Autores destacam controvérsias sobre a versão oficial de que a cidade teria sido a pioneira na libertação dos escravos no Estado de São Paulo e falam do movimento, na década de 1970, para reconstruir a cidade, atingida pelas águas do Reservatório de Paraibuna, cujo núcleo inicial teve como fundadora Maria Leite Galvão de França, irmã de São Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro, juntamente com seu marido Francisco Ferraz de Araújo.
Seria mesmo Redenção da Serra a primeira cidade a libertar seus escravizados no Estado de São Paulo e a segunda no Brasil? Como era a antiga cidade e quais os seus costumes? Como foi mudar a cidade de um lugar para o outro por causa da construção do Reservatório de Paraibuna, sem a ajuda do governo da época? Que impactos isso trouxe para os seus moradores?
Essas e muitas outras perguntas sobre a história de Redenção da Serra, até então sem respostas fundamentadas em fatos ou documentos oficiais, que agora prometem ser esclarecidas com o lançamento neste sábado, dia 23 de novembro, do livro “Redenção de Todos os Tempos – 164 anos de História”.
O livro é de autoria da professora Ana Néri do Carmo de Faria e do jornalista João Carlos de Faria, ambos nascidos na cidade, onde vivem, contrariando a tendência de boa parte da população, principalmente os jovens, que migram para outras cidades da região ou mesmo para a capital paulista, em busca de melhores oportunidades. Por outro lado, na época da mudança da cidade, a população do município reduziu em mais de 25%.
A proposta dos autores é resgatar e registrar fatos sobre os quais até hoje nada havia sido escrito, mas eles ressalvam que o livro não é “da história de Redenção”, mas “sobre a história de Redenção”.
Eles contam ainda que a obra é um “legado para os redencenses, que pouco tiveram acesso a essas informações e muito pouco sabem sobre a história da sua cidade, que tem como uma das fundadoras, Maria Leite Galvão de França, irmã de São Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro.”
Uma das revelações polêmicas da obra é a constatação de que, ao contrário do que sempre se divulgou, Redenção da Serra não é a primeira cidade do Estado de São Paulo e nem a segunda no Brasil, a dar liberdade aos escravizados antes da assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888.
A libertação dos escravizados no município realmente aconteceu três meses antes da Lei, em 10 de fevereiro de 1888, com a assinatura da “Carta da Ponte Alta”, documento subscrito por dez fazendeiros locais – entre eles apenas uma mulher – reunidos na Fazenda Ponte Alta, hoje pertencente ao município de Natividade da Serra. Ou seja, os fazendeiros locais realmente tomaram essa atitude, mas depois que isso já havia ocorrido em outros locais, no Estado e no Brasil.
“O fato é que em Ribeirão Preto, a libertação ocorreu em 03 de agosto de 1887 – seis meses antes de Redenção – e em Rio Claro, isso aconteceu em 05 de fevereiro de 1888 – cinco dias antes. Por isso Redenção, na verdade, conforme constatamos, foi pioneira, mas apenas no âmbito do Vale do Paraíba, onde Pindamonhangaba libertou seus escravizados em 25 de fevereiro de 1888 e Taubaté, em 4 de março de 1888”, explica a professora Ana Néri, que fez a maior parte da pesquisa.
A obra também conta como foi a saga da população de Redenção da Serra, quando no início dos anos 1970, o cerco apertou com o final da construção da barragem de Paraibuna e as águas do reservatório começaram a subir, sem que o governo do Estado indicasse qualquer possibilidade de reconstruir a cidade, que era o desejo dos redencenses.
“O governador da época, Laudo Natel, não queria isso. A intenção era deslocar a população para algum bairro de Taubaté e dividir a área remanescente do município com os municípios vizinhos. Foi uma luta muito grande para que se tornasse possível a cidade continuar existindo e isso se deve aos políticos da época, quando situação e oposição se uniram por um bem comum, mas principalmente ao esforço do povo”, ressalta o jornalista João Carlos de Faria.
No evento de lançamento, que será às 14 horas do próximo sábado, dia 23 de novembro, haverá, além da tarde de autógrafos, uma roda de conversa sobre o tema “Redenção, lugar de paisagem”, com o chefe da Casa do Patrimônio do Vale do Paraíba do Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional (IPHAN), Dr. André Bazanella; da professora Dra. Rachel Duarte Abdala, docente do curso de História e dos Programas de Mestrado em Desenvolvimento Humano e em Educação da Universidade de Taubaté (Unitau), além de Ana Néri do Carmo de Faria e João Carlos de Faria, autores do livro.
SERVIÇO
Lançamento do livro “Redenção de Todos os Tempos – 164 anos de história”
Data: 23 de novembro de 2024
Horário: 14h
Local: Câmara Municipal de Redenção da Serra