainda mais importante, é essencial. Com essa visão, o Espírito da Verdade proclamou a nós espíritas: Amai-vos, eis o primeiro mandamento; instruí-vos, eis o segundo. Será que, perigosamente, não estamos invertendo a proclamação enfática, incisiva desse sublime espírito, coordenador da implantação no mundo da terceira revelação?
Estudemos, sim, pois conhecer o Evangelho e o Espiritismo é muito importante, mas é essencial, fundamental, que sejamos exemplo, modelo do que compreendemos e apreendemos como o melhor para nossa vida e para a coletividade. Teoria sem prática é igual a fé sem obras, lembremos disso.
O evangelho sentido e praticado
jun 01, 2019Bruno FonsecaColuna Espírita (Agê)Comentários desativados em O evangelho sentido e praticadoLike