Responsável por amedrontar crianças através de gerações, a fábula da melancólica mulher veio de uma história bastante trágica
Em banheiros espalhados por escolas de todo o Brasil, crianças e adolescentes encaram os espelhos com um olhar amedrontado. Afinal, eles acabaram de falar o nome da Loira do Banheiro, chamando-a apesar do receio, apenas para verificar se a lenda é real.
São gerações e mais gerações de brasileiros que, com o passar dos anos, tentaram encontrar a mulher assustadora escondida entre as cabines dos banheiros nas escolas. Seja com uma camisola, descalça ou com algodões nas narinas, ela pouco apareceu.
Relatos, no entanto, foram feitos dezenas de vezes ao longo do tempo. Mas uma pergunta permanece quando pensamos sobre a mulher angustiada. De onde ela surgiu? Qual foi a real origem da lenda que, até hoje, assusta crianças em banheiros escolares?
A narrativa local
Tudo começa no município de Guaratinguetá, localizado no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, em um dos principais boatos de colégios do Brasil tem um embasamento histórico capaz de arrepiar os mais crédulos.
A lenda da tal “Loira do Banheiro” chegou a ser atribuída na cidade interiorana desde a construção da Escola Estadual Conselheiro Rodrigues Alves, que utilizou o prédio de um antigo visconde para as instalações. Passado por gerações, a lenda urbana se iniciou na região atribuindo uma história assombrada pela família do empresário.
Nela, o Visconde de Guaratinguetá forçou a filha, identificada pela revista Superinteressante como Maria Augusta de Oliveira Borges, a se casar com apenas 14 anos de idade, em 1880. Tal decisão, motivada pela diplomacia do município, era para arranjar uma relação mais estreita com a família do futuro marido da filha.
A narrativa local diz que o interesse foi concretizado com sucesso, mas teria incomodado a garota, que decidiu roubar as joias da família do marido para obter fundos e, por fim, fugir para Paris, aos 18 anos, mesmo sem amigos ou conhecimento do local.
Apesar de conseguir escapar do relacionamento e se instalar na Europa, a má-administração das finanças resultou em gastos de Maria em bailes da alta sociedade parisiense, como explicou o UOL. Contudo, ela teria falecido oito anos depois de sua chegada, aos 26 anos de idade.
A lenda fúnebre
Ao saber da notícia, a família brasileira financiou o traslado do corpo por navio. O caixão, todavia, acabou sendo violado por ladrões, que tomaram conhecimento dos itens de luxo que a garota usava, furtando joias e, durante tal processo, sumindo com o atestado de óbito. Dessa maneira, os parentes nunca souberam o motivo do falecimento precoce.
De acordo com o G1, outras narrativas locais dizem que, durante o processo de construção de seu túmulo no Cemitério dos Passos, o corpo teve de ser armazenado na mansão do Visconde por cerca de três semanas — e, durante esse período, teria ficado exposto em uma redoma de vidro para os cidadãos do município.
“Ninguém sabe do que ela morreu até hoje. Chegando aqui, ficou na casa [hoje a escola estadual Conselheiro Rodrigues Alves] em uma redoma de vidro, onde as pessoas diziam que tinham visto ela pedindo para sair da redoma, que ela não podia ficar lá. O corpo ficou na redoma enquanto faziam o túmulo dela no Cemitério dos Passos em Guaratinguetá. Por isso nasceu a lenda. De que ela saiu da redoma e desde então anda pela casa”, explicou Liane Pellegrine, então professora da sala de leitura da escola Conselheiro Rodrigues Alves, em 2015, ao G1.
Histórico da lenda
O conhecimento popular sobre a morte misteriosa da garota, relacionado a outras lendas da mansão — como espelhos quebrando e gritos —, chamaram atenção a partir de 1902, quando a mansão virou a escola, abrigada até hoje no prédio.
Por lá, a lenda de que uma mulher, semelhante a Maria, que assombrava um dos banheiros e surgia no espelho ao ser citada três vezes, ganhou vida.
Dessa maneira, a narrativa foi disseminada por toda a região e expandindo com a adaptação da norte-americana Bloody Mary — ou a espanhola Verônica, muitas vezes associada ao Diabo —, que tem o mesmo preceito de ser chamada no banheiro ou com chutes no vaso sanitário, mas não há origem atribuída.