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domingo 22 dezembro 2024
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Luluzinha completou 80 anos

Ela foi a primeira criação dos quadrinhos a provar que, ao contrário do que prega o Clube do Bolinha, menina não apenas entra, mas se destaca dos demais em qualquer segmento.

Muito tempo antes de a Mônica surgir mostrando a força que as mulheres também têm nos quadrinhos, outra menina de vestido vermelho e personalidade forte veio ao mundo.

Criada pela cartunista norte-americana Marjorie Henderson Buell (1904 – 1993) – ou simplesmente Marge -, Luluzinha (Little Lulu, no original) estreou em uma charge publicada no jornal The Saturday Evening Post, dos Estados Unidos, no dia 23 de fevereiro de 1935.

No início, ela era um garota espevitada, traquina, sempre criando alguma confusão. Durante dez anos, essa foi a característica que a marcou. E sempre protagonizando charges de um ou, no máximo, dois painéis, escritas e desenhadas por Marge.

Isso só mudou em 1945, quando a pequena Lulu foi para a Western Publishing (sob o selo Dell Comics), estrelou dez edições de Four Color até ganhar seu próprio gibi bimestral, em 1948, e passou a viver histórias em quadrinhos de várias páginas.

Com roteiros de John Stanley, que também dividia os desenhos com Irving Tripp – e, ao longo dos anos, muitos outros roteiristas e desenhistas -, Luluzinha foi mudando o visual, ganhou diversos coadjuvantes (Bolinha, Aninha, Alvinho e outros) e se tornou a menina esperta, segura e decidida que lhe rendeu fãs mundo afora.

Durante estes 80 anos, ela foi título de séries de desenhos animados – incluindo um animê -, álbuns de figurinhas, livros de prosa e até filmes live-action.

Nada mau para uma personagem que foi criada por encomenda do The Saturday Evening Post para substituir outra atração do jornal, o garoto Pinduca, que havia mudado de syndicate (distribuidora de tiras) e estava de saída. Por esse motivo, Luluzinha herdou dele o espírito arteiro e as cenas “mudas” da fase inicial de Marge.

Os quadrinhos

A primeira revista em quadrinhos da Luluzinha foi editada nos Estados Unidos até 1984, trocando de selo três vezes – além da Dell, o gibi estampou na capa a Gold Key e a Whitman Comics, todas ligadas à Western.
Curiosamente, a personagem só estreou nas tradicionais tiras de jornal seis anos depois dos gibis: no dia 31 de dezembro de 1951, ela chegou ao Chicago Tribune. No entanto, há uma controvérsia quanto a essa data, pois uma reportagem do jornal, em 1952, dizia que Luluzinha havia estreado no periódico em 5 de junho de 1950, possivelmente porque os painéis múltiplos – formando charges separadas – que compunham as primeiras publicações de Lulu no jornal foram consideradas tiras.

Seja como for, a partir dali a fama de Luluzinha se espalhou rapidamente – apesar de que ela, havia muito tempo, já era uma marca de sucesso que estampava diversos produtos de licenciamento. Vários jornais, nos EUA e em outros países, passaram a publicar as tiras produzidas pelo Chicago Tribune, criadas por artistas como Roger Armstrong (ex-desenhista do Pernalonga e dos Flintstones), mas sob a assinatura de Marge.

Foram publicadas até 1969.

Sucesso no Brasil
Luluzinha aportou nas revistas em quadrinhos do Brasil em 1955, pela editora O Cruzeiro. Os gibis eram em formato magazine, de poucas páginas, e seguiram pelas bancas até 1973, sempre reiniciando a numeração de capa a cada ano.
Quando foi para a Editora Abril, em julho de 1974, Lulu deu início à sua fase de ouro no País. Ganhou edições especiais, almanaques temáticos e um título mensal que durou até 1993.

Em meados dos anos 1980, com o fim das HQs inéditas da personagem nos Estados Unidos, a Abril passou a criar aventuras próprias para a Luluzinha (com roteiro e arte de quadrinhistas que fizeram história nos quadrinhos Disney do Brasil, como Primaggio Mantovi), compondo o mix do gibi com as republicações.

Ainda em 1993, a revista foi substituída por outra que a unificava com o gibi do amigo gorducho da menina. Assim, Lulu e Bolinha e, depois, As melhores histórias de Luluzinha e sua turma, seguiram até 1995, com apenas seis e dez edições publicadas, respectivamente.

Somente em 2006 Lulu e seus amigos retornaram aos quadrinhos no Brasil. Graças à Devir, que começou a publicar álbuns especiais em preto e branco, com material da Dark Horse, editora norte-americana que começara a reeditar as HQs da personagem nos EUA, em ordem cronológica.

A grande surpresa veio em 2009, quando a Pixel Media resolveu transformar toda a trupe da Luluzinha em uma versão adolescente, nos moldes de Turma da Mônica Jovem. A editora passou a criar aventuras em que Lulu, Bolinha, Glória, Plínio e muitos outros personagens clássicos se tornaram jovens, na série Luluzinha Teen e Sua Turma.

Na revista, eles viviam na cidade de Liberta e, entre um drama ou outro típico da idade, enfrentavam perigos e protagonizavam romances (como a da própria Lulu com o Bolinha). O título durou até o # 65, de março de 2015.
Mas desde 2011 a Pixel vinha mantendo nas bancas o gibi mensal Luluzinha, que republicava as HQs clássicas da personagem, além de eventuais edições especiais de luxo, também contendo aventuras dos velhos tempos da criação máxima de Marjorie Henderson Buell. Infelizmente, chegou ao fim no início deste ano.

Mesmo sem levantar a bandeira da emancipação feminina ou outro libelo feminista, Luluzinha se tornou, de fato, um marco para as mulheres. Não apenas por ter sido criada por uma mulher, numa época em que os cartunistas homens imperavam, mas pela personalidade e atitudes inspiradoras.

Parabéns a essa octogenária que nunca deixou de ser criança.