Inicialmente, o contingente de negros e afro-descendentes superior ao número de portugueses e outros europeus, durante três séculos consecutivos, num contexto social e territorial marcado pelo isolamento em que foi mantida a colônia pelo monopólio do comércio externo brasileiro, fito por Portugal até 1808, condicionou um ambiente de vida de aspecto conservador e de tendência niveladora, mais aberto à aceitação de aportes culturais mútuos e de interesse comuns.
Aqui, merecem destaque a atuação socializadora da mulher negra na função de mãe-preta no seio da família colonial o processo de socialização lingüística exercido pelos negros ladinos, aqueles que, aprendendo rudimentos de português, podiam falar a um número maior de ouvintes e influenciá-los, resultando daí adaptarem uma língua a outra e estimularem a difusão de certos fenômenos lingüísticos entre os não-bilíngues.
No século XIX, o processo de urbanização que se iniciava no Brasil a partir da instalação da família real portuguesa no Rio de Janeiro e a abertura dos portos em 1808 exigiram a fixação nas cidads da mão-de-obra escrava recém-trazida da África, numa época em que a maioria da população brasileira era constituída de mestiços e crioulos. Esses, já nascidos no Brasil, falando português como primeira língua, por conseguinte mais desligados de sentimentos nativistas em relação à África e susceptíveis à adoção e aceitação de padrões europeus então vigentes.
Finalmente, com a extinção do tráfico transatlântico para o Brasil em 1856 até a abolição oficial da escravatura no país em 1888, o tráfico interno foi intensificado.