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sexta-feira 3 janeiro 2025
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Memórias de Taubaté: uma outra história contada

O mês de Maio carrega diversas datas importantes, não só para Taubaté, como para o restante do Brasil. Uma delas é o famoso 13 de Maio, o dia da Abolição da Escravatura, no ano de 1888, sendo o nosso, o último país a decretar liberdade aos africanos e afrobrasileiros que ainda viviam em condição de subordinação e escravização aqui no país. Uma informação importante é que em Taubaté, a abolição chegou meses antes, no dia 4 de Março, por uma série de motivos políticos. Válido ressaltar também que, com base em dados do tráfico atlântico de escravizados, só no início do século XIX, desembarcaram, no Cais do Valongo (um importantíssimo porto do Rio de Janeiro), mais de um milhão de centro-africanos para compor esse sistema violento e desumano que foi a escravidão. Esses centro-africanos foram distribuídos por todo o Vale do Paraíba e, inclusive, chegaram em massa aqui em Taubaté.

Além do 13 de Maio, outra data importante é comemorada neste mês: o dia do Divino Espírito Santo. A festa para saldar o Divino costuma acontecer após 50 dias à Páscoa, e esse grande evento é bastante documentado nos acervos do jornal “O Taubateense” (disponível para pesquisas no Museu Histórico e Pinacoteca da cidade), do século XIX. O que boa parte da população não sabe é que essas festas católicas eram realizadas também por africanos e afrobrasileiros. É importante lembrar e entender a participação dessas pessoas na nossa sociedade e assim, quem sabe, consigamos um dia parar de relativizar como escravizado, todo negro que viveu no Brasil antes de 1888, tendo em vista que muitos conseguiram sua liberdade anos antes da Abolição (mesmo que fossem essas condições, extremamente precárias). As coroações de rainhas e reis congos aconteciam nestes festejos, acompanhado das Folias, Moçambiques, Congados e rodas de Jongo nas madrugadas.

Como entoou um folião, integrante do Moçambique de Taubaté e Jongueiro Sidnei Rodrigues, “da vara nasceu a flor, da flor nasceu encanto, do encanto nasceu Maria e de Maria, o Divino Espírito Santo!”, o culto ao Divino é encantado e nas entrelinhas notamos filosofia africana e catolicismo juntos, proseando. É esse o olhar sensível que devemos ter sobre nós mesmos, o povo brasileiro: uma constante conversação entre culturas, que segue resistindo por séculos dentro das comunidades reinadeiras, de folias, jongueiras, etc. Para finalizar, existe mais uma questão necessária, que requer nossa atenção: o cristianismo chega lá na África Central, no famoso Reino do Congo, antes de sonhar em chegar no Brasil! É do século XV em diante que muitos centro-africanos se converteram ao catolicismo, a maioria por conta própria, sem pressão ou qualquer tipo de obrigação.

O mês de Maio é resistência e festa! Viva o Divino Espírito Santo! Viva o povo brasileiro! Viva Taubaté!

Prof. Maria Eduarda R. Brasil