O negro banto, pela antiguidade, volume populacional e amplitude territorial alcançada pela sua presença no Brasil Colônia, ele, como os outros, adquiriu o português como segunda língua, tornando-se o principal agente transformador da língua portuguesa em sua modalidade brasileira e seu difusor pelo território brasileiro sob regime colonial e escravista. Ainda hoje, inúmeros dialetos de base banto são falados como línguas especiais por comunidades negras da zona rural, provavelmente remanescentes de antigos quilombos em diversas regiões brasileiras.
Ao encontro dessa matriz já estabelecida assentaram-se os aportes do ewe-fon e do ioruba, menos extensos e mais localizados, embora igualmente significativos para o processo de síntese pluricultural brasileira, sobretudo no domínio da religião.
Diante dessas evidências, chegamos necessariamente a uma conclusão compatível com as circunstâncias extralingüísticas que foram favoráveis a este processo: o português do Brasil, naquilo em que ele se afastou do português de Portugal, é, historicamente, o resultado de um movimento implícito de africanização do português e, em sentido inverso do aportuguesamento do africano sobre uma matriz indígena preexistente e mais localizada no Brasil.
Assim sendo, o português brasileiro descende de três famílias lingüísticas: a família indo-européias, que teve origem entre a Europa e a Ásia, da qual faz parte a língua portuguesa; a família das línguas do grupo tupi, faladas pelos indígenas brasileiros, que se espalha pela América do Sul; e, por fim, a família das línguas Níger-Congo, que teve origem na África subaariana e se expandiu por grande parte desse continente.
Consequentemente, povos indígenas e povos negros, ambos marcaram profundamente a cultura do colonizador português que se estabeleceu no Brasil, dando origem a uma nova variação da língua portuguesa – mestiça, brasileira.