Tudo começou com o “era uma vez”. Era uma vez uma cidade chamada Kaffa, localizada na Abissínia, hoje chamada Etiópia; tudo o que vamos contar aconteceu no século III depois de Cristo. As montanhas da Abissínia encostavam-se na amplitude do olhar dos homens, as árvores sempre solitárias adoravam o vermelhão do sol, parido dentro de um labirinto de fogo, os campos dobravam-se e desdobravam-se na imensidão dos espaços indeterminados, os macacos-gelada, ocupante das fendas dos rochedos, despertavam-se com a chegada do novo dia.
Nesse ambiente, um pastor de cabras chamado kaldi, testemunhou um acontecimento que, sem causar susto momentâneo, mudaria a vagareza da história. Todos os dias do mês e do ano, Kaldi pastoreava o seu rebanho nas proximidades do monte Kadir. Na quarta feira, dia da extração dos favos de mel nas margens do rio Tekezé, o pequeno pastor observou que as suas cabras, lentamente, contornaram a montanha Nabin. Desapareceram de sua vista por meia hora, no máximo. Retornaram saltitantes, alegres, felizes, balindo sem necessidade, baliam por puro prazer. O bode Tow cruzava com as cabras molecas, assumindo o status de reprodutor conscientemente erótico.
No dia seguinte, quando as cabras circundaram a montanha Nabin, o nosso jovem pastor as seguiu. As cabras procuraram um descampado, lindo para a alma, cheio de um arbusto repleto de frutinhas vermelhas. Seguindo os passos do bode Tow, o rebanho atacou as bolinhas vermelhas penduradas no ramo dos arbustos. Antes que as pettas batessem as assas na entrada dos ninhos, as cabras deram de pular, correr, balir, girar o corpo. O bode Tow deu de encostar nas cabras mais bonitas babando de amor e desejo.
Kaldi, tomado por um surto de curiosidade, colheu uma boa quantidade das frutinhas vermelhas, chupou-as, mordeu-as, engoliu-as, sentindo o gosto amargo, adocicado. Sem entender o fenômeno, sem encontrar uma pequena explicação, teve uma vontade louca de cantar, pular, chorar sem motivo aparente.
À noite, da mesma maneira de todos os dias, Kaldi recolheu o rebanho ao aprisco e foi ao mosteiro dos monges descalços onde dormia o seu merecido sono. Durante o jantar, o pastor narrou sua experiência com as frutinhas vermelhas.
Ao amanhecer do novo e seguinte dia, os monges orientados por Kaldi, colheram meio saco das tais frutinhas. Chegando de volta ao mosteiro, oraram por uma hora pedindo orientação, inspiração no tratamento das tais frutinhas. Considerando-as “coisas do maligno” resolveram queima-las.
Acenderam um braseiro num pequeno fogareiro de bronze, espalharam sobre as brasas as bolinhas, o perfume, o cheiro, a fragrância invadiram mosteiro. O monge Tian, o mais gordinho de todos as frades, meio alucinado, retirou do fogo as sementes torradas. Houve, na madrugada desbragada, um capítulo de monges, discutindo o que deveriam fazer com aquelas sementes torradas. Falaram, trocaram ideias, cruzaram pensamentos e, por fim, moeram-nas e fizeram uma infusão em água bem quente. Feita a infusão, beberam-na com gosto, finura, refinamento e muito prazer. Ficaram elétricos, bem humorados, corajosos, lúcidos, transbordantes de fé.
A notícia percorreu todas as moradias da Abissínia, Arábia, Índia, África. O arbusto e o seu fruto receberam o nome de Kaweh, significando, na região, aquilo que desperta a força. Outros, mais sigilosos internamente chamaram a infusão de Vinho da Arábia.
O sucesso quadruplicou a qualidade, o sabor, a paixão e os medos das chamadas frutinhas vermelhas. A Igreja, por volta do ano de 1400, nomeou-a de “bebida do diabo” e os bebedores foram classificados como os pecadores do último degrau da fé.
Em 1592, olhando para diversos caminhos e para o mar revelado pouco a pouco, o Papa Clemente VIII resolveu fazer as pazes com o café e a infusão aproximou-se de Deus.
No ano de 1727, o bandeirante Francisco Melo Palheta, viajou para a Guiana Francesa. Foi recebido por muitas autoridades, comerciantes, investidores do mercado negreiro. As 5 horas da tarde, a esposa do Governador Frances, madame D’Orvieliers, mulher linda e que se interessara pelo aventureiro brasileiro desde o início da recepção, o convidou para um passeio no quintal do palácio. As árvores vieram de países colonizados, muitas delas eram da Europa, mas o que chamou a atenção do bandeirante, considerando a beleza, o aroma, a elegância foi o arbusto chamado café, havia centenas e centenas deles.
O bandeirante procurou não tirar os olhos da esposa do governados; dispensou-lhe toda a sua atenção; com as mãos, no entanto, encheu os bolsos com grãos de café. Foi dessa forma que o saboroso café entrou em terras Brasileiras chegando, ao Vale do Paraíba, no ano de 1850, para transformar a arquitetura, a economia, a política, os senhores rurais em Barões, Viscondes, em donos de terra, casarões e gente.
Pudim de caféIngredientes:
Calda:
1 xícara(chá) de açúcar, ½ xícara(chá) de água quente
Pudim:
1 lata de leite condensado, 2 medidas da lata de leite, 3 ovos, 2 colheres de sopa de café solúvel.
Modo de preparo da calda:
Em uma panela derreta o açúcar até ficar dourado. Junte a água quente, mexa com uma colher e deixe ferver até dissolver os torrões de açúcar e a calda engrossar. Forre com essa calda uma forma com furo central (19 cm de diâmetro) e reserve
Modo de preparo do pudim:
Bata todos os ingredientes do pudim no liquidificador. Despeje na forma reservada, cubra com papel alumínio e asse em banho-maria, em forno médio ( 180 gs) por cerca de 1 hora e 30 minutos. Depois de frio leve para gelar por cerca de 6 horas. Desenforme e sirva a seguir.
Por Adriana Padoan