Apesar da redução ante os seis primeiros meses de 2021, número de óbitos vem apresentando tendência de alta nas últimas semanas
O número de mortes por Covid-19 no Brasil caiu 83,2% no primeiro semestre de 2022 em comparação com o mesmo período de 2021. Um levantamento realizado pela Agência CNN aponta que 311.890 pessoas morreram em decorrência da doença nos primeiros seis meses de 2021. No mesmo período em 2022, foram 52.360.
Para fins de comparação, nos primeiros seis meses de 2020 o país teve 59.594 mortes pela doença. Porém, naquele ano, a primeira morte por Covid no Brasil ocorreu no dia 12 de março.
A queda no número de mortes neste semestre pode ser explicada pelo aumento na quantidade de pessoas vacinadas ao longo da segunda metade de 2021 e dos seis meses iniciais deste ano.
Para Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor da Unesp, “a vacinação foi a única coisa que conseguiu tirar o Brasil do colapso de saúde no começo de 2021”.
À CNN, ele disse que a redução de mortes foi acontecendo “conforme a vacinação foi avançando nas diferentes faixas etárias”.
O infectologista Robson Reis, professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), considera que as vacinas foram importantes para reduzir a pressão sobre o sistema de saúde.
Até o momento, 83,89% da população elegível tomou a primeira dose da vacina e 78,20% recebeu a segunda dose. No que diz respeito à terceira dose, o número ainda não é considerado adequado, segundo especialistas ouvidos pela CNN.
No último levantamento, atualizado no dia 30 de junho, menos da metade dos brasileiros elegíveis (99.696.654 pessoas) para a terceira dose receberam o imunizante. A taxa está em 46,41%.
A taxa da quarta dose, ou reforço extra, recomendada pelo Ministério da Saúde para pessoas a partir de 40 anos, está ainda menor: 6,6% dos 14.181.002 indivíduos elegíveis receberam o imunizante.
O total de doses aplicadas no Brasil, até 1º de julho, é de 452 milhões. Em junho de 2021, o acumulado era de 100 milhões.
Naime Barbosa avalia que, mesmo com a chegada da Ômicron, no fim de 2021, a adesão às doses de reforço manteve as médias móveis de mortes estáveis neste início de 2022.
Mesmo com as contaminações pela doença aumentando desde maio deste ano, bem como o número de mortes, que tem crescido nas últimas semanas, a vacinação, sozinha, não pôde evitar o avanço da Covid. Porém, o total de mortes evolui em velocidade menor do que o de novas infecções. De maio a junho, o número de óbitos por Covid aumentou 49%. Já em relação às contaminações, no dia 22 de junho, o país tinha 171% mais casos do que há um mês.
Apesar de considerar o avanço nos casos como “expressivo”, o infectologista da EBMSP cita uma subnotificação. Reis aponta que o vírus não deixou de circular e que vários fatores colaboram para o aumento de infecções e de mortes pela doença, incluindo o período de inverno.
“Com o advento dos autoteste, esses números estão subnotificados. Por conta desse período de tempo frio, com maior aglomeração de pessoas, acaba favorecendo o aumento da transmissão”, disse Reis.
Ambos os especialistas também alertam para a baixa taxa de pessoas com o chamado esquema vacinal completo, além da flexibilização no uso de máscara em locais fechados e falta de um plano de atenção aos imunossuprimidos e pessoas com alguma comorbidade).
Reis destaca que a grande quantidade de subvariantes da Ômicron pode proporcionar um aumento da transmissibilidade, mas com redução do potencial de letalidade. “A Ômicron e suas subvariantes têm algumas mutações que fazem com que o vírus se torne menos letal. Mas elas acabam escapando da imunidade criadas pelas vacinas e, com isso, as pessoas acabam contraindo a doença”, avalia.
O professor da EBMSP destaca, que ainda assim, a vacinação, principalmente a dose de reforço, continua sendo essencial para garantir a imunidade, “que é perdida ao longo do tempo”.
Outro grupo afetado pelo coronavírus são as crianças que ainda não podem receber a vacina (abaixo de 5 anos). Um levantamento do Observa Infância, em parceria com a Fiocruz, mostrou que duas crianças nesta faixa etária morrem por dia no Brasil em decorrência da Covid-19.
Na avaliação do membro da da SBI, é preciso haver uma mudança no tratamento da doença com estratégia específica para pessoas com maior risco, incluindo urgência dos órgãos de saúde pública para acelerar o processo de imunização nas crianças.
A farmacêutica Pfizer informou que já prepara a documentação para solicitar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o aval para liberação da vacina contra a Covid-19 para bebês acima de 6 meses até crianças de 5 anos.
No início de junho, a Anvisa solicitou ao Instituto Butantan mais dados sobre a aplicação da vacina Coronavac em crianças de 3 a 5 anos.
Casos e óbitos por regiões
De acordo com dados das secretarias estaduais de saúde, a região que mais acumula casos e mortes por Covid é o Sudeste. São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, juntos, têm 321.685 vítimas da doença desde o início da pandemia. No que diz respeito às infecções, são 12.807.691 registros.
A segunda região que mais tem óbitos por Covid é o Nordeste com 129.576. Logo atrás vem Sul, com 105.830, o Centro-Oeste, com 63.977 e o Norte, com 50.348.
Em números de casos, atrás do Sudeste o Sul acumula 6.964.562 registros, seguido do Nordeste (6.415.802), do Centro-Oeste (3.617.102) e do Norte (2.552.861).
Olhando a incidência de casos por 100 mil habitantes, o Sul lidera com 23.233,8 infecções a cada 100 mil pessoas. Na taxa de mortalidade a cada 100 mil pessoas, o Centro-Oeste é o local que tem maior número: 392,6.
Para Naime Barbosa, metade da proteção é proveniente da vacina, mas é necessário discutir formas adicionais de proteção.
“A baixa taxa de pessoas vacinadas com a quarta dose significa acender um fósforo dentro de um tanque de gasolina. É necessário que haja um campanha de vacinação maciça incentivando a dose de reforço, o uso de máscara em locais fechados e uma estratégia de específica para o tratamento dos imunossuprimidos”, avaliou.
Segundo Reis, o comportamento da população é determinante para o manejo da pandemia. “Se a população não aderir à dose de reforço, nós devemos ficar nessa coisa de ondas [da doença]”, finaliza.