• Marcus De Mario – Instituto Brasileiro de Educação Moral-IBEM/RJ
O Espiritismo é doutrina de educação da alma imortal, tendo surgido na metade do século XIX para realizar a transformação moral da humanidade. É uma ¬filoso¬fia com base científica e de consequências morais. Tendo isso muito claro a partir do estudo das obras de Allan Kardec, que por sua vez estudou os ensinos dos espíritos superiores, compreendemos que o centro espírita, para representar com ¬ fidelidade a doutrina, deve ser um verdadeiro centro educacional dos espíritos reencarnados, todos nós, onde os serviços de estudo, divulgação e evangelização devem ser priorizados. Entretanto, nem sempre é o que vemos acontecer.
Há verdadeira febre nos centros espíritas pelo chamado tratamento espiritual, chegando-se a reservar vastas dependências físicas para leitos e macas, com dezenas de médiuns dedicados a atender centenas de pessoas, fazendo com que o centro espírita mais pareça um hospital – de corpos! Mas o corpo é perecível, é ¬ finito, enquanto a alma é imortal, volta ao mundo espiritual. E voltará como se não recebeu a oportunidade de autoconhecimento e autoeducação?
Muitos centros espíritas, apesar da ampla movimentação de pessoas enquanto tarefeiros, cooperadores, não têm o serviço de evangelização da criança e do jovem, e os grupos de estudo do Espiritismo, quando existem, padecem de adesão. Esse centro espírita pode ser considerado legítimo representante do Espiritismo?
Quando falamos que o centro espírita deve ser um verdadeiro centro educacional de almas, não estamos querendo dizer que o centro espírita deve ser uma escola com salas de aula, professores e currículo. Não é isso. Aliás, esse modelo escolar está ultrapassado e não deve ser copiado pelo centro espírita. Entendemos, com Kardec, que os serviços ligados à educação devem ser fomentados, mantidos e quali¬ficados por serem imprescindíveis para a humanização e moralização das crianças, jovens e adultos.
A evangelização (ou educação) espírita da infância, os grupos de jovens, os grupos de estudo do Espiritismo devem ser a base do centro espírita, trabalhando o potencial intelectual e afetivo de cada ser para que tenhamos no mundo pessoas de bem, pessoas éticas, pessoas solidárias. Isso não quer dizer que serviços outros como o atendimento fraterno, a assistência e promoção social, a mediunidade e assim por diante não devam fazer parte do centro espírita, pois tudo o que é útil e faça o bem, desde que esteja de acordo com os princípios e valores que fundamentam a doutrina, pode ser desenvolvido e ofertado. Nosso alerta é para que não invertamos as prioridades.
Recordemos importante ensino a esse respeito feito por Allan Kardec em magistral comentário à questão 685a de O Livro dos Espíritos:
“Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as consequências desastrosas que daí decorrem? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos”.
Eis o trabalho que é também de competência do centro espírita. Reflitamos com seriedade e profundidade sobre esse tão importante tema: o centro espírita e a educação.