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quarta-feira 27 novembro 2024
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O Espiritismo veio para o povo e com ele dialogar

• Jorge Hessen – Brasília/DF
Quando pensamos nos milhares de espíritas de pouca cultura, humildes e materialmente pobres, porém verdadeiros vanguardeiros da Terceira Revelação; quando imaginamos que o edifício doutrinário se mantém firme em face do amor desses lídimos baluartes do Evangelho, impossível não nos entristecermos quando se trombeteia em nossas hostes os excessos de consagração das elites culturais.
“A presença do elitismo nas atividades doutrinárias (…) vai expondo-nos à dogmatização dos conceitos espíritas na forma do Espiritismo para pobres, para ricos, para intelectuais, para incultos (…)” (1)
Chico Xavier já advertia em 1977, “É preciso fugir da tendência à ‘elitização’ no seio do movimento espírita (…), o Espiritismo veio para o povo. É indispensável que estudemo-lo junto com as massas mais humildes, social e intelectualmente falando, e deles nos aproximarmos. (…) Se não nos precavermos, daqui a pouco estaremos em nossas casas espíritas apenas falando e explicando o Evangelho de Cristo às pessoas laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais (…)” (2)
Acompanhamos com muita reserva o surgimento de várias associações de jornalistas, psicólogos, pedagogos, escritores, magistrados, médicos. Esse espírito corporativista é inaceitável sob a ótica cristã. Aliás, corporações essas que promovem elegantes eventos (quase sempre se cobrando taxas de inscrição) para aguçar a vaidade de alguns confrades que não perdem a oportunidade de atrair para si os holofotes da “fama”.
Os eventos gratuitos devem ser realizados, obviamente, porém urge considerar que esses simpósios sejam estruturados sobre programação aberta a todos e de interesse da Doutrina, não para ser uma ribalta de competição para intelectuais com titulação acadêmica, como um “passaporte” para traduzirem “melhor” os conceitos kardequianos.
Caso contrário, consigna o editorialista da Revista O Espírita, “Chico Xavier, Divaldo Franco, tanto quanto no passado Léon Denis, que era caixeiro-viajante, não poderiam participar desses conclaves, sob pena de se sentirem desambientados e constrangidos, por não terem titulação conferida pelas universidades do mundo. Para não falarmos do próprio Cristo, que não passou da condição de modesto carpinteiro”. (3)
Sinceramente, não conseguimos compreender o Espiritismo, sem Jesus e sem Kardec para todos, com todos, e ao alcance de todos, a fim de que o projeto da Terceira Revelação alcance os fins a que se propõe.
É ainda Chico Xavier que ensina: “Por mais respeitáveis os títulos acadêmicos que detenhamos, não hesitemos em nos confundir na multidão para aprender a viver, com ela, a grande mensagem. (…)”. (4)
Reenfatizamos as admoestações de Chico Xavier: “Precisamos conversar desapaixonadamente sobre o nosso movimento. É preciso que nós, os espíritas, compreendamos que não podemos nos distanciar do povo. É preciso fugir da tendência à “elitização” no seio do movimento espírita. É necessário que os dirigentes espíritas, principalmente os ligados aos órgãos unificadores, (5) compreendam e sintam que o Espiritismo veio para o povo e com ele dialogar. É indispensável que estudemos a Doutrina Espírita junto com as massas, que amemos a todos os companheiros, mas, sobretudo, aos espíritas mais humildes social e intelectualmente falando e deles nos aproximarmos com real espírito de compreensão e fraternidade. Se não nos precavermos, daqui a pouco estaremos em nossas casas espíritas apenas falando e explicando o Evangelho do Cristo às pessoas laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais e confrades de posição social mais elevada. Mais do que justo evitarmos isso, a “elitização” no Espiritismo, isto é, a formação do “espírito de cúpula”, com evocação de infalibilidade, em nossas organizações”. (6)
Portanto, devemos buscar a simplicidade doutrinária, evitar tudo aquilo que lembre castas, discriminações, evidências individuais, privilégios injustificáveis, imunidades, prioridades. Que repensemos as associações de profissionais A, B, C…
Aliás, amigo leitor, você conhece alguma associação espírita de carpinteiros, marceneiros, lavadeiras, passadeiras, garis, pedreiros, serventes?
Referências:
(1) Editorial da Revista O Espírita, ano 11, número 57 – jan/mar/90.
(2) Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda e publicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 de março de 1977, e publicada no livro intitulado Encontro no Tempo, org. Hércio M. C. Arantes, Editora IDE/SP/1979.
(3) Editorial da Revista O Espírita, ano 11, número 57 – jan/mar/90.
(4) Cf. Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda e publicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 de março de 1977, e publicada no Livro intitulado Encontro no Tempo, org. Hércio M. C. Arantes, Editora IDE/SP/1979.
(5) Fazemos uma justa ressalva para preservar a Federação Espírita Brasileira, que tem orientado de forma grandiosa como as federativas estaduais devem proceder. Lamentavelmente essas, que se perdem muitas vezes nos labirintos das promoções de shows de elitismo, patrocinam eventos para espíritas endinheirados, e cobram taxas e se perdem na sua tarefa unificacionista. Conhecemos federativa que chega a gastar R$ 100.000,00 (cem mil reais) para promover evento para 5.000 (cinco mil) pessoas, como se o Espiritismo necessitasse desses eventos “grandiosos”. Precisamos retornar à simplicidade doutrinária, conforme nos advertiu Bezerra de Menezes através de Ivone Pereira.
(6) Idem.