• Rogério Miguez
É muito difundida entre as massas a ideia de que as leis de Deus contemplam situações e fatos originados ao acaso. Alguns creem na existência da “bala perdida”; outros acreditam em fenômenos da natureza acontecendo de maneira acidental; alguns aceitam uniões matrimonias realizadas sob a égide do fortuito.
Muitos aceitam o acaso como se não houvesse ordem e equilíbrio no Universo, tampouco nas existências dos Espíritos. Para estes, parece não haver diretrizes governando tudo e todos, creem em Deus, mas também que “às vezes” temos fatos regidos pelo fortuito, por acidente, nos levando ao absurdo de aceitar que a Divindade, eventualmente, não sabe o que acontece e também não possui controle sobre a sua própria criação.
Em relação ao tema, André Luiz afirmou em 19591:
“Quanto ao divórcio, segundo os nossos conhecimentos no Plano Espiritual, somos de parecer não deva ser facilitado ou estimulado entre os homens, porque não existem na Terra uniões conjugais, legalizadas ou não, sem vínculos graves no princípio da responsabilidade assumida em comum.”
Observa-se que o autor exclui a opção do casamento casual, entretanto, alguns poderiam argumentar ter André Luiz expressado apenas a sua opinião, afinal escreveu: “segundo os nossos conhecimentos no Plano Espiritual”. Entretanto, ratifica sua opinião, agora em 1960, em Conduta Espírita2:
“Usar com prudência ou substituir toda expressão verbal que indique costumes, práticas, ideias políticas, sociais ou religiosas, contrárias ao pensamento espírita, quais sejam sorte, acaso, sobrenatural, milagre e outras, preferindo-se, em qualquer circunstância, o uso da terminologia doutrinária pura.”
À frente, nesta mesma obra3:
“Libertar-se das cadeias mentais oriundas do uso de talismãs e votos, pactos e apostas, artifícios e jogos de qualquer natureza, enganosos e prescindíveis. O espírita está informado de que o acaso não existe.”
Quando se afirma haver um casamento acidental, sugere-se também que o acaso uniu estes dois seres, o que é inadmissível. Contudo, pode se aplicar aos casamentos o imprevisto, dado que nem todos os matrimônios que foram acertados no plano espiritual se realizam no plano terreno, ou seja, há imprevisibilidade, de acordo com o livre arbítrio dos Espíritos. Houve um acerto entre dois Espíritos antes de voltarem, mas quando aqui chegam, por razões diversas, não concretizam o que foi acordado, preferindo estabelecer outro laço de parceria.
Mesmo nesta última possibilidade, não há acaso, pois, este “outro Espírito”, que formou esta imprevista união certamente se ligou ao parceiro (a) por laços antigos de convivência, de simpatia, ou mesmo por ajuste, não dando margem a que se diga ter sido o acaso o elemento que os uniu.
Emmanuel sobre esta questão em obra datada de 1970 em plena revolução dos costumes que caracterizou a humanidade daqueles tempos registrou4:
“[…] é forçoso reconhecer que não existem no mundo conjugações afetivas, sejam elas quais forem, sem raízes nos princípios cármicos, nos quais as nossas responsabilidades são esposadas em comum.”
E na mesma obra5:
“Partindo do princípio de que não existem uniões conjugais ao acaso, o divórcio, a rigor, não deve ser facilitado entre as criaturas.”
Como se conclui, há na literatura espírita material suficiente para invalidar a hipótese da união ao acaso. Sendo assim, o uso da expressão acidental, deveria ser evitado, pois pode emprestar um significado de ter ocorrido ao acaso ou fortuitamente, porém, ambos os significados se chocam com os atributos da onisciência e onipotência de Deus, quando estes se tornariam fragilizados, caso se aceite o acaso como elemento gerador de uniões.
1 Xavier, Francisco C.; Vieira, W. Evolução em dois mundos. Pelo Espírito André Luiz. Segunda Parte. cap.VIII.1. ed. Rio de janeiro: FEB, 1959.
2 Vieira, Waldo. Conduta espírita. Pelo Espírito André Luiz. cap. 13: Na propaganda. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1987.
3 _____. _____. cap. 18 Perante nós mesmos.
4 XAVIER, Francisco C. Vida e sexo. Pelo Espírito Emmanuel. Cap. 7: Casamento. 9. ed. 2. imp. Rio de Janeiro: FEB, 1986.
5 _____. _____. cap. 8: Divórcio.
O casamento pode ser acidental?
nov 13, 2018Bruno FonsecaColuna Espírita (Agê)Comentários desativados em O casamento pode ser acidental?Like
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