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domingo 24 novembro 2024
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Meu filho não sai do celular, o que fazer?

Brincar na rua, pular corda, soltar pião, jogar bolinha de gude, andar de carrinho de rolimã, soltar pipa…. Ah, as brincadeiras da infância! Que tempo bom! Para quem foi criança na década de 70 como eu, essas eram algumas das opções que a criançada tinha para se divertir. Apesar dos horrores que o país vivia, o nosso mundo era mais ou menos assim: brincar na rua, subir quando a mãe chamava, ir à escola, assistir TV… Hoje, fico imaginando se a nossa geração não foi a última a viver esse “dolce far niente”.

O fato é que com o advento da internet e dos dispositivos eletrônicos e inteligentes a vida mudou — e mudou rápido demais! Tão rápido que não deu tempo de nos prepararmos para essa geração que já nasce com o celular na mão! Aliás, as maternidades mais modernas já oferecem aos pais o acompanhamento em tempo real da chegada do herdeiro para os familiares e amigos. Sim, são novos tempos!

Pais e filhos estão vivendo esse novo momento na sociedade, mas (como tudo que é novo) isso gera medo. Afinal, como lidar com essa avalanche de tecnologia que invade os nossos lares e os quartos dos nossos filhos trazendo o melhor e o pior do mundo para eles? Como garantir que eles vão ter uma infância saudável, alegre e cheia de amigos? Dá para lutar contra toda essa modernidade e os riscos que ela traz para a saúde física e mental dos nossos filhos? Dá para protegê-los das baleias azuis e das Momos?

Sinceramente, não sei se existe uma receita pronta para isso, mas acredito que mesmo pertencendo a um outro século ou época, cabe aos pais orientar os filhos a terem bom senso e equilíbrio em tudo na vida, inclusive na forma como utilizam essas novas ferramentas tecnológicas. A proibição do uso de celulares e tablets, na minha opinião, é uma perda de tempo e energia tanto para pais como para os educadores, mas isso é assunto para outro texto.
Como educadora e mãe de dois filhos que já são adultos, a minha sugestão é que os pais estabeleçam limites no uso desses aparelhos. Nunca entendi bem por que uma criança que está na educação infantil precisa ter um celular de última geração! Agora, no momento em que a criança começa a ter outras atividades fora de casa além da escola e já tem alguma autonomia para andar sozinha, aí sim, o celular pode ser uma opção bastante útil para que elas possam manter os pais ou responsáveis informados. Agora, se são os pais que levam e buscam na escola todo dia, pra que celular? Se acontecer alguma coisa mais grave, a escola fará o contato com os pais e vice e versa. Já tive turmas de crianças de 10, 11 anos em que os pais ficavam mandando mensagens perguntando se estava tudo bem! Além de atrapalhar a aula, ainda distraía a criança. Totalmente desnecessário!

Nunca me esqueço do dia em que atendi um casal de pais numa escola de horário integral onde dava aulas. Eles chegaram muito preocupados com as notas do filho, que estava quase perdendo o ano. Era um menino tranquilo, mas passava a manhã toda dormindo na sala ou estava sempre meio desligado, aéreo. Perguntei aos pais como era a sua rotina quando chegava da escola e eles disseram que ele jantava e ia para o quarto jogar. Quando perguntei até que horas, os pais não souberam responder, porque eles iam dormir, “pois tinham tido um dia cansativo”. O problema começava nesse momento: o menino ia para o quarto, não incomodava ninguém, mas passava a noite jogando. De manhã, acordava às 6 horas para entrar às 7h30 no colégio e ficar até as 18h. A minha sugestão foi pedir aos pais que retirassem a TV e o computador do quarto do menino e que estipulassem um horário para que ele desligasse o celular e o entregasse aos pais. Isso seria mantido até que as notas melhorassem. O remédio foi amargo, mas rendeu bons resultados e o pequeno recuperou as notas, conseguindo finalizar o ano. Claro que cada caso é um caso, mas nessa situação específica, a participação dos pais foi fundamental para que a criança não saísse prejudicada.

Um ótimo parâmetro para os pais saberem como estipular o tempo de uso de celulares e outros aparelhos é se basear na idade da criança. Ou seja, quanto menor a criança, menos tempo de celular, mais atividades variadas e, se possível, ao ar livre, para enriquecer os sentidos, ver o que está acontecendo ao seu redor e participar disso. Já vi muitos bebês passeando de carrinho no parque num dia lindo de sol, mas com um tablet quase do tamanho deles preso na frente do carrinho passando desenho animado! A minha pergunta é se essa é uma necessidade da criança ou dos pais? O passeio pode ser um excelente momento para pais e filhos aproveitarem um tempo de qualidade entre eles, observando o trajeto e aprendendo coisas novas. Sendo assim, nada de tablets nesse momento, por favor!
Agora, à medida que a criança for crescendo, estabeleça o tempo de uso desses aparelhos e, se eles já forem capazes de entender, explique os motivos, mas lembrando que a última palavra é de vocês, os pais. Combine horários e faça valer o que ficou decidido. Fique atento à hora de dormir das crianças. Elas vão tentar driblar as regras, mas cabe a vocês manterem o que foi combinado. “Ah, mas eles vão insistir, chorar, dizer que é só mais um pouquinho! O que a gente faz?” Nada! Já diz o ditado: o combinado não é caro. Se for período de aulas então, nem pensar em deixar os pequenos acordados pela madrugada afora correndo o risco de dormirem na sala de aula no dia seguinte! No caso das férias, pode haver uma flexibilidade maior, mas não permita que as crianças passem a madrugada jogando! As crianças precisam de no mínimo 8 a 10 horas de sono de qualidade para se desenvolverem bem. Com isso em mente, siga em frente! Vocês estão fazendo o melhor por eles!

Mas lembre-se de deixar outras opções de atividades para a criança fazer como jogos, livrinhos, caixa de lápis, massinha, papel, filmes, desenhos, artesanato, etc. Ter outras opções ajuda bastante e facilita a interação familiar.

Os tempos são novos e outros e todos, pais e filhos, precisamos encontrar formas de usar os novos recursos tecnológicos com equilíbrio, tirando o melhor dessas ferramentas que estão à nossa disposição.

Autora: Maristela Gripp é professora da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter, doutora em estudos linguísticos e pós-graduada em psicopedagogia.