Para quem conhece Monteiro Lobato apenas pelos famosos personagens do Sítio do Picapau amarelo, não faz ideia de que, antes de dar vida a Pedrinho, Narizinho, Emília, Dona Benta e Tia Nastácia, o escritor desempenhou um papel ainda mais importante na história do país: ele foi um dos primeiros brasileiros a investir na extração de petróleo – e seria preso posteriormente por reivindicar esse direito. Para Lobato, o país tinha potencial para produzir todo o combustível necessário na época e manter-se independente do mercado estrangeiro.
Em 1927, o presidente Washington Luís nomeou o escritor adido comercial nos Estados Unidos. Em sua temporada norte-americana, Lobato acompanhou com bastante interesse as inovações tecnológicas e industriais daquele país e ficou convencido de que o progresso norte-americano era um fruto de investimentos em ferro, petróleo e transportes. Logo, ele acreditava que o Brasil deveria desenvolver políticas de desenvolvimento semelhantes para seguir os mesmos passos dos americanos. Já em 1928, após visitar a fábrica da General Motors, Lobato decidiu erguer uma empresa para produzir aço em terras tupiniquins. Nesse meio tempo, Julio Prestes surgia como sucessor de Luís nas eleições de 1930 e recebeu o apoio do escritor, diretamente de Nova York, pois ele acreditava que deveria haver continuidade administrativa para que fosse adotava uma política desenvolvimentista semelhante à dos EUA. Ainda que Prestes tenha sido, de fato, eleito, ele não chegou a exercer o cargo em virtude da Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, o candidato derrotado. Ao tomar posse de maneira forçada, Getúlio ganhou rapidamente a antipatia de Lobato.
O escritor voltaria ao Brasil em 1931, quando se tornaria defensor ferrenho de investimentos em petróleo, ferro e estradas como pilares do desenvolvimento nacional, criando a Companhia Petróleos do Brasil, uma empresa privada de capital aberto que vendeu 50% de suas ações em apenas quatro dias. O sucesso das ações possibilitou ao escritor criar outras quatro empresas: Companhia Petróleo Nacional, a Companhia Petrolífera Brasileira e a Companhia de Petróleo Cruzeiro do Sul, e a Companhia Mato-grossense de Petróleo. Contudo, Getúlio não reconhecia a existência de petróleo no Brasil, uma vez que essa afirmação era atestada por empresários brasileiros, pois eles acreditavam que, houvesse mesmo petróleo no país, as petrolíferas americanas já teria descoberto. Lobato, por sua vez, não estava apenas convicto da existência de petróleo no Brasil, como também suspeitava que os americanos já trabalhavam no mapeamento das áreas petrolíferas.
Ao ter sua empresa frequentemente sabotada por órgãos governamentais e submetida a intervenções infundadas e desnecessárias por motivos dos mais banais – acabando por obter provas de suas suspeitas sobre a ação estrangeira na prospecção de petróleo no país -, Lobato resolveu escrever, em 1935, uma carta ao presidente Vargas. No texto, ele apontou as dificuldades impostas pelo Ministério da Agricultura em relação às atividades de suas companhias e ainda denunciou confidencialmente as atividades da filial argentina da Standard Oil Company no país, que incluía a corrupção de fiscais do Serviço Geológico Nacional. Ao ser ignorado oficialmente, Lobato publicou o livro “A Luta Pelo Petróleo”, no qual denunciava o Serviço Geológico Nacional, órgão oficial encarregado das pesquisas, e acusava o governo de não tirar o petróleo e não permitir que outros o fizessem.
A existência do petróleo só é confirmada pelo governo federal em 1936, quando eles decidem explorar um poço no município de Lobato, na Bahia. No ano posterior foi criado o Conselho Nacional do Petróleo (CNP), resultando na primeira iniciativa responsável por regular e estruturar a exploração de petróleo. Havia, na época, uma disputa entre empresários e ideais nacionalistas, divulgados pelo governo getulista, sobre a exploração petrolífera no país. Uma alteração de última hora no decreto-lei que instituiria o CNP passou a considerar patrimônio da União todas as jazidas de petróleo em solo brasileiro, inclusive as ainda não encontradas.
O escritor foi preso em 1941, pelo general Horta Barbosa, após criticar duramente, através de outra carta endereçada a Getúlio, a política brasileira de exploração de minérios. Neste mesmo ano, foi descoberto o primeiro poço de exploração comercial, em Candeias, na Bahia, o que permitiu ao governo avançar na prospecção de petróleo no país. A partir da promulgação da Constituição de 1946, intensificou-se o debate relacionado ao petróleo. O presidente Dutra defendia uma política econômica liberal, de abertura ao capital estrangeiro. Isso representava abrir mão da exploração do petróleo brasileiro para os interesses das multinacionais. Mas, até aquele momento, o Brasil não possuía uma empresa de cunho nacional com o capital e a tecnologia necessários para a exploração de petróleo. Foi quando Dutra enviou ao Congresso um projeto de lei denominado “Estatuto do Petróleo”, que revoltou os nacionalistas, dando origem à campanha “O Petróleo é Nosso!”, que não só impediu a tramitação do Estatuto no Congresso, como também contribuiu para o estabelecimento do monopólio do petróleo e finalmente para a criação da Petrobras.