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sexta-feira 25 outubro 2024
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Millennium: A Garota na Teia de Aranha

Eis que, finalmente, a tardia sequência de Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres vê a luz do dia. Sete anos distante do original, A Garota na Teia de Aranha chega sem seus principais destaques, uma vez que perdeu todo seu elenco e equipe técnica, sendo quase um reboot ainda que continue a história iniciada em 2011.
A atmosfera fria e densa, passagem de tempo meticulosa e cuidados com roteiro eram os responsáveis por toda a magia do filme anterior. Se por um lado tínhamos David Fincher na direção em 2011, agora temos Fede Alvarez, configurando a possível maior perda nessa comparação entre os longas. Fincher é um diretor excepcional e com forte marca em seus trabalhos, com estilo todo próprio. Já Alvarez talvez tenha muito mais a mostrar em um projeto mais autoral, onde não precise tentar emular os feitios de Fincher. A fotografia aqui é bonita. Os contrastes, contraluz e até alguns planos, que conseguem ser inventivos, contribuem para o visual do longa. Nas cenas de ação, porém, Alvarez se rende ao comodismo da câmera na mão com ar caótico de filmes essencialmente do gênero, o que não parece condizer exatamente com a série Millennium, que outrora apresentou premissa mais investigativa, contradizendo os outros instantes de mais sobriedade na direção.
Talvez o roteiro seja outro quesito que não ajudou no resultado final da obra. Dessa vez, o foco é muito maior em Lisbeth Salander, interpretada por Claire Foy que até causa estranheza ao início pela mudança em relação ao filme anterior, em que Rooney Mara dava vida à personagem, mas compensada por uma boa e esforçada atuação. Em seu parceiro, porém, temos o elo mais fraco do longa. Anteriormente, Daniel Craig empunha uma presença de tela marcante para o personagem, que tinha vida própria dentro da história. Desfavorecido pelo roteiro, Mikael Blomkvist foi dado para o ator Sverrir Gudnason que não apresenta nada da fisicalidade de Craig e pouco contribui para o desenvolvimento como um todo. Aliás, Blomkvist é um repórter investigativo que nada tem a investigar, já que, com as facilitações do enredo, todos os mistérios em potencial são desvendados logo na cena a seguir, tirando completamente o peso de suas possíveis complexidades e dando um ar de afobação à projeção, sem tempo de deixar seus espectadores tirarem suas próprias conclusões ou ao menos tentarem.
Verdade seja dita, A Garota na Teia de Aranha não é ruim e até se esforça para alcançar patamares mais altos no gosto da crítica. Entretém, não sufoca e apresenta história interessante, ainda que rasa e se renda a alguns clichês. Seu maior problema de aceitação seria, então, sua maldição das continuações que partilham da mesma dificuldade: superar ou, ao menos, manter a qualidade do anterior. Como falha nesse quesito, sua queda de rendimento acaba soando como fracasso inevitável.