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sexta-feira 29 novembro 2024
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Nova pesquisa revela que controle de horário das refeições contribui para reduzir risco de câncer de mama entre mulheres

Estudo conduzido nos Estados Unidos indica que restringir período de consumo de alimentos entre a população feminina pós-menopausa com sobrepeso é mais eficaz na prevenção de tumores do que dietas baseadas no controle de calorias

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer de mama atinge 1,5 milhão de mulheres ao redor do mundo todos os anos. E mesmo com os avanços nas tecnologias para detecção precoce e tratamento da doença, esse ainda é o tipo de tumor mais incidente e uma das causas mais comuns de morte entre essa parcela da população global.

Um novo estudo conduzido nos EUA e apresentado durante o encontro anual da Sociedade Americana de Endocrinologia (ENDO 2019) tenta agora lançar luz sobre medidas eficazes de prevenção que poderiam ajudar a frear um dos fatores evitáveis de risco relacionados aos tumores mamários: o excesso de peso. A análise mostrou que restringir os horários das refeições, permitindo a ingestão de alimentos dentro de um período de oito horas diárias, ajudaria a acelerar o metabolismo corporal e, com isso, reduzir drasticamente o sobrepeso e a possibilidade de surgimento do câncer de mama entre mulheres no período pós-menopausa. Essa seria ainda uma alternativa mais eficaz do que as dietas baseadas no corte de calorias.

A pesquisa inicialmente avaliou o comportamento de ratos obesos submetidos à limitação no horário de acesso à comida. O efeito ‘anti-tumor’ dessa medida seria justificada pela redução nos níveis de insulina no sangue, promovendo uma resposta efetiva tanto para a prevenção quanto para melhores respostas ao tratamento do câncer de mama, afirmou o pesquisador que liderou a análise, Manasi Das, da Universidade da Califórnia (Estados Unidos).
Para o oncologista Daniel Gimenes, do Centro Paulista de Oncologia (CPO), unidade do Grupo Oncoclínicas em São Paulo, ainda é cedo, contudo, para assegurar a eficácia desse tipo de medida, já que ainda não há registro de resultados do teste em humanos. “Apesar de ainda tratarmos como uma hipótese, é fato que existem diferentes maneiras pelas quais a obesidade pode aumentar os riscos de câncer em mulheres. Essa nova pesquisa mostra que, assim como outros cientistas já vinham apontado, estabelecer uma janela de tempo reduzida para o consumo de alimentos é efetivo para manter os níveis de insulina do corpo baixos. Quando isso ocorre, as nossas células de gordura começam a queimar seu estoque de açúcar como fonte de energia. Assim começa a acontecer a perda de peso”, contextualiza.

Mas o especialista é enfático em afirmar que mais do que pensar em períodos adequados para o consumo de refeições, é imperativo o desenvolvimento de políticas públicas focadas em orientar a sociedade sobre hábitos alimentares pouco saudáveis, como ingestão de gorduras, açúcares e produtos industrializados em excesso. “Fast Food, salgadinhos de pacote, embutidos, refrigerantes e ultraprocessados em geral são os responsáveis pelo aumento da incidência de sobrepeso e obesidade entre a população nos mais diversos países, inclusive o nosso. Estes sim fatores que sabidamente elevam os riscos de incidência de câncer e devem ser diretamente evitados em todas as fases da vida e independentemente do gênero”, explica o Dr. Daniel.

75% da população mundial ignora relação entre sobrepeso e risco de desenvolver câncer
Uma outra pesquisa, realizada no final de 2016 pelo Cancer Research UK, do Reino Unido, constatou que três em quatro pessoas desconhecem a relação entre o excesso de peso e o diagnóstico de ao menos 10 tipos de câncer: esôfago, vesícula, fígado, pâncreas, rins, intestino, útero, ovário, mama e próstata.
O estudo destaca ainda que indivíduos de origem socioeconômica mais baixa e homens, em especial, representam a maior parte entre aqueles que desconhecem os riscos aumentados de desenvolver tumores em decorrência da obesidade e que este mesmo grupo tem o maior número de pessoas obesas.
No Brasil, segundo os dados mais recentes do IBGE, quase 60% da população está acima do peso. Considerando-se apenas os impactos na incidência de câncer, estimativas do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), indicam que pelo menos 15 mil dos casos de câncer registrados por ano no país – uma fatia que representa 3,8% do total – poderiam ser evitados a partir de medidas voltadas ao combate ao sobrepeso e à obesidade. Destes, 10 mil atingiriam mulheres e os outros 5 mil homens.
E essa é uma realidade que tende a evoluir de forma negativa: até 2025 serão 29 mil novos casos de câncer causados pelo excesso de peso (4,6% do total) segundo o estudo epidemiológico, feito em colaboração com a Harvard University (Estados Unidos) e publicado em 2018.

“A obesidade é a segunda maior causa evitável da doença, perdendo apenas para o tabagismo. E além do câncer, vale lembrar que problemas como diabetes, acidentes vasculares cerebrais (AVC) e doenças cardiovasculares podem ser evitadas a partir de medidas simples para controle desse excesso de quilos”, comenta o Dr. Daniel.
O oncologista do CPO reforça que manter uma alimentação equilibrada é a chave para a diminuição da progressão dos casos de câncer. “A dieta saudável é aquela que o indivíduo tem a orientação de um nutricionista ou nutrólogo e que tenha um cardápio composto de alimentos integrais, frutas, verduras, proteínas de carne branca, além de limitar o consumo de carne vermelha, carnes defumadas e processadas e a ingestão de bebidas alcoólicas”, finaliza o especialista.