Certas histórias são tão clássicas que se tornam queridinhas de Hollywood. Quando atingem esse status, é muito comum que sejam reprisadas inúmeras vezes, de diferentes formas, por várias gerações. Grande parte dessas recorrências são devidas ao momento histórico que, geralmente, clama por uma revisita naquela narrativa que sempre se atualiza e traz algo novo a dizer atualmente. Outro bom motivo para reviver um clássico é quando alguém parece surgir predestinado a dar vida a um papel muito icônico que mereça ser trazido à tona. E é nessa situação que se encaixa Lady Gaga que, a cada faceta sua que revela, nos convence, cada vez mais, de que com o seu surgimento, nasceu uma estrela.
Essa é a quarta vez que a história de Nasce Uma Estrela é contada nas telonas. Estreando na direção, o ator Bradley Cooper assumiu essa versão para chamar de sua e participou de, praticamente, todas as etapas da produção. É facilmente perceptível que Cooper optou por uma direção classuda e precisa, extraindo o máximo dos atores em tela com planos bem fechados nos rostos para o melhor acompanhamento do drama real dos personagens, bem como ótimas escolhas de enquadramentos em cenas mais abertas. Além disso, os shows foram gravados de forma parecida com DVDs musicais, colocando em uma ótima mescla o público que assiste no cinema junto daqueles que estão acompanhando no palco. Aliado a uma montagem esperta, o filme passa uma impressão de correr com os acontecimentos no início, mas intercala muito bem as cenas entre Jack (Cooper) e Ally (Gaga), com um ótimo ritmo que, por vezes, acompanha as batidas das músicas de fundo. Apesar da pressa do primeiro ato, as coisas se encaixam ao decorrer da trama que se estabelece de vez no segundo terço do longa. A correria e euforia do início dão lugar para a calma e paciência que ajudam muito a desenvolver as camadas da narrativa. Alguns momentos se arrastam intencionalmente para causar desconforto proposital e, embora funcionem bem em evocar a angústia dos espectadores, trazem o revés da impressão de um filme muito maior que suas verdadeiras 2 horas e 17 minutos.
Ainda por grande mérito do diretor, o campo de maior destaque dessa nova versão de Nasce Uma Estrela é, sem dúvidas, o da atuação. Ao que tudo indicava, Lady Gaga já demonstrava ser a pessoa ideal para o papel. Atriz por formação, Gaga não poderia ter outra oportunidade melhor para ganhar os holofotes que ainda lhe faltavam: os olhares da Academia, bem como aconteceu com Barbra Streisand na versão de 1976 do mesmo filme. Não seria uma surpresa, após vê-la atuando nesse filme, que uma indicação ao Oscar de melhor atriz fosse dada a Gaga. Além da intensidade que entrega em cada segundo que está em tela, a cantora é capaz de, ao começar a cantar, arrepiar todo e qualquer ser vivo que esteja acompanhando a trama atentamente, fazendo jus à alcunha de “força da natureza” que vinha ganhando após as primeiras exibições do filme.
A esperteza de Bradley Cooper, porém, entra em cena mais uma vez. Apesar de Gaga roubar a cena, outro aspecto fica claramente notável no remake. A produção é vendida como um filme, basicamente, da Lady Gaga, mas, essencialmente, nunca deixou de ser, na verdade, uma obra voltada ao próprio produtor, diretor, escritor e protagonista. Cooper se aproveita para dar muita profundida ao seu personagem, insere camadas de personalidades que nos fazem simpatizar com ele e, mais que isso, torcer pela sua vitória diante dos seus demônios internos. A identificação com Jackson Maine é tão bem construída e desenvolvida, juntamente com sua relação de dependência com Ally, que tais fatores levam a um final duramente dramático e impactante. Além da representação excelente de Cooper, que deve render também, merecidamente, uma indicação ao Oscar, vale ressaltar o talento do ator em interpretar as músicas do longa, mostrando-se um verdadeiro e inesperado cantor. Músicas estas que, compostas por Lady Gaga, renderam um lindo álbum que cheio de hits dignos de serem ouvidos além da exibição no cinema.
Artisticamente impecável, a nova versão de Nasce Uma Estrela é daquelas obras que, com o perdão do trocadilho, já nasce para brilhar e, embora não traga novidades narrativas comparando as versões anteriores, apresenta sua história para uma nova geração com artistas pertinentes a nossa época. Consegue extrair o melhor de um roteiro simples e com poucos personagens, capaz, entretanto, de causar impacto em todos que assistem, seja pela intensidade do que tem a contar, seja pela excelência dos números musicais.
Nasce Uma Estrela
out 15, 2018Bruno FonsecaColuna de CinemaComentários desativados em Nasce Uma EstrelaLike
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