“Facebook, meu querido Facebook, há alguém mais amada do que eu?”. Assim podia começar a história. A pergunta repetia-se logo ao despertar, pela manhã, ao meio da manhã, enquanto tomava o chá para emagrecer, no almoço e pouco depois, durante o intervalo do lanche, ao anoitecer e, em certos dias, pela noite adentro. “Querido Facebook, diz a verdade, há alguém com mais qualidades do que eu?”.
A energia afetiva que nos obriga a sair de nós mesmos para procurar o rosto de Deus e para nos relacionarmos com os outros pode, de fato, sofrer diversas vicissitudes, como, por exemplo, ser-se sugado pelas necessidades de um ego carente e eternamente insatisfeito.
A dependência do espelho das redes sociais, que, como é sabido, distorce a realidade, para se alimentar narcisisticamente, é sintoma de uma grave perturbação: a pessoa não está disponível para estabelecer uma reação sólida e madura com terceiros através da via poderosa merecedora do amor dos outros, precisa de um constante “like” para estar em paz.
No coração do universo religioso de matriz cristã está o mandamento do amor desdobrado numa dupla direção – amor a Deus e ao próximo. É em torno desse eixo fundamental que s configura a identidade do discípulo cujo Mestre é um modelo perfeito de docilidade amorosa para com Deus e, simultaneamente, de entrega e serviço incondicional à humanidade, em especial a que se encontra ferida e desencaminhada.
Neste sentido, a experiência espiritual é transformadora, liberta-nos da escravatura de um ego sedento, rompe com seu ciclo vicioso na medida em que estimula o crente a aproximar-se de Deus, fonte de amor para com os outros.
Tendo Deus como grande paixão, opera-se em nós uma descentração egotista que nos dispõe afetivamente para amar e servir os outros.
O espelho das redes sociais
nov 09, 2018Bruno FonsecaFé e RazãoComentários desativados em O espelho das redes sociaisLike